Uma partilha fraterna, na caminhada de fé e compromisso, em tempo pascal de coronavírus

Dom André De Witte
Bispo da diocese de de Ruy Barbosa (BA)

Cada dia tenho o privilégio e a alegria de poder celebrar o extraordinário dom que Jesus nos deixou na véspera da sua paixão, a sua vida totalmente doado, até a morte na cruz, presente na Eucaristia como na Última Ceia. As suas palavras “Fazei isto em memória de mim” não significam repetir apenas os seus gestos e as suas palavras, mas convidam a receber, no pão e no vinho consagrados, o dom da sua vida e o exemplo que ele nos deu, para com ele e como ele, doar a nossa vida.

Neste tempo de luta para a vida, contra a morte, o sofrimento e as tristezas que o coronavírus traz, uma tristeza especial acompanha a alegria do ministro ordenado que preside a Eucaristia: o povo de Deus não pode estar “aglomerado” ao redor ou junto do altar, na igreja, casa de oração, e assim a comunhão com Jesus, crucificado e ressuscitado, é espiritual, é como membro do corpo místico que se alimenta sim, inclusive pela Palavra Viva que é Jesus e o dom da sua presença no meio daqueles que estão reunidos no nome dele – mesmo cada um em sua própria casa -, mas não é cada membro que se alimenta individualmente com o Pão Consagrada partilhada.

Em cada oportunidade, inclusive na celebração que acontece, de igreja fechada, mas transmitida pelos nossos meios de comunicação, insistimos que, enfrentamos limitações forçados pelas circunstâncias, mas estamos em comunhão, e quem sabe, agora saiamos até mais conscientes do privilégio da Eucaristia que nem sempre valorizamos

Nos últimos dias vi mensagens cobrando da CNBB “nos devolvam a Missa”. Partilho a vontade de participação plena de todos, mas estranhei a expressão. Como se o padre, o bispo ou a CNBB fossem os “donos da Missa” e a tivessem tirada dos demais fiéis, quando somos todos e todas membros do mesmo Povo de Deus que partilham a missão de Jesus, que vem para que todos tenham vida, e, portanto, partilhamos também as tristezas quando a vida é ameaçada e as alegrias da vitória sobre a morte, “o último inimigo a ser vencido”.

Hoje fiquei alegre em ler no IHU-Notícias, Boletim do Instituto Humanitas Unisinos que recebo todo dia via email, um artigo que mostra que a atitude firme da Igreja de cuidar do isolamento social e por isto fechar as igrejas, conseguiu poupar mais de 100 mortos.

O estudo foi feito pela Sociedade Brasileira de Cientistas Católicos (SBCC), da qual o Setor Universidades da Comissão Episcopal Pastoral para Cultura e Educação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) faz parte e o Grupo de Pesquisa em Modelagem de Problemas Biológicos do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG LINK: http://www.ihu.unisinos.br/598446-estudo-da-sbcc-e-cefet-mg-mostra-o-impacto-positivo-do-isolamento-social-na-igreja-catolica

Por coincidência, o mesmo boletim de hoje, traz um artigo de José Antonio Rosas, diretor da Academia Latino-americana de Líderes Católicos: Os organizadores do ‘Devolvam-nos a missa’ são os mesmos que lançam campanhas contra os bispos espanhóis, argentinos e brasileiros. LINK: http://www.ihu.unisinos.br/598442-os-organizadores-do-devolvam-nos-a-missa-sao-os-mesmos-que-lancam-campanhas-contra-os-bispos-espanhois-argentinos-e-brasileiros

O autor diz “Essas campanhas conseguiram a adesão de muitas pessoas bem-intencionadas, cristãos comuns, que sofrem legitimamente por não poder receber a Eucaristia durante esses tempos de quarentena, porém que desconhecem o que subjaz no fundo daqueles que orquestram de forma coordenada algumas dessas ações.

A gente mesmo tem que olhar e ver, e agradecer os que alertam para abrir os olhos e apontam…

Um abraço, virtual, fraterno, em Cristo sempre.

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