Dom Benedicto de Ulhoa Vieira

Arcebispo Emérito de Uberaba

A Paróquia São Benedito de nossa cidade de Uberaba está comemorando o “Jubileu de Ouro” de sua criação. Foi em 1961 que, por decreto da Autoridade Eclesiástica, se criou a Paróquia que tem como padroeiro São Benedito negro, no governo de Dom Alexandre Gonçalves do Amaral.

É o Santo da devoção popular em quase todos os recantos do Brasil, pelo fato de ter o Santo sido escravo antes de entrar para a Ordem Franciscana, como simples irmão leigo e não como sacerdote. Isto deve, no passado, ter influenciado para popularizar a sua devoção. Quase não há neste Brasil nas igrejas paroquiais e capelas um altar do Santo ou, ao menos, um nicho com a sua simpática imagem carregando o Menino Jesus nos braços.

Aqui em Uberaba, a capelinha do Santo foi substituída pelo belo e grande templo em honra do humilde frade que, conforme a tradição, era o cozinheiro do convento franciscano. Em muitas paróquias ainda hoje se estabeleceu uma associação leiga de devotos em honra do humilde Santo.

O Papa que o canonizou foi Papa Pio VII que foi eleito em 1800 e morreu em 1823. No Martiriológio Romano (que registra os nomes de todos os santos, sua canonização e alguns breves dados biográficos) de São Benedito traz apenas que “em Palermo, dia 4 de abril, festa de São Benedito de São Filadelfo, por causa de sua negritude tem o cognome de Negro, da Ordem dos Menores, confessor, que ilustre pelos milagres e virtudes, descansou no Senhor e foi inscrito no número dos Santos por Pio VII – Pontífice Máximo”. “Confessor” é a classe a que nosso Santo pertence. Não significa o que atende confissão.

Deus costuma em alguns casos conceder privilégio de a terra não consumir o corpo de alguns santos ou, às vezes, uma parte do corpo. Foi assim com a língua de Santo Antônio de Pádua. Outros casos: o corpo intacto, hoje exposto e venerado de São João Maria Vianney em Ars, na França; Santa Bernadete em Nevers; São Pio X que criou a nossa diocese, descansa na Basílica de São Pedro em Roma, num altar à esquerda de quem entra; João XXIII, o Papa que encantou o mundo com a sua bondade, está intacto. Também São Benedito Negro, cujo corpo repousa deitado num nicho do altar lateral na Igreja Santa Maria de Palermo.

Fui ver e visitar o Santo do meu nome. Tomei um avião em Roma e desci em Palermo, na Sicília. Procurei de taxi a Igreja Santa Maria dos franciscanos. Num altar lateral, repousa intacto o santo negro, vestido de hábito franciscano, como se tivesse morrido há dez minutos antes. Por estar o nicho um pouco alto, subi numa cadeira para ver bem de perto o rosto do Santo. Fui também ver a fonte de água, onde ele, cozinheiro, pegava a água para sua cozinha.

No calendário da Igreja, o dia de sua morte é 4 de abril. Não consta o ano, mas como o Papa que o canonizou morreu em 1823, podemos afirmar sem perigo de errar que foi elevado às honras do altar, entre 1800 e 1823.

A Paróquia São Benedito, comemorando seu jubileu áureo, convida, nesta ocasião feliz, os devotos a visitar a bela imagem do humilde santo e receber sua intercessão, a riqueza das bênçãos divinas. Tive a felicidade de, ao chegar como arcebispo a Uberaba, ter inaugurado a bela igreja e ter dado a bênção ao novo templo – a pedido do pároco Monsenhor Vicente Ambrósio, de feliz memória.

O nome “Benedito” é do verbo latino “benedicere” que significa abençoar. É pois abençoado quem se aproxima do Santo humilde e poderoso, homenageando sua vida e confiando na sua proteção. É o Santo da humildade, padroeiro dos humildes e dos que trabalham servindo os irmãos. Se houver dúvida de sua poderosa intercessão, lembrem-se todos os seus devotos que seu corpo está há cinco séculos – intacto – e descansando do seu humilde serviço de cozinheiro.

A Paróquia São Benedito de Uberaba, tem muitas razões para agradecer a Deus os muitos anos de sua existência, distribuindo os sacramentos e a palavra divina aos seus fiéis.

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