Meio ambiente: responsabilidade de todos

Dom Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre (RS)

 

A tradição judaico-cristã exorta o ser humano a “cultivar e guardar” o jardim do mundo (Gn 2,15). “Cultivar” implica lavrar, trabalhar o terreno. “Guardar” significa proteger, cuidar, preservar, velar. Isso implica uma relação de reciprocidade responsável entre o ser humano e a natureza. Para o Papa Francisco, “cada comunidade recebe da bondade da terra aquilo de que necessita para a sua sobrevivência, mas tem também o dever de protegê-la e garantir a continuidade da sua fertilidade para as gerações futuras.”

É preciso repensar modelos de desenvolvimento que desconsideram o cuidado para com a casa comum e os parâmetros de sustentabilidade. Não se pode transgredir o justo equilíbrio que sustenta o convívio entre seres humanos, plantas e animais.

O território brasileiro é rico pela diversidade da fauna e da flora. A “terra adorada”, como cantada no Hino Nacional, necessita de cuidado e proteção. A exploração e a gestão dos recursos naturais demandam ética, responsabilidade social e fiscalização. É tarefa do poder público regular e fiscalizar com determinação, sem demonizar quem disso se ocupa. Mas não só! Urge somar os melhores esforços para elaborar novas formas de economia e finanças, cujas práticas e regras estejam voltadas ao progresso do bem comum, sejam respeitosas da dignidade humana e expressem cuidado para com a casa comum.

A gestão e proteção ambiental representam um desafio a todos que se preocupam com as condições necessárias para deixar o mundo um pouco melhor para as futuras gerações. Requerem contínuo acompanhamento técnico e medidas socioeducativas.

O cuidado e a proteção do meio ambiente expressam respeito à vida das pessoas e do planeta. O apregoado desenvolvimento sustentável não pode ser promotor de devastação e morte.

Nestes dias, não só Minas Gerais chora o desastre de barragens em Brumadinho. O Brasil está de luto! O que ali ocorreu não foi acidente nem desastre natural. Foi, sim, expressão contundente de um poder que destrói e mata.

A gestão e a exploração dos recursos naturais, dos quais o território brasileiro é rico, necessitam de políticas ambientais sérias e controle rígido. Também a imprensa e a sociedade possuem o dever e o direito de monitorar comportamentos danosos de atores econômicos.

Não se pode compactuar com formas de exploração dos recursos naturais que gerem pobreza, sofrimento e morte. Não se pode transcurar a índole da pessoa humana possuidora de uma índole relacional e uma racionalidade em perene busca de um ganho e de um bem estar que sejam integrais, não reduzíveis a uma lógica de consumo ou aos aspectos econômicos da vida (cf. Oeconomicae et pecuniariae questiones).

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