Muitos se assustam com o ideal de vida apresentado por Jesus. Até que aceitam ser religiosos no sentido de ter uma crença e fazer alguns atos devocionais. Assumir para valer determinadas propostas e certos preceitos da religião torna-se um bloqueio e se traduz na rejeição prática dos mesmos. Quer-se o “bônus” mas não o “ônus”, ou seja, aderem-se aos benefícios da fé mas não aos compromissos com a mesma. Criticam-se as faltas de “atualização” ou o amoldar-se com os desejos motivados no consumismo e no materialismo.

Mesmo na ordem do comando político se diz: “O Estado é laico e não deve aceitar a interferência da religião”. Há muito equívoco nesta postura. O laico não poder confundir-se com o laicismo. O primeiro significa a neutralidade para se encaminhar a coisa pública sem privilegiar uma ou outra religião, mas defendendo a ética, a moral e as qualidades das religiões. O laicismo é a posição ideológica do materialismo, que não aceita os valores religiosos e culturais influenciados pelas religiões. O laicismo é a traição do governo do povo, que é religioso, nos seus diferentes valores.

É o querer impor o materialismo para todos. É uma espécie de religiosidade perversa, passando-se por cima dos valores das religiões, que são cheias de ética e benefício social. O povo elege seus governantes e tem direito de que eles o sirvam. Se isto não acontece, o mesmo povo tem o direito de tirá-los do poder, dentro da lei e da ética, com o direito de colocar outros que realmente o representem, inclusive em suas religiões. A atualização do ensino sobre verdades da fé não significa mudar as mesmas verdades.

Incorreríamos na relativização das mesmas verdades. Ou há verdade ou não há, doa a quem doer. O caminho de Jesus, de fato, é o mais exigente como ideal proposto. Mas é também o mais misericordioso no seu encaminhamento e julgamento. Ele propõe a perfeição como a de Deus, a ser buscada por todos. Cada um vai fazer o esforço maior possível para se aproximar d’Ele. Não é porque alguém não consegue atingi-Lo integralmente que não vá buscar estar mais perto d’Ele. Não é porque alguém não consegue a saúde ideal que não vá se apresentar a mesma com o esforço de todos para consegui-la.

Não é o dado estatístico, ou seja, o número dos que conseguem ou não viver o ideal cristão proposto que vai condicionar o valor a se buscar como meta e consequente esforço de busca. Nessa perspectiva, por exemplo, não é porque o índice de criminalidade é grande que vamos modificar a lei para permitir a criminalidade. A prática da fé encontra solidez e resultado eficaz quando a pessoa a procura de modo consequente e responsável. Só assumir uma fé em que se busque a Deus por interesses materiais, psicológicos e pessoais, é encará-la de modo puramente vertical ou intimista.

A fé comprometida com a realização do projeto de Deus leva a pessoa a manifestar plena confiança no Criador, mas também a se empenhar a colocar em prática seus mandamentos, que levam a pessoa fiel a realizar o bem do semelhante, a ponto de dar de si para uma convivência justa, fraterna e solidária. “Quem diz ‘Eu conheço a Deus’, mas não guarda os seus mandamentos, é mentiroso, e a verdade não está nele” (1 Jo 2, 4).

Dom José Alberto Moura

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