A Quaresma, segundo a tradição litúrgica é tempo dedicado à revisão da vida, ao exame dos valores que me inspiram e orientam. Desde jovem tenho receio de cair na mediocridade, numa vida sem fervor, mesquinha.

Uma sociedade que se guia somente por interesses, e não por valores, é presa fácil das paixões desenfreadas.

Quem segue Jesus Cristo, quem está inserido Nele pelo batismo, embora mergulhado nos assuntos da terra, tem o coração no céu. Pois o Filho de Deus desceu do céu, assumiu a natureza humana, deu sua vida pela humanidade na cruz e ressuscitou, vencendo a morte e o pecado. E quando o Senhor subiu aos céus, nós, inseridos Nele, subimos também.

Lucas notou que, quando o Senhor foi levado para o céu, “os discípulos o adoraram e voltaram a Jerusalém cheios de alegria”. É que a natureza humana, por Cristo, foi elevada a uma incomparável dignidade: Deus Pai uniu a natureza humana à sua própria natureza divina pelo Filho, verdadeiro homem e verdadeiro Deus. Assim, somos salvos por graça, em Cristo Jesus.

A tradição cristã une conversão pessoal para Deus com oração, estilo de vida simples e frugal (jejum) e partilha de bens (esmola).

Quanto à oração, não creio em vida de serviço a Deus e ao próximo sem oração. A oração é para o cristão o que são as asas para os pássaros. Sem oração não há voo espiritual.

E a partilha? Os miseráveis vivem porque o povo tem coração. Sempre há quem ofereça uma laranja, um pão, para os famintos. Sei que não basta. Mas sei também quantas gerações são necessárias para promover famílias marginalizadas. Jesus colocou como um dos critérios de entrada no Reino o cuidado dos pobres, doentes e presos. Sem questionar a virtude deles.

O jejum é arcaico? Parece que, moderado, faz bem à saúde. E faz bem à virtude. Mais que jejum, a Campanha da Fraternidade insiste num estilo de vida não consumista. Como? Isto faz parte da criatividade e da necessidade de cada pessoa.

Agora, duas admoestações. Primeira, com Paulo: “Aspirai às coisas celestes, não às terrestres”. Porém, sem relaxar os deveres da terra. Segunda, com Santo Agostinho: “Por que razão nós também não trabalhamos aqui na terra de tal modo que, pela fé, esperança e caridade, que nos unem a nosso Salvador, já descansemos com Ele no céu”?

O que o anjo falou a Cornélio, possa dizer a nós hoje: “Tuas orações e esmolas subiram à presença de Deus e foram levadas em conta” (At 10,  4).

Dom Aloísio Sinésio Bohn

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