Artigos dos bispos

Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães
Bispo de Santos (SP)

 

 

POBRES EMPOBRECIDOS
no âmago de Jesus, no âmago da Igreja

Vamos vivenciar e celebrar o 9º Dia Mundial dos Pobres, antecedido pela Jornada Mundial dos Pobres: para um dia tão especial, uma semana de jornada, porque assim como a conversão é um processo de vida, para dar sentido ao Dia dos Pobres é necessário trilhar um caminho novo, de mudanças profundas no coração (sensibilidade humana), no pensamento (reflexões comprometidas) e nas ações (atitudes libertadoras). Quando a mudança profunda é iluminada pelo Espírito Santo ela se chama conversão. Os pobres clamam por nossa conversão.

Feliz iniciativa do Papa Francisco, que com a Jornada e o Dia Mundial dos Pobres, quis sacudir a humanidade para a realidade de penúria e de dignidade ferida, de milhões de pessoas na pobreza e na miséria. O Papa Leão continua essa ação chamando a todos para refletir sobre a expressão bíblica do Salmo 71,5: “Tu és a minha esperança”, porque, de fato, a muitos irmãos e irmãs pobres só resta a esperança, mas quando a descobrem, descobrem também que ainda têm tudo para continuarem na luta pela vida dia após dia.

O Dia dos Pobres, no entanto, não é propriamente um dia de homenagem a eles, ou de entrega de algumas marmitas sob clicks fotográficos, ou ainda de cuidados de higiene, o que deve ser feito cotidianamente – porque cotidianamente todos precisam comer, lavar-se, morar, trabalhar – num grande mutirão de solidariedade e fraternidade, mas é uma oportunidade de aproximação para se deixar evangelizar pelos pobres e com eles assumir o compromisso com suas causas por emprego, moradia, saúde, educação, mobilidade, lazer, cultura. Como tudo isso é feito na perspectiva do Reino de Deus, motivado pela fé cristã, tudo isso ganha sabor espiritual, torna-se experiência da presença do Senhor que encontramos nos pobres.

Cristo os elegeu. Eles elegeram a Cristo. Escolheram-se mutuamente, por isso não há disputa entre eles para ocuparem o lugar central, porque onde está um está o outro. Isso se dá ainda mais explicitamente quanto lembramos que, de modo especial, foram os pobres que acolheram a Jesus e sua mensagem do Reino de Deus, e dentre os pobres aqueles anawin, os pobres do Senhor, os que depositaram toda a sua confiança em Deus e em mais nada. Esses apontam para os irmãos e irmãs que vivem nas ruas de todo o mundo, ocupando, sim, o último lugar.

O Dia Mundial dos Pobres chama-nos à consciência de suas fragilidades e clama pelo cuidado dos fragilizados. Mas precisamos ir adiante, para que não pequemos por hipocrisia: sabemos quem são os pobres e o que padecem, todavia, devemos saber também as causas de sua pobreza e miséria, para que atuemos, em múltiplas parcerias, com vigor e rigor, sobre a economia que mata, já que o sistema social e econômico é injusto na sua raiz. Assim como o bem tende a difundir-se, assim também o mal consentido, que é a injustiça , tende a expandir a sua força nociva e a minar, silenciosamente, as bases de qualquer sistema político e social (Cf. Evangelii Gaudium 53 e 59).

A esperança cristã comporta a conjugação de duas forças, a da indignação diante de realidades de sofrimento e a da coragem, para iniciar processos novos para compor novas realidades, novos céus e nova terra (Cf. Is 65,17-18; Ap 21,1-5).

O caminho dos pobres não é exclusivista, pois é o caminho para todos. Dê o seu primeiro passo neste caminho envolvendo-se na Jornada e no Dia Mundial dos pobres.

 

 

Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba (MG)

 

 

O Papa Leão XIV toma como tema, em sintonia com o Ano Jubilar da esperança, para o 9º Dia Mundial dos Pobres, a palavra dos Salmos: “Tu és a minha esperança” (Sl 71,5). A condição de pobre não pode tirar da pessoa a virtude da esperança, porque ela é fundamental para a autoestima e a dignidade do ser humano. A maior riqueza das pessoas é confiar em Deus e tê-lo no coração. 

Para o apóstolo Paulo, quem confia em Deus, a esperança nunca o decepciona (Rm 5,5). Isto significa que o pobre, numa vida totalmente precária, marginalizado, excluído, pode tornar-se uma testemunha de autêntica esperança na expectativa da justiça divina. O ter material não deixa de ser uma realidade relativa, que pode esvaziar a identidade da pessoa e levá-la à perda da esperança.  

O verdadeiro tesouro, na vida das pessoas, é a intimidade delas com Deus. Quase sempre, muitas pessoas pobres têm mais liberdade e serenidade para isto, porque não estão apegadas, nem preocupadas em administrar bens materiais acumulados. Jesus faz uma alerta para ninguém acumular bens na terra e, sim, no céu, porque são duradouros e a ferrugem não os destrói (cf. Mt 6,19-20). 

Grande parte dos pobres tem abertura para Deus, sensível aos ensinamentos do Evangelho. A Igreja tem a obrigação de atendê-los em suas diversas necessidades, não só espirituais, mas também nas carências materiais. Papa Francisco falava da pobreza existencial, do vazio e da insensibilidade do coração humano, às vezes, pior do que a pobreza material, exigindo um trabalho mais missionário. 

No coração dos pobres e, também, de toda a Igreja que evangeliza, deve estar gravada a convicção de que são possíveis uma nova terra e um novo céu. Esse convencimento vem da esperança cristã, do fundamento da caridade fraterna. Tudo apoiado na Palavra de Deus e na autenticidade da vida, iluminada pelo Espírito Santo. Significa que a esperança vem da fé, sustentada pela caridade. 

A palavra pobre sugere a palavra caridade. Delas falamos de acolhimento e hospitalidade na vida social. E são muitas as formas de ajudar aos sofridos e inabilitados para uma vida mais digna. Para o Papa Leão, os pobres são sujeitos ativos, devem estar no centro da ação pastoral e são um apelo para o anúncio fecundo do Evangelho. Coloquemos nossos frutos acumulados a serviço dos pobres. 

Dom José Gislon
Bispo de Caxias do Sul (RS)

 

Estimados irmãos e irmãs em Cristo Jesus! De 10 a 21 de novembro deste ano de 2025, será realizada a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, também conhecida como COP30, em Belém do Pará. Essa importante Conferência das Nações Unidas, que contará com a participação de chefes de estado e delegações de mais de 160 países, nos dá a dimensão da preocupação com o cuidado da Casa Comum frente às mudanças climáticas que afetam o nosso planeta e atingem milhões de pessoas, que vivem muitas vezes em condições de vulnerabilidade social e econômica.  

O Papa Francisco, na carta encíclica Laudato Si (2015), já fazia um apelo sobre a importância do cuidado com a casa comum. O título recorda o Cântico das Criaturas, pronunciando pelo patrono da ecologia, São Francisco de Assis, no longínquo século XIII. Mas nos fala de uma realidade do presente, que manifesta o respeito e o cuidado com a vida de quem habita nessa “Casa Comum”. 

A terra, “casa comum” de todos nós, é nossa irmã e mãe, que nos sustenta e governa, com plantas e flores coloridas que embelezam o jardim da nossa casa, as planícies, as colinas e os vales; que produz uma variedade de frutos que servem de alimento para o homem, para os pássaros e para os animais das mais variadas espécies que habitam a “Casa Comum”, o planeta terra. 

Na carta encíclica “Laudato Si”, o Papa Francisco, como uma voz profética, recordava que a “irmã terra clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens, que Deus nela colocou. Crescemos pensando que éramos seus proprietários e dominadores, autorizados a saqueá-la. A violência, que está no coração humano ferido pelo pecado, vislumbra-se nos sintomas de doença que notamos no solo, na água, no ar e nos seres vivos”. (Lsí 2). 

Como cristãos, devemos estar comprometidos com a vida em todos os sentidos, mas também com a “Casa Comum”, que abriga todas as formas de vida. Não podemos silenciar ou nos acomodar, achando que é suficiente apontar as grandes agressões que sofre a nossa mãe terra, que seguidamente aparecem nas manchetes dos jornais e revistas dos mais variados tipos, ou seja, o desmatamento na Amazônia, o aquecimento provocado pelas indústrias, a desertificação de grandes extensões de terras, a poluição dos rios, as montanhas de lixo, fruto do consumismo e do descarte irresponsável, a falta de saneamento básico nas periferias das cidades. Se essas denúncias, que são muito válidas para uma conscientização global, não despertarem em nós o agir na realidade local, é sinal de que estamos contaminados pelo comodismo e pela indiferença em relação ao cuidado da “Casa Comum”.  

A “casa comum” vai ser bem cuidada e preservada para as próximas gerações quando tomarmos pequenas atitudes que estão ao nosso alcance e partem do nosso modo de agir, no dia-a-dia. Não jogando o lixo nos rios, à beira das estradas, ou no quintal da nossa casa. Podemos sempre cultivar um pomar, um pequeno jardim e uma pequena horta, onde é possível. Além de ser uma terapia, embeleza a propriedade e produz alimentos, melhora a autoestima de quem mora na casa, tornado o lugar e a cidade mais apresentável e agradável para viver. Podemos ter a tentação de ficar esperando por grandes decisões políticas e governamentais para mudar o mundo e deixarmos de agir e fazer, com responsabilidade, as pequenas coisas que dependem de nós e estão ao nosso alcance no dia-a-dia para cuidar da nossa “Casa Comum”.