Piedade, patrimônio dos mineiros

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte

A Festa de Nossa Senhora da Piedade – a Padroeira de Minas Gerais – é celebrada na liturgia da Igreja Católica nesta sexta, 15 de setembro. Essa celebração se reveste de significados múltiplos e aponta o horizonte largo, rico e culturalmente diversificado da história tricentenária do Estado de Minas Gerais. Uma trajetória que guarda acontecimento de especial destaque: há 250 anos, o povo, peregrinando na fé, sobe a Serra da Piedade para chegar à Ermida da Padroeira, casa de clemência e de bondade, edificada no lugar que, segundo a tradição, teria ocorrido a aparição de Nossa Senhora.

No século XVIII, tocado pelos testemunhos de fé dos peregrinos que enfrentavam dificuldades para rezar no alto da Serra da Piedade, um leigo, Antônio da Silva Bracarena, se converte. Ele consegue a permissão eclesiástica, a partir de documento da Cúria da Diocese Mãe de Minas – hoje Arquidiocese de Mariana – para construir a Ermida dedicada a Nossa Senhora da Piedade no alto da Serra. O documento, de 30 de setembro de 1767, é marco que permite a celebração do Ano Jubilar em 2017: são 250 anos de história do povo peregrinando na fé ao território dedicado a Nossa Senhora da Piedade. Momento especial que deve ser vivido no caminho missionário deste Ano Mariano, quando a Igreja recorda os 300 anos do encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil.

O contexto deste tempo jubilar convoca todos os mineiros a anunciarem com alegria: Nossa Senhora da Piedade, na Serra da Piedade venerada há 250 anos, é a Padroeira de Minas Gerais.  Maria – Mãe da Piedade assim foi proclamada no dia 31 de julho de 1960, em grande festa no Santuário e na Praça da Liberdade, que fica na Capital dos mineiros, após decreto do Papa São João XXIII, atendendo ao pedido de um ilustre mineiro: o Cardeal Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota.

Toda essa história faz do Santuário Nossa Senhora da Piedade um monumento à fé cristã e católica mineira, no ponto mais alto da Serra da Piedade. Minas são montanhas. E no altar das montanhas de Minas está o trono de Cristo Redentor, a sua Cruz erguida no calvário. Diante do calvário, está a Casa de Clemência e de Bondade da Mãe Piedade. Maria, com o Filho nos braços, mostra que Jesus é sempre o centro. Indica que o mistério da cruz é a dinâmica da verdadeira e mais autêntica experiência da fé cristã. Para ser autêntica, essa experiência deve significar oferta verdadeira e generosa da própria vida.

Incontestavelmente, o Santuário Nossa Senhora da Piedade é o coração de Minas Gerais. É lugar que reúne tesouros da religiosidade, da fé cristã, em harmonia com o conjunto paisagístico, arquitetônico, cultural e ambiental que retrata Minas Gerais. Elementos que condensam as culturas, as riquezas, as tradições do povo mineiro, capazes de impulsionar progressos e conquistas condizentes com a história do Estado. Diante da importância do Santuário, o governo de Minas Gerais reconheceu oficialmente que todo esse complexo religioso, ambiental, paisagístico, histórico e cultural da Serra Piedade é de especial relevância turística para o Estado, concentrando a beleza entre as belezas mais significativas desta terra abençoada.

Desse reconhecimento nasce o Caminho Religioso da Estrada Real (Crer), ligando o Santuário da Padroeira de Minas ao Santuário Nacional da Padroeira do Brasil. Um projeto semelhante ao Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha. O Crer reúne belezas naturais e monumentos históricos que comprovam a singularidade da cultura e da religiosidade mineira. Vale conhecer esse caminho. Fundamental também é zelar pelo Santuário da Padroeira de Minas, território que concentra riquezas naturais – ferro, ouro e água – e por isso mesmo necessita do compromisso do povo mineiro de preservá-lo e defendê-lo. Todos unidos em busca do desenvolvimento integral, da racionalidade, para cuidar desse território.

Milagrosamente, o conjunto ambiental e paisagístico do Santuário da Padroeira de Minas reúne, contiguamente, Mata Atlântica, Cerrado e Campos Rupestres, com rica fauna e flora, referência única da criação e do Criador. Guardiã do Santuário, a Arquidiocese de Belo Horizonte, com o objetivo de promover o diálogo e a cooperação – tudo para garantir o tratamento adequado desse território, magnífica arquitetura divina – cria a Associação de Desenvolvimento Integral (ADERI). Observando os princípios da fé cristã católica, do ecumenismo e da pluralidade cultural, a ADERI nasce para ser instrumento que impulsiona clarividências na consciência mineira, à altura das exigências contemporâneas. Urgente é buscar um desenvolvimento que reconheça, verdadeiramente, o valor da vida, superando disputas que gerem atrasos.

Celebrar a Festa de Nossa Senhora da Piedade, sobre os alicerces da fé e da religiosidade, é oportunidade singular para o povo mineiro. Um acontecimento com força de inspiração, quando se considera que o Santuário reúne as belezas que Minas tem. É, pois, um caminho para conquistar nova independência. O Santuário da Padroeira de Minas tem força para articular segmentos diversos da sociedade com o objetivo de promover transformação. A Piedade é dom de Minas. 

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