Dom Edney Gouvêa Mattoso
Bispo de Nova Friburgo (RJ)

Caros amigos, no último dia 28 de outubro o Papa Francisco, encerrou na Basílica de São Pedro o Sínodo dos Jovens. A assembleia, que se dedicou à reflexão sobre o tema “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”, contou com a participação de bispos e jovens de todo o mundo.

A Igreja, ciente da importância de ouvir da própria juventude os desafios e angústias que lhe são impostos, cuidou de elaborar minuciosamente um documento que norteou o trabalho do sínodo. Este documento intencionou oferecer as chaves de leitura da realidade juvenil, baseando-se em diferentes fontes, entre as quais um questionário on-line que reuniu as respostas de mais de 100 mil jovens em todo o mundo.

O documento final do Sínodo tem como fio condutor o relato evangélico da aparição do Ressuscitado aos Discípulos de Emaús. Dividido em três partes, chama atenção da Igreja para a importância de, em primeiro lugar, colocar-se na atitude de escuta; o fundamento para um diálogo eficaz é a escuta humilde e paciente.

Neste sentido, diz o Concílio Vaticano II: “Cuidem os adultos de estabelecer com os jovens um diálogo amigável, que permita a ambas as partes superarem a distância da idade, conhecerem-se mutuamente e comunicarem uns aos outros as riquezas que a cada qual são próprias” (Apostolicam Actuositatem, 12).

Por muitas vezes, invadidos pelo ativismo, sedemos à tentação de elaborar planos e diretrizes de ação para a juventude, sem antes nos aproximarmos de suas verdadeiras angústias e desejos. Os Padres sinodais advertem que os jovens querem ser “ouvidos, reconhecidos, acompanhados” e esperam ser considerados como uma realidade presente para a Igreja e para a sociedade.

O Santo Padre, em sua mensagem para o Dia Mundial das Missões, diz que a juventude sente como que forças interiores do amor, que a compromete com o futuro e a impele a construir a própria existência.

Diante da atual realidade desafiadora, a Igreja e o mundo necessitam do entusiasmo e da paixão tão presentes no coração dos jovens (cf. Carta dos Padres Sinodais aos jovens do mundo inteiro). Neste sentido, é preciso reconhecer que os jovens não são apenas o futuro, mas já são o presente.

A segunda parte do Documento Final, expõe mais claramente a força renovadora da juventude na vida da Igreja e do mundo. O jovem é movido por uma “santa inquietude” que o leva a uma entrega generosa à verdade evangélica e ao serviço dos irmãos (cf. Mensagem para o dia mundial das Missões, 21 out. 2018).

Infelizmente, vivemos num mundo engessados pelas velhas estruturas que não abrem espaço para o folego novo da juventude. Precisamos reconhecer que muitos setores da evangelização e da sociedade estão fadados ao desânimo e ao fracasso, por não reconhecerem a necessidade de se renovar.

Isto fica ainda mais evidente, quando os jovens na busca por emprego e de um lugar na construção de um futuro promissor se deparam com a invencível barreira da inexperiência, fazendo deles possíveis vítimas do subemprego, do tráfico de drogas e da prostituição.

“Nós condenamos nossos jovens a não ter lugar na sociedade, porque os empurramos lentamente para as margens da vida pública, obrigando-os a migrar ou a implorar por empregos que já não existem ou que não lhes prometem um futuro” (Papa Francisco, 31 dez. 2016).

Por fim, o Sínodo fala da importância da missionariedade na vida da Igreja para a construção de um mundo novo. E relembra que a fé deve sempre iluminar a vida cotidiana. O anúncio do Evangelho ganha força quando é testemunhado na vida dos cristãos. Por isso, a Igreja ensina que os jovens devem ser os primeiros e imediatos apóstolos dos jovens, realizando o apostolado no meio e através deles (cf. Apostolicam Actuositatem, 12).

É preciso fazer eco a este primoroso trabalho da Igreja. À luz desta reflexão, somos impelidos a uma postura mais próxima aos jovens, reconhecendo seu valor ao ouvir seus anseios e nos deixarmos contagiar pelo seu ânimo. Como disse São João Paulo II, “a Igreja só será jovem quando o jovem for Igreja”.

 

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