Artigos dos bispos

Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)

 

“Eu sou a ressurreição. Quem crê em mim, ainda que morra viverá.  

E quem vive e crê em mim jamais morrerá.”(Jo 11, 25-26) 

Com o coração repleto de gratidão e ao mesmo tempo de profundo pesar, unimos nossa Igreja no Rio de Janeiro à Igreja espalhada por toda a Terra para manifestar nosso luto pelo falecimento do Santo Padre, o Papa Francisco nesta manhã do dia 21 de abril de 2025. Sua vida foi um testemunho eloquente do Evangelho vivido na simplicidade, na proximidade e na misericórdia. Sua partida deixa um imenso vazio, mas seu legado de amor e serviço nos acompanhará para sempre. Depois de dar a bênção a Roma e ao mundo no dia de ontem diante da Basílica Vaticana, no domingo de Pácoa, e feito o giro pela praça despedindo do povo nos deixa um legado inestimável de passos importantes dados e a dar na caminhada da igreja no mundo de hoje. Partiu em plena oitava de Páscoa, tempo de anunciar a Cristo Ressuscitado que venceu e morte! 

O Rio de Janeiro teve a graça de acolher o Papa Francisco em 2013, durante a Jornada Mundial da Juventude. Aqueles dias foram inesquecíveis para nossa cidade, para o Brasil e para o mundo. O Papa veio ao nosso encontro como verdadeiro pastor e amigo, trazendo palavras que ainda hoje ressoam em nossos corações: não tenham medo de ser generosos com Cristo, de testemunhar o seu Evangelho.” Seu olhar sobre os jovens, os pobres e as periferias nos ensinou a viver uma Igreja que vai ao encontro, que acolhe e que se faz próxima. 

O Papa Francisco teve um carinho especial pelo Brasil. Rezou por nós, animou-nos na missão e nos confiou grandes desafios, como a defesa da vida, o cuidado da criação e a construção de um mundo mais justo e fraterno. Em nossa cidade, tocou as dores dos que sofrem, visitou a Comunidade da Varginha e fez ecoar a mensagem de esperança para todos aqueles que, por causa das injustiças, se sentem esquecidos. 

Neste momento de despedida, elevamos nossa oração ao Pai de Misericórdia, confiando o Papa Francisco à intercessão de Nossa Senhora Aparecida, a quem ele tanto amava, e de São Sebastião, padroeiro de nossa Arquidiocese. Que seu testemunho inspire nossa Igreja a continuar sendo sinal do amor de Cristo no mundo. 

O Papa Francisco sempre nos dizia: “Não tenham medo de ir e levar Cristo para todos os ambientes, até as periferias existenciais.” Que sua vida seja para nós um farol a iluminar nosso caminho, e que sua memória seja eternamente um chamado a vivermos o Evangelho com alegria, humildade e coragem. 

Obrigado, Santo Padre! Seu sorriso, sua voz e sua ternura permanecerão vivos entre nós. 

 

 

Dom Anuar Battisti
Arcebispo Emérito de Maringá (PR) 

 

Com o coração entristecido, mas cheio de gratidão a Deus, unimo-nos à Igreja do mundo inteiro para render graças pela vida e missão do Papa Francisco, que hoje retorna à Casa do Pai. Sua partida marca o fim de uma era profundamente transformadora na história da Igreja, mas também o início de um tempo de memória viva, em que seus gestos, palavras e escolhas continuarão a inspirar gerações. 

Desde o momento em que apareceu na sacada da Basílica de São Pedro, na noite de 13 de março de 2013, pedindo humildemente a oração do povo antes de abençoá-lo, sabíamos que estávamos diante de um novo estilo de Pontificado. Jorge Mario Bergoglio, o primeiro Papa latino-americano, jesuíta, escolheu o nome Francisco — e com ele abraçou a missão de ser sinal de simplicidade, cuidado com os pobres e testemunho radical do Evangelho. 

O Papa Francisco foi, acima de tudo, um pastor próximo, que não teve medo de ir ao encontro das periferias existenciais e geográficas. Com gestos concretos e palavras diretas, foi um profeta da misericórdia, como bem expressou na bula de proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia (2015): “A misericórdia é a viga que sustenta a vida da Igreja.” Sob sua liderança, a Igreja redescobriu a beleza de acolher, de ouvir e de caminhar com todos, especialmente os mais frágeis. 

Sua opção preferencial pelos pobres, seu chamado insistente à conversão pastoral, sua denúncia profética da indiferença global frente ao sofrimento humano, e sua defesa incansável da ecologia integral — como expressa na Encíclica Laudato Si’ — fizeram dele um líder espiritual de dimensão global, ouvido não apenas pelos católicos, mas por pessoas de todas as crenças e ideologias. 

Homem de oração silenciosa, devoto de Santa Teresinha e de São José, Papa Francisco uniu em si a firmeza do pastor e a ternura do pai. Sua linguagem acessível tocou os corações, e suas homilias matinais em Santa Marta, cheias de sabedoria pastoral, formaram uma verdadeira escola de espiritualidade simples e profunda. 

Não se pode esquecer também de sua coragem reformadora. Com firmeza evangélica, enfrentou desafios internos da Igreja, promovendo a transparência, a sinodalidade e a participação. Convidou-nos a sermos uma Igreja em saída, com “cheiro de ovelha”, comprometida com a construção de um mundo mais justo e fraterno. 

Neste dia 21 de abril de 2025 enquanto o mundo se despede deste grande servo de Deus, somos chamados a guardar e multiplicar os frutos de seu Pontificado. O Papa Francisco foi, verdadeiramente, um dom do Espírito Santo à nossa época. Sua memória permanecerá viva nos corações dos que viram nele um sinal luminoso da presença de Cristo no mundo. 

Rezemos por sua alma, confiando-o à misericórdia daquele Senhor a quem serviu com inteireza de coração. E que, lá do céu, continue intercedendo por esta Igreja que tanto amou. 

Descanse em paz, Papa Francisco! O mundo é melhor porque você passou por ele. 

 

 

Dom Mário Antonio
Arcebispo de Cuiabá (MT)

 

Nosso amado Papa Francisco, neste Ano Jubilar da Encarnação, retornou à Casa do Pai, deixando-nos um legado profundo de fé, e de amor, sobretudo, misericórdia. A Igreja chora sua partida, mas exulta pela vida de um homem que, com humildade e coragem, traduziu o Evangelho em gestos concretos de proximidade e compaixão.

Desde aquela noite de 13 de março de 2013, quando apareceu pela primeira vez na sacada da Basílica de São Pedro e pediu ao povo que rezasse por ele antes de dar sua bênção, sabíamos que estávamos diante de um pontificado singular. Francisco foi o primeiro em muitos aspectos: primeiro jesuíta, o primeiro latino-americano, o primeiro não europeu em mais de doze séculos. Sua eleição não foi apenas um marco histórico, mas também um sinal da ação viva do Espírito Santo na condução de uma Igreja em saída, verdadeiramente missionária.

Francisco ” primeireou “! E nenhum desses títulos podem definir o primeiro papa a visitar o Iraque, a abrir uma Porta Santa em uma penitenciária, a rezar sozinho na Praça São Pedro vazia em meio à pandemia, a proclamar um ano dedicado a São José, a convocar um Jubileu centrado na misericórdia e outro voltado a peregrinação e esperança. Mas do que feitos, o que marcou seu pontificado foi o espírito com que os realizou, caminhando com todos, sem ignorar os pobres e atento as periferias existenciais.

Sua primeira encíclica, Lumen Fidei, elaborada a partir do trabalho iniciado por Bento XVI, já indicava a direção que tomaria: a fé como luz capaz de vencer as sombras da morte e abrir-nos à vida plena em Deus. Essa mesma fé foi vivida por Francisco até o fim, com esperança e ternura, nas suas exortações apostólicas e encíclicas: Laudate Deum , um apelo as pessoas sobre a crise climática, a Laudato Si , sobre os cuidados com a casa comum e a Evangeli Gaudium , um convite para testemunhar o evangelho com alegria.

Essa fé do Pontífice me alcançou de modo pessoal. Encontrei o Papa Francisco em mais de três oportunidades: num dos encontros com o Papa Francisco, confiando o ministério que hoje exerço com zelo, amor e gratidão. A confiança do Papa permanece como um apelo diário à fidelidade e ao serviço, pois até me disse: Bispo, Metà Metà ,  (bispo, metade metade), disse-me ele ao me encontrar semanas antes de assumir a missão de governar a Igreja em Cuiabá. Na oportunidade, entendi. Metade em Roraima, metade em Cuiabá, já que ele sabia de meu sim para essa missão que completará 3 anos no próximo mês de maio.

Papa Francisco nos ensinou a ver o mundo com os olhos de Cristo: olhos que não condenam, mas acolhem; que não impõem, mas propõem; que não se fecham à dor do outro, mas se movem à compaixão. E agora que ele fez sua Páscoa?

Agora, seguimos confiantes, silenciosos, agradecidos e na esperança que ele sempre anunciou e testemunhou. A esperança que transforma a dor da despedida na certeza da ressurreição. A esperança que nos lembra: a última palavra é sempre de Deus, e essa palavra é amor que gera vida.

Seguimos firmes, em oração, certos de que o Espírito guiará a Igreja na escolha de um novo sucessor de Pedro, em sinodalidade, caminhando juntos, e agradecendo a Deus pela vida, vocação e missão de Francisco, pedindo que o acolha em Sua luz eterna e no Reino do Cristo Bom Pastor. Continuemos a rezar pelo Papa Francisco, que muito nos amou, e o amaremos sempre.