Dom Walmor Oliveira de Azevedo

A vigília pela vida nascente convocada pelo Papa Bento XVI será realizada amanhã no mundo inteiro. O propósito é congregar todos os que creem em Deus: homens e mulheres de boa vontade, governantes e diferentes segmentos da sociedade, em torno da importância da vida.

Essa iniciativa será vivenciada em celebrações e vigílias eucarísticas, nas catedrais, igrejas grandes e pequenas, conventos, em todos os lugares possíveis. É a vida, em todas as suas etapas, desde a fecundação até a morte com o declínio natural, colocada no horizonte da fé e da espiritualidade; para assim ser iluminada pela força da presença amorosa daquele que é o seu único Senhor e sua fonte, Deus.

Especial atenção recai sobre a vida nascente. Há uma urgente e permanente necessidade de se retomar a referência de valores morais e evangélicos. Somente assim é possível iluminar consciências, livrando-as de relativismos éticos, a exemplo dos absurdos que desconsideram a vida nascente na tentativa de justificar a abominável prática do aborto, um atentado à vida – contra a vida inocente. A vigília pela vida nascente é oportunidade para reforçar a missão e o compromisso que a Igreja Católica tem no anúncio do Evangelho, no contexto próprio da sociedade contemporânea.

A vida não pode ser tratada apenas à luz das necessidades da realidade material. É claro que é importante considerar as incontáveis urgências – entre elas a superação dos graves problemas de moradia, de saúde, de trabalho, das estradas. A malha viária de Minas Gerais, por exemplo, é detentora de estradas conhecidas como “rodovias da morte”. O número de mortes registrado é próprio do quadro de situações de guerra. A vida não pode ser entendida, também, apenas como oportunidade de conquista de sucesso a todo custo, passando por cima de valores e comprometendo princípios inegociáveis. Não pode ser tratada, particularmente na sua etapa nascente, somente como questão de saúde pública.

A vigília pela vida nascente é um momento de vivência litúrgica e espiritual para recompor o tecido esgarçado da consciência moral contemporânea. Realidade que traz, por isso mesmo, comprometimentos sérios, desde a tragédia dos abortos – assassinato de inocentes – até atingir as situações complexas da violência que vai dizimando pessoas, especialmente os jovens. Vive-se um clima de terror nas cidades, mesmo quando ela é maravilhosa, provocando o medo e tirando a paz. A segurança pública é questão de estratégia e de infraestrutura diante dos desafios da decomposição moral que cria a cultura do desmando, do tráfico de drogas, de pessoas, de influências.

Há urgência na retomada de valores morais que não podem ficar desconhecidos – são eles que devem determinar a dinâmica da vida. Assimilados na consciência moral esses valores darão forma e contorno às práticas sociais, políticas, familiares e à conduta pessoal. As degradações contemporâneas configuram muitos itens que precisam ser enfrentados adequamente. A consciência moral é o ponto de equilíbrio de toda cidadania, luz e fonte da vida. É o coração da vida vivida como dom. Uma consciência moral esgarçada é um permanente atentado à vida.

Essa vigília pela vida nascente é oportunidade para ecoar nos corações a palavra do Senhor Jesus: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). É inaceitável qualquer ameaça à dignidade e à vida humana. Há uma situação cultural que precisa ser confrontada com os valores morais para que não se justifiquem os crimes contra a vida em nome dos direitos da liberdade individual, ou impunidades autorizadas pelo Estado com a colaboração gratuita dos serviços de saúde.

A Igreja tem tarefas e responsabilidades diante da grave derrocada moral. Os condicionamentos que ofuscam a consciência precisam ser confrontados com a oferta da distinção entre o bem e o mal. A vigília pela vida nascente é passo importante e compromisso no caminho para a edificação da autêntica civilização da verdade e do amor.

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