Cardeal Odilo P. Scherer
Arcebispo de São Paulo

Na celebração de Pentecostes recordamos especialmente a ação do Espírito Santo na nossa vida e na vida da Igreja. Embora Ele conte com a nossa participação, sua ação vai muito além daquilo que nós realizamos por nossas iniciativas e planejamentos. A Igreja é animado e conduzida pelo Divino Espírito Santo com sua ação suave e eficaz.

A ação do Espírito Santo é revelada, de maneira especial, no Novo Testamento. O Espírito Santo vem sobre Maria e ela se torna grávida do Filho de Deus, que por ela se faz humano e assume a nossa carne (cf Lc 1,35). O texto faz pensar na criação do mundo: o Espírito de Deus está sobre a face do caos e, pelo “sopro divino” que simboliza a ação do ação do Espírito Santo, todas as coisas são criadas (cf Gn 1,2). Na Anunciação, tem início uma nova criação: “e renovareis a face da terra!”

É o Espírito Santo que, no Batismo no Jordão, conduz Jesus para iniciar sua missão pública (Mt 4,1; Mc 1,12; Lc 4,1; 4,18). As obras de Jesus são realizadas pela força do Espírito Santo, que está com ele, e também age em João Batista, que está cheio do Espírito Santo desde antes do nascimento (cf Lc 1,15). Mas é prometido também aos discípulos, como mestre interior e guia no cumprimento da sua missão: “Ele vos ensinará o que deveis dizer” (cf Lc 12,12).

O Evangelho de São João destaca, de maneira especial, a ação do Espírito Santo, que faz “nascer de novo”, “nascer do alto”, realiza a nova criação e conduz o discípulo na vida nova (3,5-6). Ele é o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber porque escolhe viver no erro; é mestre da verdade, que ensina os discípulos (cf 14,17; 16,13). É o paráclito, o consolador, o divino companheiro, que estará sempre com os discípulos, para eles não sentirem a falta de Jesus (15,26; 16,13). Os discípulos recebem a força do Espírito Santo, após a ressurreição, para realizarem com eficácia a sua missão, em nome de Jesus (2,22). O Espírito testemunha a verdade no coração dos discípulos (1Jo 5,6).

São numerosas as passagens dos Atos dos Apóstolos e das Cartas Apostólicas que mostram a ação do Espírito Santo nos discípulos e nas comunidades da Igreja. Pedro, cheio do Espírito Santo e de coragem, anuncia o Evangelho no dia de Pentecostes (cf At 4,8). Também os outros discípulos pregam o Evangelho, cheios do Espírito Santo e de sabedoria (cf At 4,31; 6,3; 10,44; 11,15). Pela força do Espírito Santo, as pessoas acolhem o Evangelho e o testemunho dos Apóstolos e se convertem, recebendo o Batismo (At 4,31). O Espírito Santo faz discernir sobre as decisões a tomar (At 10,19;13,2; 16,6-7).

São Paulo refere-se ao Espírito Santo como aquele que realiza a obra de Deus no coração dos fiéis (Rm 5,5; 8,2.6), dá eficácia à pregação do Evangelho, move os corações, assiste na fraqueza,  intercede (Rm 8,26), guia (8,14), dá testemunho em nosso interior (8,16), vivificará nossos corpos mortais (Rm 8,11); dá testemunho de que somos filhos e herdeiros de Deus (cf Rm 8,17) dá alegria (14,17) e esperança (15,13); faz conhecer os segredos de Deus (1Cor 2,10-12). É o Espírito que faz o discípulo ser templo de Deus ((1Cor 3,16; 6,19; Ef 2,22), que dá unidade ao corpo de Cristo, a Igreja (1Cor 12,13); ajuda a viver a vida do homem novo, não mais dominado pelas paixões e vícios (Gl 3,2; 5,16-17.22.25; 6,8). É pelo Espírito Santo que temos acesso a Deus Pai e recebemos a condição filial (Ef 2,18).

A celebração de Pentecostes, cada ano, é ocasião para aprofundarmos nossa fé e confiança na ação do Espírito Santo em nós e na Igreja. Em nosso sínodo arquidiocesano, invocamos, de maneira especial, a ação do Espírito vivificante e animador da Igreja. Ele “renova a face da terra” e, especialmente, a vida da Igreja, “esposa do Espírito Santo”. Ele fez tornar a vida aos ossos secos espalhados pelo campo (cf Ez 37) e transforma corações de pedra em corações de carne Ez 11,19; 36,26). Ele também dará vitalidade nova à Igreja em São Paulo.

 

 

 

Tags:

leia também