Dom Murilo S.R. Krieger
Arcebispo de Salvador 

 

A Sexta-feira Santa foi uma experiência frustrante para os apóstolos. Com a morte de seu Mestre na cruz, morriam também suas esperanças de uma vida diferente. Eles não apenas haviam abandonado aquele a quem tinham seguido de perto por três anos, como, nos últimos momentos de vida do Mestre, deixaram-se levar pela mentira e pela covardia. As perspectivas, então, não eram as melhores: eles deveriam voltar para a vida de antes, levando consigo somente as lembranças de um tempo que foi bom enquanto durou.

Poucos dias depois, surpreendentemente, encontravam os apóstolos reunidos numa sala. Não pareciam os mesmos: o clima dominante era de alegria e otimismo. Ao falarem de seu Mestre, não se referiam a um morto, mas a alguém que estava vivo. Mostravam-se até capazes de morrer por ele e de dar a vida para anunciar seus ensinamentos.

O que aconteceu entre o momento da crucifixão no Calvário e o nascimento dessa alegria? Como compreender tão rápida e profunda transformação? O que modificou o ânimo desses apóstolos, para que passassem do desânimo total ao entusiasmo contagiante?

Qualquer um deles poderia responder com as palavras que o apóstolo Paulo escreveria mais tarde: “Cristo morreu por nossos pecados, foi sepultado, ressuscitou ao terceiro dia” (1Cor 15,3-4). Não há, nesse texto, a preocupação por detalhes, nem mesmo o gosto pelo espetacular. Há um anúncio que passaria a ser o centro de sua pregação: Cristo ressuscitou!

Com a ressurreição de Cristo e, posteriormente, com a vinda do Espírito Santo, os apóstolos compreenderam o Evangelho. Descobriram que acreditar em Jesus Cristo significava deixar-se envolver por ele. “Se Cristo não ressuscitou, é sem valor a vossa fé”, proclamará Paulo. E, com muita propriedade, acrescentará: “Se é somente para essa vida que esperamos em Cristo, somos os mais miseráveis de todos os homens” (1Cor 15,17-18).

As primeiras comunidades cristãs acreditaram que a mensagem de Cristo era verdadeira porque o Crucificado havia vencido a morte. Sabiam que, se isso não tivesse acontecido, as gerações posteriores teriam para recordar apenas uma série de pensamentos e gestos, que poderiam prender a atenção de muitos, mas que seriam incapazes de levar milhões de pessoas a assumir sua causa.

Para as comunidades cristãs de hoje, a ressurreição de Jesus é uma certeza e um apelo. A certeza: o Ressuscitado está vivo em nosso meio, acolhendo todos os que aceitam ser transformados por ele. O apelo: “Se ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus” (Cl 3,1).

Quando os apóstolos fizeram a experiência do ressuscitado, não guardaram para si o que haviam descoberto: correram para contar a outros o que tinham acabado de viver. Qual a reação dos discípulos de Jesus, na Páscoa deste ano de 2018?…

 

 

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