A Associação São Luís Orione de Buritis (Aslob), localizada na cidade de Buritis, em Rondônia (RO), de caráter beneficente e de assistência social, educacional e cultural desenvolve com seus assistidos, em contraturno escolar, inúmeras atividades pedagógicas. Trata-se de uma iniciativa que envolve crianças e adolescentes, de 7 a 17 anos, matriculados em escola pública
O responsável pelo projeto Gilberto Vieira, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) regional do Mato Grosso, informa que a iniciativa visa contribuir com o fortalecimento do povo Enawêne-Nawê por meio da formação sobre seus direitos constitucionais, como garantia e proteção de seu território, saúde e educação de qualidade, específica e diferenciada

ARTIGOS DOS BISPOS

Dom Vital Corbellini
Bispo de Marabá (PA)

 

Cristo aponta para a Amazônia, dizia São Paulo VI. A Amazônia é a atenção do Brasil e de muitas nações no mundo, devido as suas riquezas, as águas, os povos, as florestas. As suas dimensões são enormes de modo a atrair a vista de milhares de pessoas. É uma região rica de biodiversidade e de suas culturas; ela é de uma vida plena e íntegra, que canta a vida e também ao seu Criador1. No entanto, a vida na Amazônia recebe ameaças pela destruição, exploração ambiental, violação dos direitos humanos elementares2 e, sobretudo alguns povos do campo, das cidades e das florestas sofrem a realidade da fome. Jesus nos ensina para dar de comer a quem passa por necessidade de comida (Mt 14,16). 

Os Estados da região amazônica. 

São ricos de povos, pessoas, minérios, de alumínio, cobre, entre outros produtos minerais, sendo estes objetos de importação interna e exportação, para outros países. A Igreja está presente com o trabalho da evangelização das pessoas, dos povos originais, levando a Palavra de Deus, formando comunidades e a realização dos sacramentos. Para o enfrentamento da fome têm um trabalho importante junto às periferias com as cestas básicas, outras ações caritativas e reivindicando políticas públicas.  

Em relação à questão social é preciso que as empresas invistam mais nos povos da Amazônia. Não se podem negar iniciativas por parte das empresas com as comunidades locais, mas o fato é que as riquezas naturais são tiradas, e estas não se repõem pela vida natural de modo que é preciso valorizar mais as populações, com indústrias, empregos, sobretudo para os jovens. Os jovens são chamados a permanecer na realidade do campo, se houver também uma valorização da agricultura. Desta forma a questão da fome seria mais amenizada quando o lucro, e o dinheiro não falassem mais alto que a valorização do ser humano. Muitas pessoas vêm de outros estados em busca de emprego na região dos Estados do Norte, e muitas vezes não o encontram tornando-se difícil a situação de vida para estas pessoas. A comunidade eclesial é chamada a acolher as pessoas para integrá-las nas pastorais, nos movimentos e nos serviços e na vida comunitária.  

A fome presente. 

A realidade da fome está presente nos povos do campo e das cidades. As famílias não conseguem os seus sustentos, e não tendo subsídios ou mesmo são convidadas a saírem de suas terras de modo que elas vão para o meio urbano, formando cidades com bairros grandes. Muitas destas famílias são obrigadas a morar perto de rios que no período das chuvas inundam as suas casas. É preciso a existência de políticas públicas para as famílias que moram perto dos rios, estão nas periferias das cidades para que a fome seja superada pela partilha, como nos fala a palavra de Deus na multiplicação dos pães. Jesus multiplicou os pães, salvando a situação daquela multidão faminta e não a mandando ir para as localidades, vilarejos a procurar comida (Mt 14,13-19).  

O reconhecimento de uma política pública. 

Em nossa região, o sul do Pará, mas também na Amazônia, percebe-se a importância da agricultura familiar como forma de ajudar as pessoas a superar a fome e ela está ligada às escolas. O texto-base tem presente uma política pública colocando o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) como um exemplo de políticas públicas exitosas no combate à fome e à insegurança alimentar no Brasil. O programa garante o direito à merenda escolar, condições nutricionais e de saúde para cerca de quarenta milhões de estudantes em todo o País. Outro dado importante desta política pública é que a grande maioria de gêneros alimentícios é adquirida da agricultura familiar, assentamentos da reforma agrária e comunidades tradicionais, possibilitando desta forma uma alimentação saudável com os produtos provenientes do agro ecologia para as escolas do campo e da cidade. A agricultura familiar está bem presente na região amazônica, de modo que ela ajuda a combater a fome neste imenso universo da vida dos povos amazônicos.  

A migração na Amazônia e a realidade da fome.  

A Palavra de Jesus pede a todos nós que sejamos pessoas acolhedoras dos migrantes para que a realidade da fome seja superada. O fato é que a Amazônia é uma das regiões com maior mobilidade interna e internacional na América Latina. Diversas são as causas sociopolíticas, de perseguição atraídos por projetos políticos, mega-projetos que atraem trabalhadores, mas que expulsam os habitantes dos territórios afetados. Fica claro também que a questão da migração não é bem assistida devido à falta de serviços básicos dos quais os migrantes necessitam. As pessoas perambulam sem comida e sem alojamentos nos centros urbanos3. Muitas vezes a Igreja e mesmo o poder municipal assistem aos migrantes com casas de acolhida, dando comida e assistência médica. Este fenômeno da migração atinge também as famílias porque quando o pai necessita partir para lugares distantes em busca de trabalho e de condições de vida, deixa a mulher e as crianças crescerem sem a figura paterna. A Igreja e a sociedade são convidadas a acolher os migrantes que vem de longe em busca de vida digna de modo que amenize a problemática da fome.  

Os povos indígenas, guardiões da floresta da Amazônia. 

Os povos indígenas são os guardiões da floresta amazônica. Graças ao Criador, à consciência sempre mais consistente à ecologia integral e aos povos originais, a floresta continua de pé. O Papa Francisco insiste na defesa dos povos indígenas para que os seus direitos sejam respeitados. Ele afirmou em uma de suas mensagens que o fogo que vai devastando a Amazônia não é do Evangelho. Ele disse que o fogo de Deus é o calor que atrai e congrega na unidade. Ele se alimenta com a partilha e não com os lucros4  

O fato é que as suas terras são cobiçadas por interesses econômicos, políticos devido as suas florestas, árvores, nascentes, minérios, o que faz com que as suas lideranças tenham as suas vidas expostas, ameaçadas e mortas, por defenderem os seus povos e as florestas. Muitos destes povos têm a sua sobrevivência saudável, com mandioca, milho, arroz, castanhas, e outros alimentos. Mas também existem povos indígenas que passam necessidades alimentares. No tempo da pandemia alguns dos povos indígenas receberam ajudas provenientes de diversos segmentos da sociedade. A Igreja Católica, o CIMI, a FUNAI e outras entidades sociais ajudaram e ainda ajudam com alimentos devido à fome de muitas pessoas. É muito importante a defesa dos povos indígenas, e estimulá-los as suas vidas nas florestas com a plantação de sementes básicas para uma vida digna deles em suas florestas, rios, moradias e bem estar.  

A Campanha da Fraternidade impulsiona as comunidades para uma vida de fraternidade neste tempo da Quaresma para que as pessoas que passam fome sejam assistidas, ajudadas com os alimentos e com políticas públicas. O Papa Francisco falou que o sonho das pessoas é de uma Amazônia que integre e promova os seus habitantes em vista do bem-viver5. O Senhor nos ajude nesta missão bonita de integrarmo-nos à realidade amazônica, vivendo uma Igreja amazônica para que assim os povos sejam protagonistas da evangelização e da vivência da palavra de Deus, do Mestre em relação à fome: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16). 

Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG) 

 

A Coleta Nacional da Solidariedade, gesto concreto anual da Campanha da Fraternidade, ocorre durante a quaresma. Este ano, acontece no dia 2 de abril, Domingo de Ramos. A coleta da Campanha da Fraternidade é realizada em todas as dioceses do país e os recursos arrecadados são destinados a projetos sociais e pastorais das próprias dioceses e, também, de outras regiões do país. Dessa forma, a Campanha da Fraternidade contribui para a promoção da solidariedade entre as diferentes regiões do Brasil e para a melhoria das condições de vida das pessoas mais vulneráveis. 

Do total arrecadado, as dioceses enviam 40% ao Fundo Nacional de Solidariedade (FNS), gerido pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), ação responsável pelo atendimento a projetos sociais em todo território brasileiro. A outra parte, 60%, permanece nas dioceses para atender projetos locais, pelos respectivos Fundos Diocesanos de Solidariedade (FDS). 

Em 2023, a Campanha da Fraternidade convocou todos os fiéis a refletir à luz da fé o impacto da fome no nosso país. Com o tema “Fraternidade e Fome”, e o lema bíblico “Dai-lhe vós mesmos de comer” (Mt 14,16), refletimos durante toda a Quaresma sobre a importância de saciar a fome de nossos irmãos mais necessitados. Com mais de 33 milhões de brasileiros em situação de pobreza e fome, é uma tema muito pertinente escolhido pela Igreja.  

Como cristãos, nosso papel é sempre trabalhar para reduzir a fome e diminuir os impactos dela na nossa sociedade. Por isso, entre os gestos mais concretos da Campanha da Fraternidade, está a coleta deste Domingo de Ramos. Podemos fazer a nossa parte doando o resultado da nossa penitência durante a quaresma, aquilo que jejuamos e nos abstemos, ou mesmo, doar trabalhos sociais na nossa paróquia e comunidade.  

Devemos viver o espírito fraterno dentro da nossa comunidade, partilhando o pão e com o mesmo olhar amoroso que Jesus teve com os irmãos e irmãs mais necessitados. Se cada um fizer um pouco, esse pouco de cada um será muito. 

A Coleta da Fraternidade é um excelente momento para demonstrarmos, ainda, nosso amor pela Igreja e a ação do Espírito Santo em nossa vida. Sejamos gratos e generosos diante de tudo de bom que Deus faz em nossas vidas. Ao fazemos a nossa doação na coleta deste domingo, estamos contribuindo diretamente com as obras de evangelização e com a superação da fome em nosso país. 

Abramos nossos corações para entrarmos na Semana Santa com o coração puro e preparados para vivermos santamente a Páscoa de Nossa Senhor. 

Saudações em Cristo! 

 

 

Dom Aloísio Alberto Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul (RS)

QUARESMA E CAMPANHA DA FRATERNIDADE – 05 

Caros diocesanos. A quaresma vai adiantada e já nos familiarizamos com o tema da Campanha da Fraternidade que, em 2023, mais uma vez trata da fome. Para a solução do problema da fome, não bastam ações ocasionais ou de ajudas de emergência, por mais importantes que estas possam ser, mas é necessário corrigir questões estruturais que levam a situações permanentes de fome. Por isso os cristãos não podem ficar indiferentes diante dos irmãos que passam fome e não têm vida digna.  

O engajamento na busca de soluções eficazes para o drama da fome deve inspirar-se no evangelho, pois a solidariedade nasce da espiritualidade. A caridade é o distintivo que nos identifica, ela é inerente ao nosso ser cristão. Nossas mãos erguidas em oração devem ser as mesmas que ajudam os irmãos que não têm dignidade de vida, como Deus a quer: “Cada pessoa, grupo, comunidade e instituição é convocada a discernir a respeito do que pode fazer diante do flagelo da fome” (TB, n.165). 

O texto-base da Campanha da Fraternidade dá algumas sugestões concretas: 

O que eu posso fazer? – Partilhar com aqueles que mais necessitam, em âmbito de família, comunidade, escola, trabalho; praticar jejum e reverter os alimentos respectivos para os pobres; rever o estilo de alimentação, cuidar do desperdício, colaborar nas coletas e participar em conselhos que cuidam dos direitos de vida digna das crianças, dos jovens, dos idosos; apoiar pastorais sociais e envolver-se no voluntariado; na política com espírito cristão para combater a fome e a pobreza, etc. 

O que nós, como comunidade-Igreja, podemos fazer? – Participar ativamente da Campanha da Fraternidade, organizada pela Igreja do Brasil, que destina 60% dos recursos arrecadados para o Fundo Diocesano de Solidariedade e 40% são enviados para o Fundo Nacional de Solidariedade; envolver-se em campanhas existentes que visam a solidariedade para a superação da fome e da pobreza na comunidade; incentivar as hortas comunitárias ou outras iniciativas, em vista de uma alimentação saudável e compartilhada; envolver-se em serviços de caridade e pastorais sociais que atuam na superação da desigualdade social e da fome; envolver os serviços pastorais como catequese, ministros extraordinários e demais lideranças comunitárias para refletir sobre a temática em questão e realizar ações concretas de combate à fome; incentivar a participação nos conselhos de direitos humanos; incentivar o ecumenismo, as escolas de Fé e Cidadania, a Doutrina Social da Igreja, etc. 

O que nós, sociedade cidadã, podemos fazer e cobrar dos políticos eleitos? Promover audiências públicas que discutam a situação da fome e colaborar com políticas públicas para erradicação da fome; organizar grupos de orientação e educação alimentar, economia doméstica, horta em casa; promover atividades escolares sobre a fome; incentivar as hortas comunitárias, a produção diversificada de alimentos na agricultura familiar e investir na merenda escolar; ampliar as feiras populares; priorizar a vida dos cidadãos aos interesses econômicos e garantir alimentação acessível e saudável a todo povo, etc.. 

Para o sucesso da Campanha da Fraternidade é preciso que haja envolvimento de todos os atores eclesiais na organização, formação e divulgação. Todos os batizados devem unir-se neste serviço de comunhão eclesial, de formação das consciências e do comportamento cristão em vista da edificação de uma verdadeira fraternidade cristã: “Um conjunto de reflexões e ações que deve envolver o todo da Igreja, transbordando para o todo da sociedade” (TB, n.174). Desejamos a todos uma boa Campanha da Fraternidade. 

 

 

 

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