No dia de Santa Bakhita, papa encoraja luta contra o tráfico humano

“São Crianças! Não escravos!” é o slogan do Dia Mundial de oração e reflexão contra o tráfico de pessoas deste ano

Neste 8 de fevereiro, a Igreja faz memória de santa Josefina Bakhita, uma irmã do Sudão que, quando criança, foi vítima de tráfico humano. A celebração motiva o Dia Mundial de oração e reflexão contra o tráfico de pessoas, promovida desde 2015 pela União Internacional das Superioras e dos Superiores Gerais (UISG/USG). Neste ano, o convite é para que sejam lembrados meninas, meninos e adolescentes vítimas do tráfico. “São Crianças! Não escravos!” é o slogan escolhido para a ocasião.

A coordenação do Dia Mundial de oração e reflexão contra o tráfico de pessoas é assumida pela rede mundial da vida consagrada Talitha Kum, que luta contra o tráfico e reúne organizações parceiras para a promoção da jornada. São oferecidos materiais para vigílias e iniciativas de divulgação da temática.

Apelo do papa

Na audiência geral desta quarta-feira, dia 8 de fevereiro, o papa Francisco encorajou as pessoas que, de algum modo, ajudam os menores escravizados e abusados a se libertarem desta opressão. “Auspicio aos que têm responsabilidade de governo que combatam com decisão esta chaga, dando voz aos nossos irmãos mais pequeninos, humilhados em sua dignidade. É preciso fazer todo esforço para debelar este crime vergonhoso e intolerável”, disse. 

Lembrando da santa africana, que foi traficada para ser escrava, Francisco ressaltou que, mesmo explorada e humilhada, não perdeu a esperança e levou adiante a fé e acabou por chegar como migrante na Europa, onde sentiu o chamado do Senhor e se fez freira. “Rezemos Santa Josefina por todos os migrantes, refugiados, explorados que sofrem tanto, tanto”, convidou o potífice.

Em sua fala, o papa também pediu uma oração especial pelos rohingya, grupo étnico expulso de Mianmar. “Vão de um lugar a outro porque ninguém os quer. Não são cristãos, mas são nossos irmãos e há anos sofrem, torturados, assassinados, simplesmente por levarem avante sua tradição e a fé muçulmana. Rezemos por eles”, rogou Francisco recitando um Pai-Nosso com os fiéis.

Crianças, não escravos

O material preparado pela rede Thalita Kum para a vigília do Dia Mundial de oração e reflexão contra o tráfico de pessoas apresenta uma fala do papa Francisco no dia 8 de fevereiro de 2015, quando, por ocasião do Angelus, recordou santa Bakhita e conclamou os católicos a sentirem-se “comprometidos com a voz de nossos irmãos e irmãs, humilhados em sua dignidade”.

O subsídio ainda oferece um trecho da Mensagem do pontífice por ocasião do Dia Mundial do Migrante e do refugiado deste ano – cuja temática foi “Crianças e Adolescentes Migrantes, vulneráveis e sem voz” – e uma palavra do arcebispo de Manilla, nas Filipinas, cardeal Luis Antonio Tagle, que preside a Caritas Internationalis. 

Alguns dados são importantes para contextualizar a realidade para qual a jornada deste ano quer chamar atenção. De acordo com as últimas estatísticas oficiais da Organização das Nações Unidas, um terço das vítimas do tráfico são crianças. O número de pessoas traficadas que são menores de 18 anos, está constantemente aumentando-se no mundo inteiro. Segundo dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), existem no mundo 168 milhões de crianças que trabalham, destas, 85 milhões são empregadas em trabalhos perigosos, como fábricas de vestuário, de fósforos e cigarros laminados à mão. A agricultura é o setor onde mais se encontra trabalho infantil, revelam os dados, cerca de 98 milhões de menores.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unifef) aponta para o número de uma em cada dez meninas com menos de 20 anos que já foram submetidas em algum momento de suas vidas a ter relações sexuais forçadas ou outros atos sexuais contra a sua vontade. O organismo da ONU revela que existem 2 milhões de crianças sujeitas à prostituição e que todos os anos, milhões de crianças em todo o mundo são igualmente exploradas sexualmente, na prostituição ou na pornografia, a maioria enganadas e obrigadas pela força à esta situação, com falsas promessas e pouco conhecimento dos riscos.

Trabalho em rede

Na Audiência Geral, no Vaticano, estava presente um grupo da rede Talitha Kum. A coordenadora desta rede é a irmã Gabriella Bottani, que adquiriu sua experiência neste campo sendo missionária no Brasil. No país, o tráfico assume inúmeras conotações, sendo as mais conhecidas para exploração laboral e sexual. O Setor Pastoral da Mobilidade Humana da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) favorece ações no combate ao tráfico, como a Campanha da Fraternidade de 2014 e a articulação do Grupo de Trabalho sobre o Enfrentamento ao Tráfico Humano

Com informações da Rádio Vaticano e foto da AFP

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