Artigos dos bispos

Dom Pedro Cipollini
Bispo de Santo André (SP)

 

Estamos celebrando  o Ano Santo que, por bondade de Deus e da Igreja, teremos a oportunidade de viver com o Jubileu de 2025. O jubileu é um importante evento religioso eclesial. É um ano de misericórdia em que a todos é facilitada a possibilidade do perdão e remissão dos pecados e suas penas correspondentes.  

Portanto, é ano marcado pela conversão, pelo sacramento da penitência, mas sobretudo pela Alegria, pois, jubileu vem de júbilo. Alegria de ser perdoado. 

A origem da prática do Jubileu encontra-se no Antigo Testamento, no livro do Levítico (cf. Lv 25,8-13). O ano jubilar era anunciado ao som do shofar (chifre de carneiro), que em hebraico é chamado de “Yobel”, daí o nome Jubileu. Em uma sociedade marcada pela divisão e os conflitos, sejam eles pessoais, grupais ou nacionais, o Jubileu lembra-nos que somos todos irmãos e participamos da redenção trazida por Jesus Cristo.  

A celebração implicava o perdão das dívidas, a libertação dos escravos e o repouso da terra. Era o ano da “redenção”. O Novo Testamento 

apresenta Jesus Cristo como o cumprimento do antigo jubileu, pois ele veio para “proclamar a redenção aos cativos e a vista aos cegos, a restituir a liberdade aos oprimidos, a proclamar o ano da graça do Senhor” (Le 4,18-19; cf. Is 61,1-2). 

O primeiro jubileu da Igreja Católica foi proclamado pelo Papa Bonifácio VIII em 1300. Essa iniciativa promoveu o reflorescimento da espiritualidade, do perdão e fraternidade. O papa determinou que todos  aqueles que visitassem a basílica de São Pedro, em Roma, receberiam a remissão dos seus pecados, e que essa iniciativa se repetiria a cada 100 anos, posteriormente, reduziu o intervalo para 50 anos e, finalmente, estabeleceu-se a celebração do Jubileu a cada 25 anos. 

O Jubileu do Ano Santo de 2025 tem como lema: “Peregrinos da Esperança“. O Papa Francisco, na Bula Spes non confudit (A Esperança não engana), afirmou: “A esperança é também a mensagem central do próximo Jubileu […] Possa ser, para todos, um momento de encontro vivo e pessoal com o Senhor Jesus, ‘porta’ de salvação (cf. Jo 10, 7.9); É Ele, que a Igreja tem por missão anunciar sempre, em toda parte e a todos, 

como sendo a ‘nossa esperança’ (1Tm 1, 1)”. 

Estamos mesmo todos necessitados da Benção de Deus e da renovação de nossa esperança. Esperança que vem da certeza de que em Jesus, Deus caminha conosco e nos ampara em todas as situações. 

Que cessem as guerras e reine a paz! 

 

Dom Antonio de Assis
Bispo de Macapá (AP)

 

A DIMENSÃO SOCIO-PASTORAL DO ANO JUBILAR (4) 

No capítulo 25 do Levítico, o toque da trombeta alertava o país inteiro para o início do ano jubilar que era para todos um compromisso de promoção da justiça, da fraternidade, do bem comum. Era um tempo de partilha, libertação, recuperação das perdas (cf. Lv 25,8-12). Tratava-se da restauração das relações de fraternidade, eliminando da sociedade muitas formas acumuladas de injustiças: em relação aos bens (propriedades), na família, no tratamento dos escravos, estrangeiros e na relação com a natureza. 

Essa busca da harmonia integral era por vontade de Deus que, ao criar o mundo, viu que tudo era bom, e assim, a paz voltaria por causa da promoção da justiça (cf. Lv 25,18-19). De fato, o Papa Paulo VI, na encíclica Populorum Progressio nos recordou essa íntima relação entre Justiça e Paz. A Paz no mundo depende da promoção da justiça que, por sua vez, pressupõe a promoção do desenvolvimento integral dos povos; dessa forma, não há Paz onde reinam injustiças (cf. PP, 76-77,83); “o desenvolvimento (integral) é o novo nome da paz” (PP, 87). É por isso que na vivência do ano jubilar, não bastava dimensão econômica, mas a meta era a promoção da justiça fraterna.   

No texto sobre o ano Jubilar no livro do Levítico há a acusação de muitos males que havia naquela sociedade: a perda da terra por causa de dívidas (cf. Lv 25,13), a injustiça nas relações de compra e venda, exploração (cf. Lv 25,14-16). Por isso se recorda profeticamente a sentença divina: “Ninguém de vocês explore o irmão, mas tema o Deus de vocês, porque eu sou Javé, o Deus de vocês” (Lv 25,17).   

A promoção da justiça humana, tem um fundamento divino; isso significa que o homem não basta a si mesmo, não é suficiente a justiça legal (pois ela pode ser moralmente injusta!), não basta a decisão das autoridades civis e a obediência dos cidadãos, é preciso que se respeite a vocação do ser humano, a sua dignidade que ultrapassa as convenções humanas e os parâmetros culturais.  

Em relação a essa questão, também a Encíclica Populorum Progressio afirma: “O homem pode organizar a terra sem Deus, mas sem Deus só a pode organizar contra o homem. Humanismo exclusivo é humanismo desumano. Não há, portanto, verdadeiro humanismo, senão o aberto ao Absoluto, reconhecendo uma vocação que exprime a ideia exata do que é a vida humana. O homem, longe de ser a norma última dos valores, só se pode realizar a si mesmo, ultrapassando-se” (PP, 42). A promoção da justiça tem um fundamento antropológico e vocacional, ou seja, é uma exigência que brota da natureza humana e é a condição para a felicidade. A alegria de Deus Pai está na prática do amor entre seus filhos (cf. Jo 15,11). Por isso, a vida cristã é compromisso permanente de vivência do ano jubilar: a promoção do Amor a Deus e ao próximo.  

As consequências socio-pastorais do ano jubilar comprometem as comunidades e instituições católicas a um relançamento da sua sensibilidade social. E a forma mais concreta de realizar isso é através da restauração da consciência de responsabilidade social das pastorais para que o ano jubilar não se reduza às práticas espirituais e litúrgicas.  

Temos muitas realidades dramáticas que são trombetas que soam e devem nos incomodar mais: o aumento dos moradores de rua, as violências, a indiferença, a solidão, o crescimento das dependências, a cultura da corrupção, a desordem climática, a fragmentação familiar, as relações polarizadas, o enfraquecimento da paixão pelo Bem comum, o envelhecimento das lideranças etc.  

Portanto, o Ano Santo é uma maravilhosa oportunidade para a revitalização das pastorais e relançamento da animação missionária de todas as forças vivas da Igreja. Não há autêntico Ano Santo sem dimensão socio-missionária e nem santidade sem a justiça que brota do amor fraterno. O Ano Jubilar reforça o compromisso da conversão pastoral. 

Dom Jailton Oliveira Lino
Bispo de Teixeira de Freitas-Caravelas (BA)

 

“Quando a terra seca clama pelo céu…” Quantos de nós já nos sentimos assim? Perdidos, áridos, como um solo que há muito tempo não sente o frescor da chuva. A canção Terra Seca não fala apenas da natureza. Ela fala de nós. De nossas almas sedentas, de nossos corações que tantas vezes têm vivido longe da fonte de vida que é Deus. 

E agora, em 2025, a Igreja nos chama. O Jubileu chega como a resposta desse clamor. É como se o próprio céu dissesse: “Eu ouvi o teu grito. Eu trarei a chuva.” Mas eu te pergunto: você está pronto para recebê-la? 

Vivemos tempos difíceis. O mundo está seco de compaixão, de justiça, de amor. Quantos corações estão endurecidos pela indiferença? Quantas vezes escolhemos o egoísmo, ignorando o outro? Estamos como a terra rachada que rejeita a semente porque não se preparou para o momento da chuva. Mas o Jubileu nos desafia: prepare o solo do seu coração. 

Esse ano santo não é apenas uma celebração. É um chamado. Um chamado para sairmos de nossa zona de conforto, para enfrentarmos a aridez de nossas vidas e nos deixarmos transformar pela misericórdia de Deus. O Jubileu nos convida a sermos peregrinos da esperança, mas para isso, precisamos nos perguntar: estamos dispostos a caminhar? 

A graça de Deus é como a chuva, mas a terra precisa querer florescer. Você está disposto a abrir mão do orgulho, da raiva, da culpa que pesa no peito? Está disposto a perdoar quem te feriu e buscar reconciliação com Deus, com os outros e com você mesmo? 

Olhe para o mundo ao seu redor. As guerras, as desigualdades, o sofrimento dos pobres e o descaso com a criação são reflexos de uma humanidade que se afastou da sua essência. O Jubileu é um convite para mudar essa realidade, mas a mudança começa em você. 

Talvez você se pergunte: E se eu não conseguir? Eu te digo: Deus é fiel. Ele nunca te abandonará. Assim como a chuva vem no tempo certo, a graça d’Ele chega para renovar aquilo que parecia perdido. Mas você precisa estar disposto. É preciso abrir o coração, tirar as pedras do caminho e deixar que Ele faça o impossível: transformar seu deserto em um jardim. 

Não viva este ano santo como um espectador. Seja protagonista. Vá à confissão, participe das celebrações, ajude quem precisa, cuide da criação. Viva como quem acredita que o amor de Deus pode mudar o mundo, porque pode. 

A terra seca está clamando. Você também está. E Deus responde: “Eis que faço novas todas as coisas.” O que você fará com essa promessa? 

“Que venha a chuva. Que venha a vida.”