Dignidade humana e direitos humanos

Dom Orlando Brandes

Dez de dezembro é o dia dos direitos humanos. O fundamento do direito é a dignidade da pessoa. Com o nascimento de Jesus em Belém e com sua morte e ressurreição, a dignidade humana recebeu maior fundamentação e valorização. Vejamos os diversos graus dessa dignidade.

  1. A dignidade da criatura humana. Toda criação é uma revelação do amor de Deus, é sacramento de sua sabedoria, bondade, beleza e providencia. “O homem é a criatura que Deus quis por si mesma” (G. Spes 24). Enquanto criatura de Deus, o ser humano, recebe a missão de submeter a terra, dar o nome aos animais, crescer. Deus criou criadores. Somos parceiros de Deus, irmãos uns dos outros, amigos de nós mesmos, zeladores do cosmos. Eis a lei natural, nossa original dignidade na criação: “Vós sois deuses”. Cabe à criatura adorar, respeitar, servir e colaborar com o Criador. O salmo 8º reza a grandeza da criatura humana.
  2. A dignidade humana enquanto imagem e semelhança de Deus. Mais que criatura a pessoa é imagem e semelhança de Deus. Isso tudo significa: ser amigo de Deus, estar aberto ao infinito. A pessoa enquanto imagem de Deus goza de igual dignidade independentemente da cor, sexo, idade, raça. A dignidade pessoal é o bem mais precioso que o ser humano tem. É um valor em si e por si. Nunca pode ser objeto, coisa, instrumento. É uma propriedade indestrutível porque significa a unicidade, a irreptibilidade e a inviolabilidade da pessoa. Por isso, “o homem é o caminho da Igreja”. Onde está a pessoa ali deve estar a Igreja, servindo-a. “todos os caminhos da Igreja levam ao homem” (João Paulo II).
  3. A filiação divina e a dignidade humana. Pelo batismo somos “filhos no Filho”. Deus é nosso pai, Jesus nosso irmão. Fomos resgatados por um alto preço: o sangue do filho de Deus. A filiação divina é a mais alta condecoração que a pessoa humana recebe. É o mais alto grau de dignidade. Assim, somos consangüíneos de Jesus, irmão uns dos outros, herdeiros de Deus. A pessoa em sua totalidade é moradia, casa, habitação de Deus. Ainda mais, o batismo faz dos filhos e filhas de Deus, verdadeiros sacerdotes, profetas e reis. “Reconhece oh cristão, a tua dignidade” (Leão Magno). Eis o que faz de nós e por nós o amor de Deus. Resulta disso tudo que a pessoa humana não pode ser aviltada, prostituída, excluída, discriminada e muito menos passar fome. Na revelação cristã a pessoa humana e os direitos humanos recebem uma incomparável dignificação.
  4. A dignidade humana e a fé na ressurreição. A pessoa não só é imortal, mas destinada a viver plenamente no convívio com o Deus da vida. O céu, a vida em plenitude, a total realização, o vértice da evolução, a perenidade do amor, do bem, da verdade, é o que chamamos de ressurreição. Eis o coroamento da dignidade humana. A pessoa se apossa da felicidade, da luz, da paz e viverá na fruição de Deus e na mais completa comunhão humana. A glória de Deus, o face a face, é o máximo que a pessoa pode alcançar, ou seja, ver, amar e louvar a Deus na mais completa felicidade e confraternização, que é a comunhão dos santos. O amor jamais acabará. A vida não é tirada, mas transformada e a pessoa coroada e entronizada no fim que não terá fim, no dia sem ocaso. “Vem e toma posse do reino”. (Mt 25,34).
  5. A dignidade humana e a  vocação à santidade. Ser chamado à santidade significa ser chamado à auto-superação, ao crescimento, à maturidade no bem, na verdade e no amor. É a perfeição do amor. Quanto mais santo é alguém, mais humano e rico em humanismo. Ser santo é buscar o “mais”, o melhor, o alto, o que é louvável e digno. Santificação é um processo de elevação e dignificação do ser humano. A vocação universal à santidade é um desdobramento da dignidade humana por força da graça no seguimento de Jesus, o homem perfeito. A cristologia é uma verdadeira antropologia. Antes da criação do mundo Deus nos quis santos e imaculados no amor. a santidade é o esplendor da nossa filiação divina e irradiação da dignidade humana.

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