A paz é fruto da justiça

Recentes pesquisas mostram que uma das maiores preocupações das pessoas, em nosso tempo, diz respeito à segurança. Nossas cidades estão-se tornando cada vez mais violentas. A violência gera medo e insegurança. O medo, esse verme que corrói o coração por dentro, toma conta de muitos. Quando o medo domina, a paz desaparece. Em época de eleições, os candidatos, demonstrando conhecer bem quais são os grandes anseios da população, prometem que, uma vez eleitos, tornarão a vida de todos mais segura.

Não se garante uma vida mais segura pelo simples aumento do número de policiais, de armas ou de detenções. A segurança é fruto da paz e “a paz é fruto da justiça”, segundo ensinava o profeta Isaías, uns sete séculos antes de Cristo (Is 32,17). Ao adotar sua afirmação – “A paz é fruto da justiça” – como lema da Campanha da Fraternidade deste ano, a CNBB quer que nosso olhar se volte tanto para a Quaresma quanto para a sociedade. Para a Quaresma que, como tempo de conversão, deve fazer nascer em nós e na comunidade compromissos à luz do Evangelho. Se não assumirmos os valores que Jesus nos veio trazer, como esperar uma sociedade mais justa e solidária?  Nosso olhar deve voltar-se, também, para a sociedade, porque a convivência entre as pessoas está ficando cada vez mais difícil. Deus nos dá seus dons, mas não nos isenta de nossa responsabilidade – em outras palavras, Ele nos dá as sementes; cabe-nos plantá-las em terreno preparado e cultivá-las, para que produzam frutos. Também a paz é dom e cultivo.

A partir dos valores que Jesus nos veio ensinar, somos chamados a mostrar que outra sociedade é possível – isto é, uma sociedade envolvida pela cultura da paz. A Campanha da Fraternidade de 2009 pretende, antes de tudo, promover em nosso país um grande debate sobre a segurança pública. A Igreja não tem respostas técnicas para os problemas que desafiam nossa sociedade; tem, sim, uma força moral capaz de suscitar uma grande reflexão sobre a segurança pública, envolvendo os meios de comunicação social e as universidades, os grupos bíblicos e as famílias.

Os objetivos específicos da CF 2009 podem ser assim resumidos:

  • Desenvolver nas pessoas a capacidade de reconhecer as conseqüências da violência em sua vida pessoal e social, para que assumam sua própria responsabilidade.
  • Denunciar as injustiças na vida pública e nas prisões.
  • Demonstrar que uma das causas da violência é a negação dos direitos das pessoas.
  • Trabalhar para transformar o modelo punitivo do sistema penal brasileiro, a fim de que de vingativo se torne educativo.
  • Favorecer a criação e a articulação de redes sociais populares e de políticas públicas, com vistas à superação da violência e de suas causas e à difusão da cultura da paz.
  • Desenvolver ações que visem à superação das causas e dos fatores de insegurança.
  • Multiplicar ações solidárias em favor das vítimas da violência.
  • Apoiar as políticas governamentais valorizadoras dos direitos humanos.

“A paz é fruto da justiça. Todo ato de injustiça e desamor é pecado e fonte de violência. A violência sempre aparece quando é negado à pessoa aquilo que lhe é de direito, a partir de sua dignidade, ou quando a convivência humana é direcionada para o mal. A violência nega a ordem querida por Deus” (Texto Base da CF 2009, 197).

Deus nos criou por amor e para o amor. Fomos criados à Sua imagem e semelhança. Ora, Deus é amor. Só no amor nos realizaremos. Se esta Campanha da Fraternidade conseguir envolver nosso País com essa certeza, certamente atingirá seus objetivos – isto é, estará colaborando decisivamente para a construção de uma paz duradoura.

Dom Murilo Sebastião Ramos Krieger

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