Por uma espiritualidade de confiança

Semana passada tivemos nossa Assembléia de Evangelização do Rio Grande do Sul. Um delegado da assembleia teve um choque de autenticidade e invocou o testemunho de São Francisco de Assis: “Calem as palavras e falem as obras”. Lembrei-me da teologia da graça e exclamei: “Calem as obras e fale a graça”!

É claro, num mundo de hipocrisia e de incoerência, o clamor de São Francisco tem sentido. Mas há o risco de minimizar a ação de Deus em nós. E, por conseqüência, gerar pessimismo e depressão.

Pessoalmente atravesso a passagem de Bispo diocesano para o papel de Bispo Emérito. Sinto-me um pouco peregrino. Não como Adão, que deixou o paraíso para viver nesta terra de exílio. Procuro continuar otimista e criativo, olhando para o futuro.

Ofereço cada dia minha vida a Deus, assim como é, com defeitos e limitações. Como celebro diariamente a Santa Missa, coloco-me com a hóstia e o vinho sobre o altar. Assim, subo com Cristo ao Pai. É reconfortante.

Isto aprendi de São Francisco de Sales no tempo da minha juventude. O Apóstolo Paulo lembra bem: “Basta-te minha graça; a força se realiza na fraqueza” (2 Cor 12,9). Já o Apóstolo Pedro ensina que reveses e sofrimentos, aceitos em união com Cristo, são uma graça. E, portanto, devemos agradecê-los ao Senhor por sermos dignos de participar dos sofrimentos de Cristo pela salvação da humanidade.

O abade São Doroteu vai mais longe. Ensina que palavras desagradáveis e calúnias, vindas por parte de irmãos, em vez de provocar revolta, merecem gratidão. Porque nos ajudam a nos purificar e a progredir na perfeição: “A alma se fortalece à medida em que caminha, faz-se mais corajosa em suportar todas as coisas duras da vida”.

Espero que, vindo meu querido sucessor, eu tenha mais tempo para o essencial: a oração e a meditação da Palavra de Deus. Espero mesmo fazer da oração meu ministério predileto, pois tantas pessoas necessitam do ministério da intercessão.

Que Deus abençoe a quem leu esta indiscrição pessoal.

Dom Aloísio Sinésio Bohn

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