Amigo que nos visitou, nestes dias, perguntou se temos tido a curiosidade de, à noite, olhar para o céu. E relatou que agora, nesta época não se tem tido a visão alegre e luminosa das estrelas por que um véu grosso de poeira, que sobe da terra, impede os olhos de se deliciarem com as pequeninas luzes das estrelas. A razão disto – dizia o observador visitante – que a poeira é tanta e, há tempos, por não termos tido chuvas, o céu não permite ver as pequeninas luzes das estrelas escondidas atrás da camada grosseira do pó que sobe. A observação cuidadosa nos faz refletir.

De fato nosso olhar, que só vê no sentido horizontal, deveria educar-se para voltar-se para o alto. Nunca deveríamos esquecer que os bens divinos que nos irão saciar a eternidade toda, estão lá em cima, onde repousam as certezas das nossas esperanças.

Não esquecer: fomos feitos para subir. Nosso olhar não deveria contemplar apenas a linha reta do horizonte. Somos feitos – e o convite de Deus é fácil de ouvir – para o alto, onde brilham as promessas certas da palavra que não falha: a promessa de Deus.

Nesta época ao aproximar-se a primavera, a natureza que parecia repousar e dormir, desperta e desabrocha. Os ipês enriquecem, com o ouro de suas flores, os caminhos de nossos passos. Os jardins se colorem com a delicada beleza das flores. É uma vida nova que nos convida a renovar a vida interior da alma e do coração. É hora de florir…

A dureza do nosso dia-a-dia, com a preocupação justa de sobrevivência, nos tira a visão alta de nosso destino. Vivemos mergulhados no corre-corre dos nossos deveres que nos esquecemos de erguer os olhos para o alto.

Pode ser que o cristão, no dia a dia de sua vida, venha a esquecer que, no estilo paterno e misericordioso de Deus, somos convidados a sentar-nos à sua mesa e participar das riquezas de seus dons. Assim, não por orgulho, mas por missão que o Evangelho nos confia, seremos eficientes distribuidores das riquezas, com que Cristo dotou a sua Igreja.

É com nosso trabalho e nossa amorosa dedicação que poderemos colaborar para que os campos místicos do Senhor se cubram do colorido das flores. A primavera chegou. É tempo de florir.

Dom Benedicto de Ulhoa Vieira

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