Em Mileto, Paulo mandou algumas pessoas a Éfeso para chamarem os Anciãos da Igreja. Quando chegaram, ele lhes disse: “Vocês sabem como me comportei desde o primeiro dia em que pus os pés na Ásia, enquanto enfrentei dificuldades por causa dos complôs dos judeus (At 20,17-19b). Agora, acorrentado pelo Espírito, vou a Jerusalém, sem saber o que acontecerá (20,22). Até o dia de hoje sou inocente do sangue de todos. Não deixei de anunciar toda a vontade de Deus. Cuidem de vocês e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo os estabeleceu como guardiães, para apascentar a Igreja do Senhor que ele adquiriu para si por seu próprio sangue” (20,26-28) Tendo dito isso, ajoelhou-se e rezou com todos eles (20,36).
Depois que nos separamos, navegamos em linha reta para Cós, e no dia seguinte para Rodes, Pátara e Mira. Encontramos um barco que ia para a Fenícia. Embarcamos e nos fizemos ao mar. Passamos por Chipre deixando-a a nossa esquerda; seguimos para a Síria e desembarcamos em Tiro, onde o navio devia ser descarregado (21,1-3). Concluída a navegação, fomos de Tiro para Ptolemaida. Saudamos os irmãos e ficamos um dia com eles. Partimos no dia seguinte para Cesaréia, e entramos na casa do evangelista Filipe, que era um dos Sete, e que tinha quatro filhas que profetizavam (21,7-9). Elas disseram a Paulo para não subir a Jerusalém (21,4b). Quando ouvimos isso, nós e os do lugar pedimos a ele que não subisse (21,12). Como não se deixou convencer, ficamos quietos dizendo: “Que se faça a vontade de Deus”. Depois de alguns dias, nos despedimos (21,14-15a). Chegamos a Jerusalém. Os irmãos nos receberam com alegria (21,17b).
Quando ficou decidido que embarcaríamos para a Itália (27,1a), fomos a Sidon (27,3a) e de lá, navegando sob o vento de Creta, chegamos a Bons Portos, perto de uma cidade. Muitos dias já se tinham passado, até mesmo o Dia do Jejum (Yom Kippur), e a navegação se tornava perigosa; Paulo então aproximou-se e disse: “Gente, estou vendo que a viagem se fará com muito esforço e com muita perda não somente para a carga e para o barco, mas também para as nossas vidas (27,7b-10). A maioria, porém, foi de opinião que se devia seguir viagem. Costeamos a ilha de Creta, com um vento do sul soprando levemente. Mas desencadeou-se do sudeste um vento de tempestade (27,12a-14). No dia seguinte, como o barco estava sendo muito sacudido, jogamos a carga no mar. A tempestade continuou durante muitos dias, e o sol e as estrelas não brilharam, a ponto de perdermos toda esperança de vida (27,18-20). Éramos cerca de setenta pessoas (27,37). Era grande a falta de alimento e, então Paulo se pôs de pé e disse: “Vocês deviam ter confiado em mim e não ter saído de Creta em viagem e assim ter evitado todo esse esforço e essa perda. Agora eu os aconselho e ter coragem porque nenhum de nós perderá a vida (27,21-22a). Temos que ser arremessados a alguma ilha (27,26). O barco corria sob o vento e chegamos a uma ilha chamada Gaulos (27,15-16), e aí ficamos (27,17b). Os bárbaros nos receberam (28,2) e nos cobriram de honrarias (28,10a). Embarcamos num navio alexandrino que havia passado o inverno na ilha (28,11). Chegamos a Roma e os irmãos, ficando sabendo, vieram ao nosso encontro (28,14b-15a).
Assim termina o Diário de Viagem. Nos Atos dos Apóstolos, as passagens “nós”, descritas com a participação de quem está escrevendo, se apresentam em três seções. A primeira se encontra na segunda viagem missionária de Trôade até Filipos, com a conversão de Lídia e a cura da escrava que tinha o espírito de Piton (At 16,9-17). A segunda marca todas as etapas da viagem de Filipos a Jerusalém (At 20,5-21-18). A terceira conta a viagem de Cesaréia a Roma sob a guarda de um centurião romano (27,1-28,16). Nesta última seção percebe-se que Lucas juntou duas viagens, uma em estilo “eles” e outra em estilo “nós”. Na viagem em estilo “nós” Paulo viaja como pessoa livre, em companhia de alguns irmãos, enquanto na outra ele viaja sob a custódia de um militar romano. Este dado e diversos outros dão a entender que os redatores serviram-se das informações do Diário, e com outras informações, compuseram o relato dos gestos de Paulo nos Atos dos Apóstolos.