Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte 

A sociedade brasileira vive uma situação de caos completo, indicando a necessidade e a urgência de se recuperar a autoridade da moral na consciência de cada indivíduo. A luz da moral é imprescindível para o exercício da cidadania e para o cumprimento de responsabilidades políticas, profissionais, confessionais e familiares. Quando há deterioração moral, a sociedade degenera e impera o caos.

A falta de moralidade é, por exemplo, a origem das diferentes formas de corrupção. Uma consciência que não é regida pela moral não sabe o valor e a importância da honestidade. Assim, apega-se somente ao que gera lucro, mesmo sob pena de prejudicar o outro. Tudo é considerado permitido na busca dos objetivos e interesses próprios. Sem cultivar a autoridade moral, as pessoas perdem o parâmetro que deve orientar suas vidas: a honestidade que é o antidoto para a ganância e a mesquinhez.

Cada pessoa precisa fazer o indispensável exercício cotidiano de examinar a própria consciência e avaliar, com sinceridade, seus atos e procedimentos. Uma avaliação a ser feita à luz de valores interpelantes reunidos no Evangelho de Jesus Cristo. Somente assim será possível corrigir desvios de conduta, eliminar interesses egoístas, inadequados, e recuperar a própria autoridade. Quem desconsidera a dimensão moral perde a autoridade. Essa perda, em qualquer âmbito, é tão perigosa quanto dirigir um caminhão desgovernado, com carga pesada, descendo ladeira abaixo.

A ausência de autoridade gera resultados desoladores. Isso pode ser constatado no contexto atual, em que representantes do povo encontram-se fragilizados no exercício de suas responsabilidades.  Situação que é consequência da perda de credibilidade desses representantes diante da população. Pessoas que deveriam ser respeitadas pela condição de autoridade tornam-se marcadas justamente pela falta de moralidade, pois agem a partir de interesses nada altruístas. Desconhecem que o desrespeito a princípios básicos da moralidade obscurece terrivelmente as competências.

A falta de envergadura moral incapacita as pessoas no desempenho das próprias atribuições – tornam-se figuras medíocres nos mais diversos contextos e funções. Não conseguem enfrentar os problemas e os desafios com a coragem e a transparência necessárias. É triste ver “autoridades” sem autoridade. Mais lamentável ainda é constatar essa carência em quem teve importantes oportunidades na educação e na formação acadêmica. Pessoas que trilharam longos percursos no âmbito profissional, ocuparam cargos importantes em hierarquias e, ao invés de cultivarem a autoridade da moral, pegaram o atalho dos conchavos, das negociatas e das posturas não cidadãs. Consequentemente, prejudicaram e continuam a atrapalhar as instituições onde estão inseridas, desvirtuando-as do compromisso com a verdade, a justiça e o bem.

O mal que nasce a partir da falta de autoridade, consequência da ausência da moral, torna permitido tudo o que é ilícito precipitando na mediocridade uma sociedade sem rumo. É lamentável ver medíocres governando, ocupando determinados cargos apenas para satisfazer as exigências de seus egos patogênicos.

É preciso substrato moral, o que não pode ser confundido com rigidez ou conservadorismo, intolerância ou fundamentalismo. A consciência moral, que contempla a afetividade e a espiritualidade e garante a competência sapiencial, é indispensável.  Configura-se no amálgama entre a preparação intelectual, as experiências e a coragem para abrir novos caminhos. A consciência moral permite aos indivíduos manterem-se, audaciosamente, comprometidos com o dever de ajudar a consertar as coisas, de contribuir para que o mundo supere práticas e dinâmicas obsoletas.

Sem essa competência sapiencial, permanecerá a desconexão entre as necessidades do povo e as ações de pessoas que usufruem de honras e títulos, que ocupam cargos representativos e, por isso mesmo, têm grandes responsabilidades. A carência da dimensão moral no recôndito das consciências faz crescer o gosto por práticas questionáveis, enjaula pessoas na mediocridade, no medo, na defensiva. No mundo religioso, essa patologia é um desastre. Consolida certas condutas que não têm a força para fazer o Evangelho incidir no cotidiano da sociedade e, consequentemente, gerar as inovações necessárias.

Oportuno é lembrar-se de Platão, que ao falar das “formas” e “deformas” de governo, argumenta que a política, como ciência, sofre mortalmente da falta de autoridade moral.  Consequentemente, a democracia vira anarquia; a aristocracia, oligarquia; e a monarquia torna-se tirania. Urgente, pois, é reconhecer a autoridade da moral que faz surgir novos e autênticos líderes, capazes de contribuir para que a sociedade brasileira trilhe novos rumos.

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