Ignorar as Escrituras é ignorar Cristo

Dom Edney Gouvêa Mattoso
Bispo de Nova Friburgo (RJ)

Caros amigos, a pastoral da Igreja, neste mês que iniciamos, dedica sua reflexão à Bíblia e propõe inúmeras iniciativas com a finalidade de instruir melhor os fiéis sobre a Palavra de Deus e de motiva-los a uma maior intimidade com os textos sagrados, reconhecendo nas Escrituras um lugar de encontro com o Senhor.

A motivação para a escolha de setembro como o mês da Bíblia se deve ao fato de a Igreja celebrar no dia 30 a memória do grande santo e doutor da Igreja, São Jerônimo. Um Padre, teólogo e tradudor que dedicou sua vida à interpretação e tradução dos textos sagrados para a língua latina. Comentou-a em suas obras e sobretudo empenhou-se em vivê-la concretamente na sua longa existência terrena (cf. Bento XVI, Audiência Geral, 07 nov. 2007). O testemunho de sua vida, certamente nos ensina amar a Palavra de Deus na Sagrada Escritura.

Ao meditarmos sobre o lugar que a Palavra de Deus ocupa em nossas vidas e sobre os desafios do seu anúncio no mundo de hoje, é preciso ter claro que individualismo é um risco muito presente em nossa sociedade, fruto de uma vida interior fechada nos próprios interesses e sem espaço para o encontro. Assim, o homem contemporâneo fecha o coração para o amor de Deus e para o entusiasmo de fazer o bem aos irmãos (cf. Evangelii Gaudium, 2).

Diante de um mundo que apresenta uma imagem de Deus cada vez mais descartável e alheio à vida do homem, se faz urgente redescobrir o valor do encontro pessoal e comunitário com Cristo e sua Palavra; abrirmos o coração ao Deus que fala aos homens como amigos, que convive com eles e lhes comunica o seu amor (cf. Dei Verbum, 2). Somente por meio deste encontro o homem poderá ser resgatado do subjetivismo e da indiferença (cf. Evangelii Gaudium, 8).

São palavras de Jerônimo: “Ignorar as Escrituras é ignorar Cristo”. Esta sentença, sem dúvida alguma, reforça a força viva que emana dos livros sagrados. Estes contêm a Palavra de Deus, que é sempre atual e eficaz (cf. Hb 4,12). Por outro lado, quando nos relacionamos com a Bíblia apenas como um livro de história, ou pior, um livro de ciência, esvaziamos toda a sua vitalidade, tornando-a um texto do estéril.

A Igreja, porém, ensina que “a Escritura não pertence ao passado, porque seu sujeito, o Povo de Deus inspirado pelo próprio Deus, é sempre o mesmo e, portanto, a Palavra está sempre viva no sujeito vivo” (Verbum Domini, 86). Auxiliados pelo Espírito Santo e conduzidos pela Tradição e pelo Magistério, tomamos consciência de que nas páginas das Sagradas Escrituras está a Palavra de um Deus que se dirige pessoalmente a nós.

Importante ainda lembrar que “mesmo sendo sempre uma palavra pessoal, é também uma Palavra que constrói comunidade, que constrói a Igreja. Por isso, devemos lê-la em comunhão com a Igreja viva” (Bento XVI, Audiência Geral, 07 nov. 2017).

A Bíblia é, por assim dizer, um lugar de encontro: com Deus que tudo criou e conduziu no seu infinito amor; com o sentido da existência humana; e com todos os homens que se reconhecem na dignidade de Filhos de Deus.

A Palavra Deus nos foi dada para ser vivida! A verdadeira veneração à Palavra se dá no seguimento a Cristo. O fato de carregamos um livro, ou colocá-lo em destaque em nossos lares não tem sentido se não é expressão de nossa adesão incondicional a Cristo.

Durante este mês dedicado à Bíblia, busquemos firmar uma nova relação com a Palavra de Deus. No dia-a-dia, individualmente ou em família, nos esforcemos por encontrar um pouco de tempo para ler e meditar a Sagrada Escritura, a fim de que seja força para a vida cristã, solidez da fé, alimento da alma e fonte pura e perene de vida espiritual (cf. Catecismo, 131).

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