Dom José Alberto Moura, CSS

Arcebispo Metropolitano de Montes Claros

Ter sede é próprio de todo ser vivo, como vegetais e animais. Sem água não podemos viver. Deus a criou. Deu como fonte abastecedora a terra. Há lugares de mais abundância e de menos. Todo ser vivo tem direito à água, à terra e a todo o necessário para viver dignamente. Isso não tem acontecido. Muitas vezes há ganância. Uns têm demais, outros de menos ou de nada. Às vezes se esbanja,  polui, tira sua a fertilização das nascentes e até a possibilidade de seu escoamento. As conseqüências são danosas para grandes parcelas.

Na época de Moisés o povo murmurava: “Por que nos fizeste sair do Egito? Foi para nos fazer morrer de sede, a nós, nossos filhos e nosso gado?” (Êxodo 17,3). O milagre aconteceu em seguida por ordem de Deus. A água surgiu no deserto.

É grande desafio dessedentar a todos. Até água do rio S. Francisco está sendo transposta. Sabe-se que o agronegócio, as indústrias  e pequena parcela do povo vão usufruir diretamente dessa água. Poços ou cisternas se fazem, inclusive depósitos de água de chuva em lugares onde há menos curso de água sobre a terra. A Caritas Brasileira tem colaborado muito com essa causa para os sem água, principalmente em regiões do Nordeste. Muito mais poderia e deveria ser feito com ações políticas para o dessedentamento de parte de populações brasileiras.

A Campanha da Fraternidade nos chama atenção para o cuidado com o planeta, inclusive para que o abastecimento de água potável não venha a faltar para grande parte do povo. No mundo já acontece o desabastecimento de água e alimento em vários lugares. Falta o equilíbrio solidário de mútua ajuda entre povos. A consciência do respeito ao meio ambiente precisa ser mais global ou mundializada. Mas deve-se começar em casa, com a formação da cultura do amor ao meio ambiente, a partir da educação desde a infância.

Neste tempo da Quaresma somos convidados a colocar a mão na consciência para analisarmos se estamos colocando em prática o amor de Deus. Não basta dizermos que O amamos. É preciso termos o amor dele em nós, a ponto de sermos seus instrumentos hábeis para ensinarmos a todos que devemos respeitar a vida, promovê-la e dar condições a todos de a terem de modo realizador. A solidariedade nos faz pensar no bem comum, a partir do respeito ao meio ambiente, numa consciência ecológica. Com fé em Deus somos capazes de transformar a cultura ou mentalidade de destruição para o respeito às criaturas de Deus, a partir do nosso planeta. Ele nos dá os meios necessários à sobrevivência. Mas precisamos cuidar dele perenemente, de modo razoável.

O próprio Jesus pediu água à Samaritana. Ele estava sedento. Mas Ele curou-lhe a maior sede, que é a do amor de Deus. Quando nos deixamos interpelar por Deus Ele nos sacia com a plenitude da vida. Somos chamados a nos preparar para o encontro pascal com o Ressuscitado. Basta abrir nosso coração para Ele nos saciar com seu amor. Assim sendo, somos capazes de promover a vida em todos os sentidos para todos.

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