Artigos dos bispos

Dom José Gislon
Bispo de Caxias do Sul (RS)

Estimados irmãos e irmãs em Cristo Jesus! Na realidade deste mundo, somos povo de Deus a caminho, vivendo a peregrinação da vida com a esperança de um dia podermos participar do banquete da vida eterna, na glória do Pai. 

No mês de outubro, Mês Missionário e do Rosário, o nosso querido povo de Deus, participa intensamente das novenas, das procissões e romarias, promovidas pelas Paróquias, nas comunidades, ou pelos Santuários, principalmente os Santuários Marianos, onde Maria, a mãe de Jesus, é carinhosamente invocada sob vários títulos, entre eles o de Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil.  

Os peregrinos que se colocam a caminho para visitar um lugar sagrado simbolizam aqueles que estão em busca da pátria celeste. Com o coração aflito pelos acontecimentos da vida, vão até os Santuários em busca da proteção materna de Maria. E lá chegando, com os pedidos guardados no coração, erguem as mãos para expressar gratidão pelas graças alcançadas. Mas também, no silêncio, movidos pela fé, entreabrem os lábios para fazer uma prece e um pedido, que somente os ouvidos e a sensibilidade, cheia de ternura e de amor de um Pai, e um coração de Mãe, podem entender. Maria é a mãe que acolhe sem distinção o que cada filho ou filha carrega no seu coração, muitas vezes ferido, cheio de dor e de lágrimas, pela falta de amor e de esperança. Esperança de ter saúde e paz na vida e na família; esperança de ter a vida respeitada na sua dignidade e integridade. 

Nesse peregrinar para a casa do Pai, muitos peregrinos buscam fortalecer o espírito de fé, na casa de Maria. Ali, no meio de muitos, eles não passam despercebidos pelo olhar do amor maternal de Maria. Há o peregrino com os pés feridos, pelo longo caminho percorrido, o peregrino que chega até o santuário, ajudado pela caridade e solidariedade dos irmãos, e o peregrino que vem pela primeira vez, movido mais pela curiosidade do que pela vontade interior de fazer um encontro com o Senhor Jesus, o filho de Deus. Há o peregrino de muitas romarias, que leva nos pés os calos e no coração a leveza da alma, de quem encontrou a paz do Senhor, no olhar de ternura de Maria, mãe de Jesus, da Igreja e nossa.  

A Sagrada Escritura nos diz que em família peregrinaram também Jesus, Maria e José, a sagrada família de Nazaré. Peregrinar é sair do nosso lugar, do nosso comodismo, de nós mesmos, para ir ao encontro do Senhor. Peregrinar é caminhar na fé, junto com Maria, seguindo Jesus, caminho, verdade e vida que nos conduz ao Pai. 

 

 

Dom Anuar Battisti 
Arcebispo Emérito de Maringá (PR) 

 

O mês de outubro é tradicionalmente dedicado à oração do Rosário na Igreja Católica, uma devoção mariana profundamente enraizada na história e espiritualidade cristã. Em 2024, o Mês do Rosário convida os fiéis a intensificarem sua vida de oração, contemplando os mistérios da vida de Cristo, sob a intercessão amorosa de sua Mãe, Maria. Esta prática, ao mesmo tempo simples e profunda, é um caminho espiritual que nos leva a um encontro íntimo com Jesus, com Maria como nossa guia. 

A origem da devoção ao Rosário remonta aos primeiros séculos do cristianismo, mas foi formalmente difundida por São Domingos de Gusmão, no século XIII, que, segundo a tradição, recebeu o Rosário da própria Virgem Maria. A Igreja Católica sempre viu o Rosário como uma arma poderosa contra o mal e uma fonte de graça para todos os que o rezam com fé. 

Em seu formato atual, o Rosário consiste na recitação de cinco mistérios em cada conjunto, divididos entre Mistérios Gozosos, Luminosos, Dolorosos e Gloriosos. Ao recitar o Rosário, meditamos sobre os principais acontecimentos da vida de Jesus e de Maria, desde a Anunciação até a gloriosa Ressurreição e a coroação de Maria no céu. 

Essa devoção não se limita à repetição de orações; é um convite à contemplação dos mistérios centrais da nossa fé. Cada Ave Maria nos une a Maria, a Mãe de Deus, que nos conduz para mais perto de seu Filho. Assim, o Rosário se torna uma escola de oração, meditação e vida cristã. 

A razão pela qual outubro é consagrado ao Rosário está ligada à memória litúrgica de Nossa Senhora do Rosário, celebrada no dia 7 de outubro. Esta festa foi instituída pelo Papa Pio V, em 1571, em gratidão pela vitória da Batalha de Lepanto, atribuída à intercessão da Virgem Maria através da oração do Rosário. A partir desse momento, a Igreja promoveu com ainda mais fervor essa prática espiritual, incentivando os fiéis a recorrerem ao Rosário em tempos de necessidade e em busca de paz. 

Em 2024, o tema da missão e do testemunho cristão está profundamente ligado ao Mês do Rosário. Ao rezar o Rosário, nos unimos à missão da Igreja de levar Cristo ao mundo, pois Maria, a primeira missionária, nos ensina a acolher e meditar as grandes obras de Deus. Este mês se torna, então, uma oportunidade especial de renovar nossa vida de oração e compromisso com a missão de anunciar o Evangelho. 

Rezar o Rosário é entrar em um ritmo de oração que nos convida à contemplação profunda dos mistérios da vida de Cristo. Não é uma oração passiva, mas uma meditação ativa que nos transforma. Ao meditar sobre a vida, paixão e glória de Cristo, nos colocamos em sintonia com o mistério da salvação e permitimos que o Espírito Santo opere em nossos corações. 

Cada Mistério do Rosário nos aproxima de um aspecto central da fé cristã: 

Nos Mistérios Gozosos, contemplamos a encarnação de Jesus, desde a Anunciação até sua infância. Maria nos ensina a alegria do “sim” a Deus, mesmo em meio às incertezas e desafios da vida. 

Nos Mistérios Luminosos, introduzidos por São João Paulo II em 2002, meditamos sobre os momentos-chave do ministério público de Jesus, onde Ele revela a luz de Deus ao mundo. 

Nos Mistérios Dolorosos, acompanhamos Cristo em sua Paixão, revivendo seu sofrimento e morte na cruz. Maria, a Mãe Dolorosa, nos ensina a força da fé e do amor no sofrimento. 

Nos Mistérios Gloriosos, celebramos a vitória de Cristo sobre a morte e sua gloriosa ressurreição. Maria, elevada ao céu, nos mostra o destino final que nos aguarda na eternidade. 

Essa meditação contínua nos leva a uma profunda conversão pessoal, à medida que vamos nos conformando à imagem de Cristo, por meio do coração de Maria. O Rosário nos transforma, tornando-nos mais sensíveis ao amor de Deus e ao sofrimento dos outros. 

O Rosário também é conhecido como uma oração de paz. São João Paulo II afirmou que o Rosário é “a oração pela paz e pela família”, insistindo que, em tempos de violência e divisão, a recitação desta devoção mariana pode trazer cura e reconciliação. O pedido de Nossa Senhora em Fátima, em 1917, é uma prova clara de que o Rosário é um instrumento de paz e conversão para o mundo. 

Em um mundo marcado por conflitos, divisões e crises de fé, o Rosário continua sendo uma ferramenta poderosa para os cristãos, que encontram nele a paz interior e a força para enfrentar os desafios diários. A Virgem Maria, Rainha da Paz, intercede por nós, pedindo a Deus que derrame sua paz sobre as famílias, as nações e o mundo. 

Neste Mês do Rosário de 2024, somos chamados a redescobrir e valorizar essa poderosa oração. A recitação do Rosário em família, nas paróquias e em comunidade é uma maneira concreta de fortalecer nossa fé e de nos unir na oração. Além disso, o Rosário nos ajuda a permanecer fiéis à nossa missão de testemunhar Cristo no mundo, sempre sob a proteção materna de Maria. 

Através da oração do Rosário, podemos encontrar consolo nas dificuldades, força nas tentações e alegria nas promessas de Cristo. Ele é um caminho seguro que nos conduz ao coração de Jesus, onde encontramos a plenitude da vida e da graça. 

Que neste mês de outubro de 2024, possamos, com Maria, renovar nossa fé, nossa esperança e nosso amor, permitindo que o Rosário seja um instrumento de transformação e santificação em nossas vidas. Com cada Ave Maria, deixemos que nosso coração se una ao de Maria, para que possamos contemplar com ela os mistérios de Cristo e, assim, sermos testemunhas fiéis do seu amor no mundo. 

Amém. 

Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO) 

 

 

A compreensão de que a sinodalidade deveria permear o caminho da Igreja no início da segunda década do nosso milênio, surgiu no coração do Papa Francisco como um impulso para catapultar a humanidade para fora da agonia que paralisou o mundo causada pela pandemia do Covid 19. 

Assim, em 2021, o Papa propôs que nos recolocássemos novamente em movimento. Infelizmente a Pandemia se estendeu por mais tempo que o previsto, e o movimento teve que ser retardado, as ideias amadurecidas e a missão gestada para um futuro próximo. 

Agora, em outubro de 2024, a etapa que reúne os delegados sinodais em Roma, surge como a conclusão que dará as coordenadas para elaboração de um documento orientativo para a Missão da Igreja no mundo. 

Vale a pena lembrar que o passado distante da Pandemia parece já não nos tocar mais. Daquele tempo lembramos apenas que o álcool gel serve para higienizar as mãos. Aprendemos muito pouco sobre nossas fragilidades e interdependência. De lá até agora, as questões ambientais se fizeram sentir com ainda mais força. Gritaram com um grito ensurdecedor que cobrariam o seu preço. Muitas das questões pouco alentadoras com relação ao clima foram antecipadas, e, até as posições mais pessimistas do início do século XXI, tornaram-se excessivamente otimistas em nossos dias. 

As soluções apresentadas parecem pouco promissoras. Pois, ao considerar que o sistema de produção e consumo, é, hoje em dia, um dilema para o equilíbrio do mundo, a quase totalidade das respostas apontam para mais produção e consumo, deslocando uma única vírgula para alterar o valor do enunciado, mas sem modificar algoritmo. Assim, frente a produção de carros, propõe-se o carro elétrico, mas desconsidera-se que o projeto de construção de um carro continua o mesmo. É isso que chamo deslocar a vírgula sem alterar o algoritmo. Essa questão tem se estendido universalmente nas soluções propostas. 

Por outro lado, quando as nações perdem a força criativa de olhar para frente e moldar o mundo, tendem a olharem para trás e a sonharem com tipos de governos que já falharam no passado, mas que se reapresentam como perspectiva de futuro. O próprio futuro parece ter sido esquecido nesse método de ação, e a orientar as escolhas não é mais a decisão entre bom e ótimo; nem entre o bom e o ruim; mas, como disse o próprio Papa recentemente, é escolha entre o mal e o mal menor. Essa questão se agrava quando até mesmo a decisão entre o ruim e o péssimo perde o toque de objetividade na consciência do cidadão. 

A igreja não se afasta da mentalidade média desse povo. Ela caminha neste mundo, e neste mundo deve encontrar saídas. É comum o discurso de acadêmicos e analistas de pesquisas asseverarem que a Igreja ficou mais conservadora e mais ritualista, o que é verdade! Entretanto, tentar separar a Igreja do mundo, como se sua existência fosse só sua, é algo bastante pueril e pouco objetivo, pois a Igreja e os jovens da Igreja estão no mundo. Não a considerar como tal é descontextualizar a realidade num horizonte de críticas rasas. 

No mundo a Igreja continua e no mundo deve mostrar saídas e soluções. A missão agora é diferente de outros tempos, não se trata mais de uma apologética para ilustrar os princípios da fé. Trata-se de demonstrar o que se tem feito ao longo do tempo, apresentar uma proposta sólida, pautada e acolhida no testemunho daqueles que acreditam no futuro. 

A crença no futuro, aparece assim, no horizonte de toda a Igreja. Reconstruir a possibilidade de um futuro humano e harmônico é uma tarefa inadiável. O ideário necessita ser preenchido por questões que ainda não estão na mesa, mas que precisam ser postas e acolhidas. A missão é pela constituição de um diálogo que tenha as muitas partes dispostas a ouvir e a falar. 

Entretanto, apenas falar e ouvir não produz resultado algum. A nossa palavra é mera conversão de imagens, apenas Deus tem Palavra que cria. O envolvimento institucional para efetivar as palavras ditas, principalmente quando elas surgirem como novidade, é o que abre o futuro e renova a esperança. 

O mundo está num contexto em que a esperança é urgente. O futura precisa ser abreviado mais uma vez, e o binômio falar e ouvir, carece ser transformado em uma tríade: falar, ouvir e executar. É por isso que acolhemos a sinodalidade e aguardamos com esperança as suas conclusões. Que sejam norteadoras e decisivas, capazes de produzir no mundo o desejo de ser e fazer discípulos para Cristo e para um mundo que ainda está por vir.