Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo de Campos (RJ)

 

No dia em que festejamos a todos os Santos e professamos a fé nesta comunhão que anima e impulsiona a Igreja numa das quatro notas essenciais, gostaria de refletir sobre o conceito de normose que atualiza um dos desafios da santidade hoje. Pierre Weil a denomina a patologia da normalidade, pois ao lado da neurose e da psicose ela vem denunciar as anomalias da normalidade, que dotadas de consenso social e conformismo não nos deixam ser inteiros e íntegros na humanidade.

Nesta linha de pensamento a santidade longe de ser uma fuga do mundo ou de uma busca alienada do trascendente é uma verdadeira tomada de consciência e um despertar da mediocridade que nos limita e encapsula numa realidade chata e sem horizontes espirituais.

Trata-se de sair da fragmentação para a comunhão resgatando a inteireza e beleza do ser humano no projeto do Pai. Ser santo é não aceitar o que aniquila e destrói a humanidade, superando falsos padrões de felicidade materialistas para revelar e celebrar o amor absoluto de Deus. O santo é um peregrino e um inquieto profeta que nos desacomoda e nos faz ver as armadilhas da normose secular em seus diferentes âmbitos: espiritual, cultural, econômico, político e social.

O autor José Miguel Cejas no seu livro: Os Santos, pedras de escândalo” , mostra como os verdadeiros Santos suportaram perseguições, contradições e difamações, sendo tidos como loucos ou fanáticos. O Bem-Aventurado Paulo VI, na cerimônia de canonização de Santa Beatriz Silva afirmava: Os Santos, constituem sempre uma provocação para o conformismo dos nossos costumes, que com freqüência julgamos prudentes simplesmente por serem cômodos. O radicalismo do testemunho dessas figuras heróicas

Vem a ser uma sacudidela para a nossa preguiça e um convite para que descubramos certos valores esquecidos. Torna-se necessário mais do que nunca no Brasil de hoje um choque de santidade, de heroísmo e nobreza proverbiais, para superar o marasmo da corrupção, mesquinhez, e das idolatrias do dinheiro e do mercantilismo financeiro, apaixonando-nos como fizeram os santos, do Reino de justiça, amor e paz. Deus seja louvado!

 

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