Neste ano, a Pastoral Juvenil propõe aprofundar a questão da fome, em sintonia com a Campanha da Fraternidade 2023 com o tema: “E todos ficaram saciados” (Lc 9,17). De acordo com a Pastoral Juvenil, "o tema, refletido e rezado, lembra o caráter missionário do DNJ, e um convite do Senhor a estar “ao seu lado”, para depois enviar a amar como Ele ama"
A Comissão para a Animação Bíblico-Catequética da CNBB promoverá de 21 a 23 de agosto, de forma online, o Seminário Nacional da Animação Bíblica da Pastoral (ABP), com o objetivo de oferecer uma reflexão a respeito do que é a ABP e caminhos para sua implementação. São convidados a participar bispos, padres e cristãos leigos envolvidos no trabalho

ARTIGOS DOS BISPOS

Cardeal Sergio da Rocha 
Arcebispo de Salvador (BA)

 

O grave e preocupante problema do racismo no futebol veio à tona novamente, ocupando grande parte da mídia, devido ao caso ocorrido na Espanha, atingindo duramente o jogador brasileiro conhecido como Vinícius Júnior (Vini), vítima também de outras manifestações. Infelizmente, o racismo persiste no cenário contemporâneo, causando dor e indignação na vida de inúmeras pessoas e de suas famílias, deixando feridas abertas e cicatrizes profundas. 

Uma sociedade, de fato democrática, não pode tolerar manifestações racistas, seja nas arenas dos esportes, seja nos campos da vida.  Embora atingindo também outros grupos sociais, o preconceito racial e étnico atinge, sobretudo, a população negra. Passos significativos e portadores de esperança têm sido dados na legislação civil para a superação desta chaga social, principalmente através da penalização dos infratores.  Mas o caminho a percorrer é longo para a sua erradicação, exigindo sempre mais efetividade na aplicação da justiça, mas também no âmbito da prevenção, através de uma nova cultura fundamentada na dignidade inviolável de cada pessoa, no respeito às diversas culturas e raças, na convivência fraterna e pacífica. Os poderes públicos têm muito a fazer no combate ao racismo, mas é preciso um esforço permanente e incansável envolvendo a sociedade civil organizada, as escolas, as universidades e as diversas confissões religiosas, dentre outros. Além disso, cada um pode contribuir muito para a superação do preconceito racial nos ambientes em que vive, jamais justificando ou reproduzindo atitudes preconceituosas. A resposta à pergunta “até quando” depende também de cada um de nós. Não se pode perder a capacidade de indignação ética diante de manifestações racistas. O desrespeito e a banalização da vida, com as suas várias expressões, não podem ser incorporados ao cotidiano como algo tolerável ou inevitável. 

O racismo é sempre desumano e desumanizador; representa uma grave ofensa ao Criador e a negação do amor ao próximo ensinado por Jesus. A dignidade está inerente à condição de ser humano; não ocorre por concessão de alguma pessoa ou instituição social. É um dado antropológico a ser reconhecido e tutelado pelas instituições sociais, que não podem jamais ignorá-la ou permitir a sua violação. O não reconhecimento da real dignidade de cada pessoa, por diversos motivos, como a cor da pele, a cultura, a religião ou a condição social, gera desrespeito, discriminação, violações à vida e aos seus direitos fundamentais. O ser humano, “imagem e semelhança” de Deus, possui uma dignidade incomparável, a ser reconhecida em qualquer condição ou situação. Entretanto, as pessoas ou grupos mais vulneráveis, as vítimas de injustiças e preconceitos, necessitam de maior atenção e solidariedade. O caso de racismo no futebol nos leve a estar vigilantes e comprometidos com a superação dos preconceitos e da intolerância nas arenas da vida. 

 

 

 

 

Dom Dirceu de Oliveira Medeiros
Bispo de Camaçari (BA) 

 

 

“Todo escriba (…) é semelhante a um homem que tira do seu tesouro coisas novas e velhas.” (Mt 13, 52) 

O Concílio Vaticano II nos ensinou a ler os sinais dos tempos, sempre a partir da Palavra de Deus e com o olhar do Cristo Ressuscitado. É preciso sempre partir de Cristo, a Palavra Encarnada do Pai. 

Se é verdade que precisamos ter um olhar na direção do céu, pois somos cidadãos do céu, também é verdade que é preciso ler a realidade com os óculos da fé. O cenário que se descortina diante de nós é cada vez mais desafiador. As pesquisas tem revelado o aumento do número dos chamados “descrentes”, sem Igreja e etc.  

Como repropor a beleza do Evangelho e ungir tais pessoas com o óleo da alegria? O grande areópago que se revela a nós hoje é composto por essa realidade e pelo mundo virtual. Ainda não somos capazes de transitar por esse terreno, as vezes fértil e as vezes pantanoso. 

Mas o que mais salta aos olhos é constatar que as mudanças em curso apontam para algo muito mais estrutural que conjuntural. Não se trata de mudanças em aspectos secundários ou de menor relevância, mas uma mudança profunda que trará algo novo, certamente com aspectos favoráveis e desfavoráveis à fé. Sabiamente as diretrizes da Igreja tem falado em mudança de época e não em época de mudanças. Destacaria em particular três novos dados que marcam nossa época e em pouco tempo. A velocidade das mudanças tem sido cada vez mais acelerada. Há quem afirme que a tecnologia está evoluindo mais rápido do que a capacidade humana. 

Mas voltemos aos três novos dados que impactaram a todos nós e, consequentemente a Igreja e o desafio da Evangelização. Primeiramente o crescimento de um extremismo político que gerou uma polarização sem precedentes e crescente na sociedade. Esse extremismo veio acolitado de um abandono do razoável ou da razão. Este irracionalismo se veste de negacionismo. O segundo aspecto que emergiu em tão pouco tempo é a força das redes sociais e novas tecnologias que se tornaram um lugar, que por um lado é um recurso, mas por outro, um desafio à convivência humana e a Evangelização. Por fim, a pandemia, que impactou a humanidade em todos os aspectos: econômico, social, psicológico e outros. Não devemos subestimar suas consequências.  

Ao convocar o Jubileu do Ano de 2025, o Papa Francisco, em sua carta ao Prefeito para o Dicastério para a Nova Evangelização, considera o impacto da pandemia e diz: Mas, nos últimos dois anos, não houve nação que não tenha sido transtornada pela inesperada epidemia (…) O próximo Jubileu poderá favorecer imensamente a recomposição dum clima de esperança e confiança, como sinal dum renovado renascimento do qual todos sentimos a urgência. Por isso escolhi o lema Peregrinos de esperança.” 

Atendamos ao apelo do Santo Padre, profeta da Esperança e desde já nos preparemos! 

 

 

Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ) 

 

Com a Solenidade de Pentecostes chegamos ao término do tempo da Páscoa! Essa solenidade para nós é um marco do qual vemos o surgimento da Igreja que é sustentada e animada pelo Dom e pela Força do Espírito Santo. A palavra Pentecostes vem do grego, pentekosté, é o qüinquagésimo dia após a Páscoa. Comemoramos nesta solenidade o envio do Espírito Santo à Igreja. Em cumprimento à promessa de Jesus: “quando vier o Paráclito, que vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da Verdade que vem do Pai, ele dará testemunho de mim e vós também dareis testemunho” (Jo 15, 26-27). Dessa maneira, o Espírito foi enviado sobre os Apóstolos e Cristo está presente na Igreja, que é continuadora da sua missão. 

A origem de Pentecostes vem do Antigo Testamento, uma celebração da colheita (Ex 23, 14), dia de alegria e ação de graças, na verdade uma festa completamente agrária. Nesta festa, o povo oferecia a Deus os primeiros frutos que a terra tinha produzido. Mais tarde, tornou-se a festa da renovação da Aliança no Sinai (Ex 19, 1-16). No Novo Testamento, Pentecostes está relatado no livro dos Atos dos Apóstolos 2, 1-13. Como era costume, os Apóstolos, juntamente com Maria, Mãe de Jesus, estavam reunidos para a celebração do Pentecostes judaico. De acordo com o relato, durante a celebração, ouviu-se um ruído, “como se soprasse um vento impetuoso”. “Línguas de fogo” pousaram sobre os apóstolos e todos ficaram repletos do Espírito Santo e começaram a falar em diversas línguas. 

Pentecostes é a coroação da Páscoa de Cristo. Nele, acontece a plenificação da Páscoa, pois a vinda do Espírito sobre os discípulos manifesta a riqueza da vida nova do Ressuscitado no coração, na vida e na missão dos discípulos. Podemos notar a importância de Pentecostes nas palavras do Patriarca Atenágoras (1948-1972): “Sem o Espírito Santo, Deus está distante, o Cristo permanece no passado, o evangelho uma letra morta, a Igreja uma simples organização, a autoridade um poder, a missão uma propaganda, o culto um arcaísmo, e a ação moral uma ação de escravos”. O Espírito traz presente o Ressuscitado à sua Igreja e lhe garante a vida e a eficácia da missão. 

Somente no Santo Espírito podemos compreender que toda a criação e toda a história são penetradas pela vida de Deus que nos vem pelo Cristo; somente no Santo Espírito podemos perceber a unidade e bondade radicais da criação que nos cerca, mesmo com tantas trevas e contradições. É o Santo Espírito, doce Consolador, que nos livra do desespero e da falta de sentido! 

Nele tudo se mantém, tudo tem consistência, tudo é precioso: “Encheu-se a terra com as vossas criaturas: se tirais o seu respiro, elas perecem e voltam para o pó de onde vieram. Enviais o vosso Espírito e renascem e da terra toda a face renovais”. É por sua ação constante que tudo existe e persiste no ser. Sem ele, tudo voltaria ao nada e nada teria consistência real. Nele, tudo tem valor, até a mais simples das criaturas. 

Sem ele, nada, absolutamente, podemos nós: “Sem a luz que acode, nada o homem pode, nenhum bem há nele!” Por isso Jesus disse: Sem mim, nada podeis fazer (Jo 15,5)”, porque sem o seu Espírito Santo que nos sustenta e age no mais íntimo de nós, tudo quanto fizéssemos não teria valor para o Reino dos Céus. Jesus é a videira, nós, os ramos, o Espírito é a seiva que, vinda do tronco, nos faz frutificar… 

Ele é a nova Lei – não aquela inscrita sobre tábuas de pedra, mas inscrita no nosso coração (cf. Ez 11,19; Jr 31,31-34), pois “o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito que nos foi dado” (Rm 5,5). A lei de Moisés, em tábuas de pedra, fora dada no Sinai em meio a relâmpagos, trovões, fogo, vento e terremotos (cf. Ex 19); agora, a Nova Lei, o Santo Espírito nos vem em línguas de fogo e vento barulhento e impetuoso, para marcar o início da Nova Aliança, do Amor derramado no íntimo de nós! 

Peçamos o Dom do Espírito Santo sobre cada um de nós e sobre as nossas comunidades, pois, é o Espírito Santo nos fortalece em meio as tantas dificuldades que enfrentamos. Ilumina-nos Divino Espírito, venha insuflar o teu amor em nossos corações para que possamos ser testemunhas vossas neste mundo que tão precisa de Ti.  

 

 

 

 

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