Servidores segundo sua vocação

Em agosto, mês vocacional, a Igreja no Brasil reflete e reza pelas diversas vocações que surgem nas familias e servem  às comunidades. No primeiro domingo, padres e diáconos, servidores do povo de Deus, foram afetivamente lembrados e apoiados pela oração da comunidade. No segundo domingo, a comemoração do Dia dos pais passa do apelo acentuadamente comercial para uma celebração que agradece o dom da paternidade e tem como foco “a vida em familia”. Homens e mulheres, “religiosos e consagrados seculares”, que vivem sua vocação de forma comprometida com o Reino de Deus, foram lembrados pelos católicos no terceiro domingo. Todavia, a abrangência das necessidades é muito ampla e inúmeras pessoas, que compõem o grande mosaico do trabalho voluntário, com generosidade e dedicação, foram reconhecidas, no quarto domingo, pelos “vários ministérios e serviços na comunidade”. No último domingo, a comunidade volta-se para catequistas, homens e mulheres, que realizam um trabalho de inestimável valor humano, de reconhecido alcance pastoral e de elevada grandeza espiritual. O “Dia do catequista” quer significar a atitude de estima da Igreja, o reconhecimento da família e a gratidão dos catequizandos, por esse generoso trabalho.

Nenhuma vocação tem o crivo da imposição, por parte de quem quer que seja; nem Deus impõe uma forma de viver a uma pessoa ou um caminho a seguir; Deus propõe, interpela, provoca o vocacionado, porém deixa sempre espaço para a expressão da sua liberdade; na Sagrada Escritura, há muitos exemplos nesse sentido; não poderia ser diferente, precisamente, porque o amor exige reciprocidade de sentimentos e gestos. Por outro lado, a vocação não pode ser uma resposta artifícial, muito menos forçada; ao contrário, situa-se na linha da autenticidade, liberdade, responsabilidade, generosidade.

Toda vocação supõe sempre um grau de discernimento, proporcional à complexidade de sua natureza e de seu exercício. Há vocação inerente à própria condição humana, como aquela à paternidade e à maternidade; na verdade, é a vocação mais universal, mas, como a experiência comprova, também essa exige discernimento, liberdade, maturidade, equilibrio e responsabilidade; se isso fosse levado em consideração, a sociedade contaria com famílias mais estáveis e a Igreja disporia de mais familias evangelizadoras. Os pais são servidores da vida, porque a transmitiram, e da família, como primeiros educadores. Sem dúvida, a vocação à vida consagrada e ao sacerdócio ministerial precisa ser cuidadosamente trabalhada, pela própria pessoa e pela instituição formadora, dado que há implicações mais comprometedoras, perante Deus e a Igreja; assim, a seriedade dessa vocação responsabiliza, sobremaneira, quem faz um voto e quem recebe a ordenação sacerdotal. Os homens e as mulheres que abraçam o Reino de Deus, como opção fundamental de vida, são servidores e servidoras de seus irmãos, segundo sua vocação; essas pessoas, conforme o carisma da ordem/congregação/instituto, embora vivendo em clausura, numa relação eloquente com Deus, têm uma útil relação silenciosa com seus irmãos. A vocação de serviço à comunidade é multiforme e onipresente; revela-se na gratuidade de um compromisso regular, como fazem, por exemplo, catequistas e agentes da Pastoral da Criança, e na dedicação do trabalho voluntário circunstancial, prestado à população, numa situação de calamidade, em qualquer parte do mundo.

Toda vocação, conscientemente assumida e coerentemente vivida, contendo a dimensão do serviço aos irmãos, é expressão da vontade de Deus.

Dom Genival Saraiva

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