Bispo da República Centro-Africana partilha suas experiências com bispos do Brasil

A tarde desta terça-feira, 17 de abril, foi marcada pela presença dom Juan Aguirre Munhoz, bispo espanhol que há 38 anos trabalha como missionário comboniano na República Centro-Africana (RCA). Atual bispo da Diocese de Bangassou, ele partilhou um pouco da sua experiência num dos países mais perigosos do mundo e com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mais baixo do planeta.

“Vivo num país grande, o coração da África. Estou vivendo com as pessoas mais vulneráveis que comem uma única vez por dia. A frase ‘isto não gosto’ não existe, porque se fica muitas horas sem comer. O governo centro-africano controla apenas 20% do país, enquanto os outros 80% estão nas mãos das 14 pessoas mais ricos do país”, disse Dom Aguirre.

A RCA vive num conflito permanente entre milícias rivais. A Séléka, composta por muçulmanos, e os anti-Balaka, compostos por cristãos e animistas. A situação fica ainda mais complicada porque os cristãos sofrem perseguições constantes. “Em 2013 o grupo islâmico fundamentalista Séléka invadiu o país. Estamos numa Igreja perseguida. São criminosos armados”, ressaltou.

As comunidades e os religiosos missionários são frequentemente confrontados por criminosos de todos os tipos, que estão saqueando, destruindo e devastando os bairros. O país está efetivamente nas mãos de mercenários. Mas não somente católicos, outros povos também são perseguidos. “Em maio cercaram e queimaram todo um bairro muçulmano e cerca de dois mil muçulmanos tiveram que se esconder. A mesquita deles foi toda destruída”, contou.

Os padres da Diocese de Dom Aguirre estão escondendo esses muçulmanos e com isso arriscando suas próprias vidas. O ódio e a intolerância religiosa são crescentes.

“Temos de estender a mão da amizade para aqueles que nos atacaram, porque é o que a Igreja faz. Infelizmente, em meio a tanta violência, fomos obrigados a enterrar numa sepultura comum dezenas de pessoas de diferentes religiões, e que finalmente se uniram novamente, em paz”, afirmou Dom Aguirre numa entrevista para a Assessoria de Imprensa da “Ajuda à Igreja que Sofre”, uma agência católica alemã, que vem financiando projetos na República Centro-Africana.

Ao mostrar uma foto da Catedral de Bangassou aos bispos na Assembleia, o bispo de Bangassou lembrou cultos públicos ali são proibidos. “Não podemos abrir a Igreja porque há pessoas que nos impedem de rezar”.

Dom Aguirre visita a Assembleia dos Bispos do Brasil e traz um pedido do seu povo: “Peço a oração de vocês. Já sofri dois infartos. Em Bangassou estou ameaçado de morte. Quando eles me ameaçam, eu retorno com um sorriso. Por isso, venho em nome do meu povo pedir a vocês as orações”. No fim, em meio a uma realidade triste, Dom Juan Aguirre deixa uma mensagem de esperança. “Nos roubaram tudo, menos a fé”.

Padre Andrey Nicioli

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