Artigos dos bispos

Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ) 

 

“Ficai atentos e orai a todo momento” (Lc 21,36) 

Celebramos neste domingo o primeiro do Advento e, com essa celebração, iniciamos um novo ano litúrgico, chamado de Ano C. Para a Igreja, diferentemente do mundo civil, o novo ano inicia-se entre o último domingo de novembro e o primeiro de dezembro. Portanto, o tempo do Advento marca um novo ciclo, um novo ano para a Igreja, e todos os fiéis são chamados a experienciar esse novo tempo.  

O período do Advento é um tempo de espera, em que nos preparamos a cada domingo para a chegada do Messias. A cada semana acenderemos uma vela da coroa do Advento significando que a luz, que é Cristo, se aproxima de nós. Jesus é aquele que vem iluminar as trevas, o mundo vivia em meio a uma grande escuridão, por isso, João Batista, o precursor anunciava a chegada do messias no deserto, e pedia que todos se convertessem e se preparassem para a luz que estava para chegar.  

Nestas duas primeiras semanas do Advento, os textos litúrgicos seguirão a mesma linha que estávamos acompanhando no final do ano litúrgico, os textos terão um cunho escatológico, de final dos tempos. Nada que deva nos amedrontar, mas nos convidam a ficarmos em vigilância e preparados para o dia do encontro com o Senhor. Nas últimas duas semanas, os textos abordarão mais o nascimento de Jesus, em que devemos nos preparar para que Ele nasça em nossos corações.  

O verdadeiro sentido do Natal é esse, nos prepararmos para o nascimento de Jesus. Podemos até montar nossa árvore de Natal em casa, mas junto dela montar o presépio e realizar a novena de Natal, preparando a nossa casa para a chegada de Jesus. Temos que ensinar aos filhos e netos a importância dessa data, e o nosso maior presente é Jesus, o Deus Menino, que se encarnou para nos salvar! 

A cor litúrgica predominante nesse tempo do advento é o roxo, essa cor simboliza vigilância e espera. No terceiro domingo do Advento a cor litúrgica é o roseo que é um roxo mais suave, pois é o domingo da alegria, pois o Senhor está mais perto de nós. Podemos aproveitar esse tempo do Advento para realizarmos a nossa confissão sacramental. 

A primeira leitura da missa deste domingo é do livro do profeta Jeremias (Jr 33,14-16). Jeremias, à semelhança de alguns outros profetas é um que anuncia tempos de paz para Israel. É Deus que falava com eles através da oração, e eles transmitiam a mensagem ao povo. Deus cumpriria a sua promessa e enviaria o Messias esperado, esse Messias anunciaria a justiça e a paz e inauguraria um tempo novo para a humanidade.  

Deus sempre cumpre as suas promessas, muitas vezes não entendemos o porquê de algumas coisas que acontecem conosco, mas um tempo depois entenderemos. Algumas vezes questionamos a Deus a demora de acontecer a graça que pedimos, mas Deus usa de paciência para conosco e no tempo oportuno nos concederá aquilo que pedimos. Tenhamos fé e persistamos em nossos pedidos de oração, do mesmo modo que Jeremias dizia ao povo de Israel para que se preparassem para a justiça que Deus faria enviando o Messias esperado.  

O salmo responsorial é o 24 (25), que diz em seu refrão: Senhor, meu Deus, a vós elevo a minha alma! Ao Senhor elevamos a nossa alma, só N’Ele devemos confiar com toda a confiança e aguardar que a justiça D’Ele seja feita em nossa vida. Nunca devemos desacreditar das promessas de Deus em nossa vida, confiemos sempre, peçamos o perdão de nossos pecados e trilhemos os caminhos da justiça.  

A segunda leitura é da primeira carta de São Paulo aos Tessalonicenses (1Ts 3,12-4,2), Paulo nesse trecho dirigido a comunidade de Tessalônica exorta para que o amor entre eles cresça sempre mais, pois o amor vem de Deus, e esse amor deve ser espalhado entre todos. Crescendo no amor a Deus e ao próximo ficara mais fácil alcançar a santidade, pois através do nosso batismo somos chamados a viver a santidade no dia a dia. Paulo tinha um carinho especial pela comunidade de Tessalônica, pois seguia em tudo aquilo que ele exortava e ensinava, o apóstolo diz para que eles continuem progredindo até o dia da vinda de Nosso Senhor.  

Que cada um de nós possa continuar progredindo no amor a Deus e ao próximo e sobretudo na santidade. É difícil ser uma comunidade perfeita nos dias de hoje, mas busquemos com afinco ser uma, a começar em amar e servir o próximo.  

O Evangelho da missa deste primeiro domingo do advento é de Lucas (Lc 21,25-28.34-36), o evangelista Lucas é o que acompanharemos ao longo desse ano litúrgico até a festa de Cristo Rei de 2025. Conforme dissemos a liturgia nessas duas primeiras semanas do Advento retratam aquilo que acontecerá no final dos tempos, na segunda vinda de Nosso Senhor.  

Os textos têm um cunho escatológico, mas nada que deve nos preocupar, mas devemos estar em constante vigilância e em oração para esse momento. Ao celebrarmos o tempo do Advento em preparação ao Natal nos preparamos para a vinda do Senhor, Ele já nasceu uma vez em Belém, agora Ele deverá nascer em nossos corações. De igual modo nos preparamos para o nosso encontro com Ele, seja pela sua segunda vinda ou no momento de nossa morte. Ninguém sabe quando será, nem o Filho e nem os anjos, somente o Pai. Por isso, temos que estar preparados através da oração, por isso, esse tempo do Advento é um período de vigilância. Até por isso que a liturgia nas duas primeiras semanas nos prepara para esse segundo encontro com o Senhor, e as duas últimas semanas focam na primeira vinda do Senhor.  

Jesus diz ao final do Evangelho, “ficai atentos e orai a todo momento” (Lc 21,36), para estarmos preparados para esse encontro com o Filho do Homem. Jesus já nasceu uma vez, agora o que nós aguardamos é a sua segunda vinda, no qual Ele nos julgará por nossas ações, sobretudo se soubemos amar o nosso semelhante. A melhor maneira de nos prepararmos para essa segunda vinda de Jesus é através da oração e amando aos nossos semelhantes.  

Em cada eucaristia pedimos “Vem, Senhor Jesus”, que Ele possa vir em nosso coração, na nossa vida e na vida de nossa família nesse Natal. O tempo do Advento é um período de muitas graças em que somos convidados a nos confiarmos na misericórdia do Senhor e preparar o nosso coração e o da nossa família para o Messias que chegará no Natal. Temos que recuperar o verdadeiro sentido do Natal, que vai muito além de Papai Noel, mas significado esperar o nosso mais valioso presente que é Jesus.  

Celebremos com alegria, fé e muita esperança esse primeiro Domingo do Advento, que a cada Domingo possa acender em nosso coração a luz do amor, e que irradiemos essa luz a quem nós encontrarmos.  

 

 

Dom Pedro Brito Guimarães  
Arcebispo de Palmas (TO)  

 

          Em contagem regressiva para o Natal, eu me pego a pensar como fui concebido, nasci, cresci e cheguei à idade, que tenho hoje. Passa por minha cabeça e por meu coração que aconteceu, pelo menos, uma série de cuidados para que, hoje, eu estivesse aqui. Senão não estaria aqui para contar esta história.  

         Deus é cuidadoso. Tudo o que Deus faz, faz com cuidado. E tudo o que ele cuida merece crédito. O Senhor Deus foi cuidadoso quando criou, em cinco dias, todas as condições favoráveis à vida (Gn 1,1ss). Ele também foi cuidadoso quando, no sexto dia, criou os seres humanos: homem e mulher os criou (Gn 1,27). E viu que tudo era muito bom (Gn 1,25).  

        Ele, enfim, foi cuidadoso quando criou as condições objetivas para o nascimento de Jesus, nascido da Virgem Maria: “gerado, não criado, consubstancial” a Ele próprio, como reza o Credo Niceno-Constantinopolitano. Tudo feito com muito amor e cuidado. Quando a gente ama, a gente cuida. A escolha do anjo, o tempo, o espaço, o modo, o anúncio a Maria, as palavras empregadas, as explicações dadas, tudo com muito amor, sensibilidade e cuidado. E ainda mais, fez José sonhar com o mesmo anúncio. Mesmo assim, deixou Maria assombrada (Lc 1,29). 

         O cuidado está na base do amor de Deus e também da nossa existência. A criança é o símbolo humano do cuidado. No reino animal somente nós, humanos, precisamos, para viver, de tantos cuidados. Os outros seres não precisam de tantos cuidados assim como o ser humano. E é exatamente por falta de cuidado que muitos morrem antes de nascer; ou se nascem, não sobrevivem por muito tempo. 

         O Natal é cuidado de Deus por nós e também o nosso cuidado de Deus. Jesus é o cuidado de Deus. Ele cuida do nascimento de Jesus para cuidar de nós. Por que será que Jesus nasceu em condições ínfimas: fora de casa, em uma estribaria, guardado apenas por animais? Foi somente por causa do decreto do recenseamento, ordenado pelo Imperador Augusto (Lc 2,1ss)? Deus não se deixa manipular por decisões políticas. Foi apenas por que não havia hospedagem em Belém? Onde estavam os descendentes de Davi, parentes de José, que não os acolheram em suas casas? Deus não se deixar condicionar pelas insensibilidades humanas. 

         Certamente não foram somente por estes motivos. Por que será então? Sabe por quê? O motivo maior é que Jesus nasceu assim para ser cuidado pelo Pai e por nós, como nossos pais e nossas mães cuidam de nós. Ele veio exatamente ao mundo para cuidar da nossa salvação. Não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos (Mc 10,45). Sua vida é a vida de um verdadeiro cuidador: cuida dos pobres, dos doentes, dos endemoniados e dos pecadores e de todos aqueles e aquelas que não se bastam a si mesmos.  

O fato de Jesus ter nascido em uma gruta, deitado em uma manjedoura e envolvido em faixas não possui a sinalização de apelo ecológico? Existem cuidados melhores e maiores do que estes? Belém é o lugar do cuidado de Deus. Belém é o Hospital de Campanha de Deus Pai para Maria, José e Jesus, e para toda a humanidade. Belém é a casa do pão do cuidado e do cuidado do pão. Belém é a nossa casa, a nossa Igreja, a nossa missão. Belém somos todos nós. Belém é onde se cuida da vida. Belém é onde Jesus é cuidado e onde Deus cuida de nós. Belém hoje é aqui e agora. 

         Neste Natal precisamos adotar, como regra de vida, três tipos de cuidados: o cuidado uns dos outros, sobretudo dos que participam de uma forma ou de outra, das nossas estruturas eclesiais; o cuidado das pessoas que estão retornando, chegando ou se aproximando, mesmo que timidamente, das nossas realidades pastorais; e o cuidado com as pessoas que estão fora, distantes e divorciadas de nós.  

        Que ninguém deixe de cuidar de alguém e de ser cuidado, neste Natal, porque o Natal é realmente o tempo do cuidado de Deus. Que neste Natal, cuidemos uns dos outros, como Deus cuida de nós. 

Dom José Gislon
Bispo de Caxias do Sul (RS)

Estimados irmãos e irmãs em Cristo Jesus! Iniciamos com este primeiro Domingo do Advento a nossa preparação “espiritual” para a celebração da Festa do Natal. Podemos dizer que é um tempo de espera, mas não esperamos sozinhos, porque o Santo Natal tem uma forte mensagem de vida, de paz e fraternidade, marcada pelo amor de Deus que toca o coração das pessoas, fazendo irradiar no mundo uma corrente do bem, marcada pelo amor e pela solidariedade.  

Quando falamos em festa, pensamos logo como iremos nos apresentar diante dos convidados que iremos encontrar. O Advento é este tempo de preparação para participarmos da Festa do Natal, mas a nossa preocupação não deveria ser em primeiro lugar com o nosso exterior, mas sim com o nosso interior. A Igreja propõe e dispõe para todas as pessoas e famílias a possibilidade de participarem da preparação espiritual, através da Novena do Natal. Ela nos dá a possibilidade de nos encontrar e partilharmos juntos este momento de espera e esperança. Podemos também colocar a Guirlanda do Natal nas portas das casas, dos apartamentos, nas vitrines e nos espaços do comércio, como símbolo da nossa adesão a esse caminho de preparação espiritual para a celebração do Santo Natal. 

Às vezes manifestamos uma exagerada preocupação em iluminar a casa e o jardim, o que é muito bonito e naturalmente contribui para lembrar que “Jesus” é a luz do mundo. Mas corremos o risco de deixar na escuridão o nosso coração, porque temos medo de abrir suas portas e janelas para que entre a luz do amor, da paz, da esperança, da justiça e da caridade, que nos fazem ver o “rosto” do menino que nasceu em Belém no rosto das crianças, jovens e idosos que vivem em estado de abandono ou em situações de exclusão social. 

O tempo de Advento, vivido na espera e na esperança, para celebrarmos a Festa do Natal, faz sonhar as crianças, mas faz aflorar também nos nossos corações de adultos recordações que marcaram a nossa vida, no contexto familiar e comunitário, quando celebrávamos o Natal à luz de lamparina de querosene, nas famílias e nas comunidades. Pode-se dizer que faltava claridade no ambiente, mas havia brilho nos olhos e no coração pelo “mistério” que se estava celebrando.  

Estimados irmãos e irmãs! O Advento é também um tempo especial para refletirmos sobre o amor, a ternura e a humildade de Deus. É um tempo para olharmos para dentro de nós mesmos, e refletirmos sobre como estamos gastando a nossa vida, e nos perguntar: Tem um espaço para Deus na minha vida? Tenho tirado um pouco do meu tempo para ajudar o meu irmão a ter também dignidade de filho de Deus? Estou amando e cuidando da vida espiritual da minha família? Tenho valorizado a vida como dom de Deus? Tenho feito o bem e praticado a caridade e a justiça? 

Mesmo no contexto de uma sociedade ordeira e trabalhadora, temos muitas realidades que precisam de um olhar de amor e compaixão. Esse olhar não deve ser vivido na indiferença, mas no agir de forma concreta. Por isso, tomo a liberdade de lançar e propor um desafio neste tempo de Advento. Esse desafio é dirigido aos irmãos e irmãs que, em nome do Senhor Jesus, podem fazer algo de bom pelo outro ou pelos outros. Não tenham medo, abram o coração e o façam. Convido cada um em particular a refletir e se propor a fazer uma boa ação neste período de Advento, que antecede a Festa do Natal.