Artigos dos bispos

Dom Pedro Cipollini
Bispo de Santo André (SP)

 

A Campanha da Fraternidade deste ano é sobre ecologia: “Fraternidade e ecologia integral”, é seu tema. Somos chamados a vivenciar o período da quaresma refletindo sobre a Palavra de Deus, em especial, louvando-o pela beleza da criação, decidindo-se por buscar uma “conversão ecológica”. Precisamos nos despertar para a tarefa de cuidar de nossa Terra, a Casa Comum.  

As mudanças climáticas são cada vez mais alarmantes. Por isso, o cuidado ambiental deveria ser nossa preocupação maior. Infelizmente a política está subjugada a outras agendas, como a econômica, movida pelo consumismo e o lucro. A política pensa em preservar e aumentar o próprio poder e a economia apenas em rendimentos a curto prazo, não importando as consequências.  

Interessante é notar que as pessoas mais jovens são mais sensíveis e atentas aos problemas climáticos. Para ajudar, neste sentido, temos a internet que permite aos jovens, principalmente, serem sensibilizados. Os jovens conseguem perceber a lógica do desprezo para com o ambiente, que é a mesma do desprezo para com as pessoas mais frágeis e pobres.  

A característica principal da cultura é promover a harmonia, entre o ser humano e com a natureza. A ignorância ou “incultura”, ao contrário, se rege pela incapacidade de construir harmonia. A existência humana se baseia em três relações fundamentais que estão interligadas: com Deus, entre os seres humanos e com a Terra. Elas foram rompidas pelo pecado, gerador da maldade que leva á destruição. É urgente que estejamos atentos para a questão ecológica.  

A Ecologia está ligada á ciência que nos ajuda a compreender como estão interrelacionados, todos os seres vivos, as criaturas que habitam o planeta. Água, solo, ar, energia do sol e os seres vivos, como os microorganismos e as plantas, ao animais e nós, humanos.  A Ecologia mobiliza uma multidão de pessoas e grupos que se mobilizam para deter a destruição da Terra em curso, para assegurar a continuidade da teia da vida. A Ecologia nos leva a compreender que temos um lugar próprio nesse mundo, relacionado com os outros seres. 

O ser humano foi projetado por Deus para ser o jardineiro desta Terra, ou o agricultor que planta e cuida, para da terra extrair o sustento, porém, jamais para explorar e destruir como está acontecendo. A terra está doente, está com febre, alerta o papa Francisco, o primeiro papa a dedicar um documento à questão socioambiental e convidar a humanidade para reverter o desastre que se anuncia, se não houver mudança no modo de tratar a Terra.  

A Terra é nossa casa comum e lugar da Aliança de Deus com os seres humanos e com a criação. O ser humano a quem Deus confiou a criação, e principalmente a pessoa de fé, deve contemplá-la, cuidar dela e utilizá-la, respeitando sempre a ordem dada pelo Criador, preservando a vida. 

Consideremos que, nós não vivemos sem a Terra mas ela pode viver sem nós.  

  

Dom Vital Corbellini
Bispo de Marabá (PA)  

 

 

Deus criou as suas obras de uma forma maravilhosa, bonita, de modo que ao encerrá-las, Ele disse que tudo era muito bom (cfr. Gn 1,31). Uma harmonia é existente entre as criaturas pois tudo se alterna para o bem das criaturas e na ordem dado pelo próprio Criador, porque Ele as criou com muito amor. A partir da Sagrada Escritura, a Campanha da Fraternidade 2025 coloca claramente a forma como Deus na sua infinita misericórdia, criou um universo cheio de belezas e de encantamentos pois com os olhos da fé, percebem-se uma harmonia de cores, de forças que alimentam a nossa vida de seguidores e seguidoras do Senhor. A seguir, nós vejamos o tema da harmonia do Universo nos padres da Igreja, os primeiros escritores do cristianismo.  

A harmonia no Universo

São Clemente Romano, bispo de Roma no final do primeiro e início do século segundo, disse que os céus que se movem por sua disposição, obedecem harmoniosamente ao Criador. O dia e a noite fazem o curso que o Senhor estabeleceu, sem que haja algum tropeço um no outro. Nesta mesma linha da harmonia do universo colocou o Bispo de Roma que o sol, a lua e os demais coros dos astros giram de uma forma correta, justa, conforme a ordem do Criador sem nenhuma transgressão 

O sustento ao ser humano e demais seres que vem da terra

O louvor é dado também à terra criada pelo Senhor na visão de Clemente porque ela germina conforme a vontade de Deus, produzindo nos devidos tempos, sustento para o ser humano, as feras e todos os seres que vivem sobre ela, sem haver a rebelião entre os seres. A terra dá os seus frutos conforme a ordem do Senhor para que os seres humanos e os demais seres vivos permaneçam na vida doada pelo Senhor.  

Os seres subterrâneos 

Segundo o bispo Clemente as mesmas ordens se mantêm as regiões insondáveis dos abismos que regem os seres subterrâneos. A massa do mar imenso não ultrapassa os limites traçados, mas tudo age conforme a lei ordenada pelo Senhor quando disse: “Chegarás até aqui, e tuas ondas sobre ti se quebrarão” (Jó 38,11). O oceano de uma forma quase sem fim para os seres humanos, e os mundos que estão além, são coordenados pelas leis do Senhor 

A beleza das estações

São Clemente falou da beleza das estações do universo como a primavera, o verão, o outono e o inverno sucedem-se de forma harmoniosa, uma após a outra. O vento realiza o seu trabalho no tempo devido sem perturbação. As fontes inesgotáveis em ligação com as estações foram criadas para a saúde do ser humano e dos seres existentes possibilitam a vida, o dom de Deus para todos os seres vivos 

O Criador e Senhor do Universo

O bispo de Roma disse também que o Criador e Senhor do Universos ordenou que todas essas coisas se executassem na paz e na concórdia. Ele espalhou seus benefícios sobre toda a criação, mas a todos nós Ele os prodigalizou de uma forma abundante, quando nós recorremos à sua infinita misericórdia por meio de nosso Senhor Jesus Cristo.  

O vinculo do amor de Deus

São Clemente disse ainda que o vínculo do amor de Deus une as pessoas e os povos. Quem exprimirá a grandiosidade da sua beleza? A altura para onde o amor conduz é de uma forma inefável. O amor nos une a Deus e Ele cobre a multidão dos pecados (1 Pd 4,8). No amor não há nada de banal, nem de algo soberbo. No amor, tornam-se perfeitos as pessoas eleitas de Deus. Na verdade sem amor nada é agradável a Deus. É por causa de seu amor para com toda a humanidade que Jesus Cristo, nosso Senhor, conforme a vontade de Deus, deu o seu sangue por nós e para todas as pessoas, sua carne e sua vida por nossa vida. 

A nova criação em Jesus Cristo 

A carta a Barnabé, escrito dos primeiros séculos do cristianismo, afirmou que a nova criação se realizou em Jesus Cristo. Como o ser humano pecou, no entanto a redenção ocorreu pela sua morte de cruz e ressurreição. Na retomada do plano original a Escritura fala a nossa respeito, quando o Criador disse ao Filho: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança (Gn 1,26). Que eles dominem sobre os animais da terra, as aves do céu e os peixes do mar” (Gn 1,28). E disse também: “Crescei, multiplicai-vos e enchei a terra” (Gn 1,28)9. Tudo isso o Senhor disse ao Filho em vista da criação nova e da salvação humana.  

Deus sobre todas as coisas

Novaciano, escritor romano do século III colocou a visão de que Deus está sobre todas as coisas, na qual tudo contém sem deixar qualquer vazio fora de si, nem lugar para outro deus superior. O Senhor Deus está acima de tudo, porque Ele mesmo incluiu tudo no seio de sua perfeita grandeza e potestade. Ele está sempre atento à sua obra, percorre-a toda, dando-lhe movimento e vivificando-a em sua totalidade, de modo a constituir um só mundo. Como tudo está consolidado numa grande harmonia dada pelo Senhor, esse mundo não pode ser dissolvido por força alguma, porque tudo concorre para o bem do Deus criador em relação as criaturas 

As orações pelas autoridades e pela vida do mundo

Tertuliano, padre africano dos séculos II e III, teve presente na vida da comunidade que eles iam juntos formando um grupo e uma congregação, a fim de que se aproximassem a Deus, assediassem a Ele, com orações como um batalhão de soldados. Esta virulência, para o padre africano era agradável a Deus. Ele dizia que os cristãos oravam pelos imperadores, por seus ministérios e por seus poderes, pelo estado presente do mundo, pela paz do mesmo, pelo adiamento do fim 

A harmonia do universo fala da grandeza de Deus ao criá-lo com potestade e com amor. As coisas e o ser humano saíram das mãos do Senhor pela harmonia de tudo, porque Deus fez tudo com sabedoria. Se o pecado humano veio para impedir a harmonia da criação no entanto, o Senhor Jesus estabeleceu novamente a harmonia original dando-nos vida nova e salvação. Nós somos chamados a viver a Campanha da Fraternidade 2025, neste tempo da quaresma cuidando da casa comum no qual o Senhor nos colocou como guardiães da mesma. Louvemos a Deus Uno e Trino pela harmonia dada ao universo criado com amor.  

 

Dom Carmo João Rhoden
Bispo Emérito de Taubaté (SP) 

 

“Deus, viu que tudo era muito bom” (Gn 1, 31) 

No Brasil, além da temática quaresmal normal, a Igreja ainda apresenta a Campanha da Fraternidade, para intensificar ainda mais a dimensão fraternal e social da vida cristã ou seja do Evangelho.  No ano de 2025 nos apresenta o tema “Fraternidade e ecologia integral” com o tema, “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31.  Analisando o que está acontecendo ao nosso redor, constatamos que não somente é oportuno, mas muito necessário e urgente. O tema ainda fica mais interessante, enquadrando-o na temática do ano Jubilar, ou Ano Santo. (peregrino de esperança) pois a esperança não nos decepciona (cf. Rm 8,5), mas o que ouvimos ao nosso redor frequentemente? “a vida não tem sentido” ou “é um beco sem saída”. Mas não é assim, pois estamos indo para casa do Pai. Nossa bússola é a fé, e o caminho é o amor.  

A pós-modernidade é tempo de crise e desânimo: “o fim do mundo está aí” dizem uns e outros apresentam “as enchentes, inundações de um lado e o calor, o aquecimento global no outro, não seriam sinais disto? Infelizmente os profetas do pessimismo crescem. Mas nós temos explicações mais convincentes e exigentes mais concretas e realistas. Sim, somos realistas: vemos, ouvimos e somos amparados pela Palavra de Deus. Reagimos: redescobrindo a fraternidade, a importância do meio ambiente e impulsionados pela esperança. Não somos ingênuos, nem pessimistas, mas realistas. Defendemos a fraternidade, a esperança e o meio ambiente, entre outras realidades. Somos peregrinos da Esperança. 

Deus viu que tudo era muito bom (Gn 1, 31) e nós hoje, como vemos as coisas? Como mudaram… a culpa, no entanto não é de Deus, mas nossa.