Depois da Conferência de Aparecida, a Igreja da América Latina já sabe que está sendo chamada para a missão. Falta encontrar os caminhos. O próximo Congresso Missionário, a se realizar neste próximo mês de agosto em Quito, no Equador, promete indicar rumos mais concretos para a “missão continental”, sugerida com generosidade em Aparecida, mas indefinida quanto a formas e conteúdos adequados para responder aos desafios que se apresentam hoje para a Igreja em nosso continente.

A Diocese de Jales viveu nestes dias uma experiência intensa de missão, que aponta para algumas dimensões que, sem dúvida, precisam fazer parte do projeto missionário a ser assumido daqui para a frente.

Trata-se da “semana missionária”, desta vez realizada nas periferias da cidade de Fernandópolis. E’desde 1995, quando foi realizado o Congresso Missionário em Belo Horizonte, que a Diocese vem realizando sucessivas “semanas missionárias”, que continuam produzindo bons frutos de evangelização, e oferecendo preciosas lições que vão sendo recolhidas para servirem de referência segura para o novo plano diocesano de pastoral que está sendo aos poucos definido.

A “semana missionária”, desde o início, tem sua característica assinalada pelo envolvimento de toda a diocese. As atenções se voltam para uma região do seu território. Lá se fazem presentes os padres, as irmãs, e um batalhão de missionários e missionárias leigas, junto com o bispo diocesano, com a disposição de visitar todas as casas, os estabelecimentos comerciais e industriais, as diversas entidades, as instituições. Procura-se levar uma presença amiga, de diálogo, de reflexão. Cria-se um contexto favorável para a abertura de fé, que pode se expressar pela leitura do Evangelho e uma oração de bênção, de acordo com as circunstâncias. Busca-se uma atitude de escuta e de diálogo com as pessoas, procurando se evitar toda forma de proselitismo religioso.

As reiteradas experiências vem indicando algumas dimensões que podem desenhar o perfil da “missão permanente”, a ser integrada como componente constante da ação evangelizadora a ser levada adiante por toda a diocese.

Em primeiro lugar, a importância da presença junto às famílias, indo ao seu encontro, batendo à sua porta, e chegando de maneira gratuita, sem nenhum intuito de censurar ou de forçar adesões eclesiais.

Disto decorre também a importância do clima de diálogo, na procura de compreender as situações vividas hoje pelas pessoas, possibilitando que elas possam desabafar angústias ou ressentimentos.

Junto com o diálogo emerge a atitude de respeito, que evita julgamentos precipitados, e deixa a porta aberta para ulteriores contatos que a comunidade é chamada a colocar em sua agenda.

A presença faz sentir a necessidade da Igreja se fazer próxima, colocando-se mais ao alcance do povo, seja na organização dos seus serviços comunitários, como também no seu linguajar e na sua comunicação.

Este clima permite, com muita freqüência, a evocação direta do Evangelho de Cristo, que mostra melhor sua validade quando incide sobre situações bem concretas vividas pelas pessoas.

As visitas às instituições despertam o espírito de solidariedade para enfrentar os muitos desafios sociais. O reconhecimento dos esforços feitos, seja através de entidades comunitárias, ou de políticas públicas, abre espaço para a válida contribuição da Igreja, que na verdade lhe confere credibilidade e apreço. Na medida que a Igreja demonstra comprometimento com as causas sociais, passa a ser olhada com respeito, e a tem sua identidade mais definida e reconhecida.

Não param aí as observações que a diocese vai colhendo. Mas estas já servem para indicar que a missão não se reduz a uma atividade esporádica, nem é alheia à sua identidade. Ao contrário, na medida em que a Igreja se volta para a missão, encontra nela sua realização verdadeira. E’ na missão que a Igreja reconhece sua verdadeira identidade.

A verdadeira face da Igreja vai sendo desenhada pelo cumprimento de sua missão.

Dom Luiz Demétrio Valentini

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