A conversão do Apóstolo São Paulo

No século 13 o bem aventurado Tiago de Vorágine, dominicano e bispo de Gênova, escreveu uma obra chamada Legenda Áurea, ou Legenda dourada. A palavra latina “legenda” significa “coisas que devem ser lidas”, ou alguma coisa que é objeto de leitura. A Legenda é a explicação dos ofícios celebrados durante o ano litúrgico. Um capítulo da obra é dedicado à conversão do Apóstolo São Paulo.

Logo de início ele diz que Jesus foi crucificado no dia 8 das calendas de abril (25 de março), Santo Estevão foi apedrejado no dia 25 de agosto do mesmo ano, e Paulo se converteu no dia 8 antes das calendas de fevereiro, isto é, no dia 25 de janeiro. Ele mesmo se pergunta por que celebramos a conversão de São Paulo antes da conversão de qualquer outro santo? E responde dando as seguintes razões:

A primeira, para o exemplo. Vendo aquele que foi tão culpado em sua falta tornar-se depois tão grande pela graça, ninguém deve perder a esperança do perdão, por mais pecador que seja.

A segunda, para a alegria. A Igreja sentiu grande tristeza por causa da perseguição feita por Paulo. Que ela sinta o mesmo tanto de alegria por sua conversão.

A terceira, pelo milagre. O Senhor transformou o bárbaro perseguidor no mais fiel pregador. Sua conversão foi de fato milagrosa da parte daquele que a fez, da parte daquilo que a envolveu, e da parte de quem se converteu.

Quem fez a conversão foi Jesus Cristo, que assim mostrou:

1º Seu admirável poder, quando lhe disse: “Duro te é recalcitrar contra o aguilhão” (At 26,14), o que significa “Não adianta resistir”; e quando fes com que ele mudasse tão repentinamente e respondesse: “Senhor, que quereis que eu faça?” (At 22,10). Santo Agostinho faz aqui um comentário: “O Cordeiro morto pelos lobos mudou o lobo em cordeiro; já se prepara para obedecer aquele que antes estava cheio do furor do perseguidor”.

2º Sua admirável sabedoria, pois abateu o inchaço de seu orgulho, inspirando-lhe a pequenez da humildade e não os esplendores da majestade. “Sou eu, diz ele, o Jesus de Nazaré que tu persegues”. Um comentarista acrescenta: “Ele não diz que é Deus, ou mesmo o Filho de Deus; aceita, pois, a sua humildade e despoja-te das escamas com as quais teu orgulho te cobre”.

3º Sua extraordinária clemência; Deus provoca a sua conversão no momento mesmo em que ele estava sendo perseguidor. De fato, embora com um afeto desordenado, pois ele só respirava ameaças de morte, embora se entregasse a projetos criminosos, pois foi procurar e envolver o sumo sacerdote, embora estivesse fazendo um ato culpável, quando foi procurar prisioneiros para levá-los a Jerusalém, tornando assim detestável o objetivo de sua viagem; contudo, esse pecador é convertido pela divina misericórdia.

Essa conversão foi também miraculosa da parte do que a envolveu, isto é, a luz. De fato, essa luz foi repentina, imensa e veio do céu. “Subitamente uma luz vinda do céu o envolveu de claridade”, diz a Escritura (At 9,3).

A esta altura de seu escrito, o bem-aventurado Tiago de Vorágine diz que Paulo tinha três vícios. Primeiro, a audácia. Os Atos o confirmam: “Ele foi procurar o sumo sacerdote” e um comentarista acrescenta: “Ninguém o tinha contratado. Ele age por si mesmo. É seu zelo que o impulsiona”. O segundo é o orgulho, e a prova estão nestas palavras «Ele respirava ameaças de morte» (At 9,1). O terceiro é a inteligência carnal que ele tinha da Lei.

A luz foi repentina, para dar um choque nesse audacioso; ela foi imensa, para afundar esse altivo, esse soberbo, nas profundezas da humildade; ela veio do céu para tornar celeste essa inteligência carnal. Esse prodígio dispôs de três meios: 1º A voz que chama; 2º A luz que brilha; e 3º a força todo poderosa.

Tiago de Vorágine, completa seu escrito sobre a conversão do Apóstolo São Paulo mostrando como ela foi milagrosa também da parte de quem se converteu, isto é, do Apóstolo. Três milagres aconteceram exteriormente na pessoa de Paulo: sua queda, sua cegueira e seu jejum de três dias, pois ele caiu para ser levantado do estado de enfermidade em que jazia.

Cônego Celso Pedro da Silva

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