Artigos dos bispos

Dom Antonio de Assis Ribeiro
Bispo eleito de Macapá (AP)

A significatividade da Paróquia

A celebração do Ano Santo é uma ocasião muito significativa para a renovação da paróquia. É no território paroquial que acontecem as mais variadas iniciativas evangelizadoras e catequéticas. É no âmbito paroquial que os fiéis crescem, participam das comunidades, assumem responsabilidades, vivem a experiência da caridade fraterna, se comprometem em múltiplas formas de engajamento eclesial.
O Documento de Aparecida ressaltou a importância da paróquia: comunidade de comunidades, células viva da Igreja, lugar privilegiado da experiência de Cristo e da comunhão eclesial, chamada a ser casa e escola de comunhão, espaço da iniciação à vida cristã, de carismas, serviços e ministérios (cf. CELAM, Doc. Aparecida, 170). Para o Papa Francisco a paróquia é uma estrutura viva, de grande plasticidade, criatividade missionária, capaz de adaptar-se constantemente; é presença eclesial no território, e santuário onde os sedentos vão beber para continuarem a caminhar e centro de constante envio missionário (cf. Papa Francisco, EG, 28).

Para que a celebração do Ano Santo, em nível paroquial, seja bem vivenciada, é importante estarmos atentos a alguns possíveis riscos. O primeiro grande risco é aquele de não concebermos o Ano Santo como grande oportunidade de evangelização e catequese, pois o ano jubilar é um grande movimento de estímulo à conversão de toda a Igreja. Outro risco possível é aquele de reduzi-lo puramente à atividades litúrgicas, mas o Ano Santo tem muitas dimensões. Para que a liturgia provoque bons efeitos existenciais, deve estar profundamente vinculada à vida (cf. Is 1,10-17).

A celebração do Ano Santo em nível paroquial também pode correr o risco de ser reduzida à dimensão pessoal; sem dúvida, o processo de conversão tem uma dimensão íntima (do coração e da consciência), mas a dimensão comunitária não pode ser esquecida. É na vida comunitária que se revela o teor das nossas relações humanas, a profundidade dos afetos, a qualidade das relações interpessoais, a experiência da acolhida, cuidado, perdão, compaixão, respeito; é no nível comunitário, de convivência concreta, que emergem os impactos destrutivos dos nossos pecados capitais (soberba, avareza, luxúria, ira, gula, inveja, preguiça). Por isso, pedagogicamente, é muito importante apresentar aos fiéis pistas de ação e estimulá-los a fazer em bons propósitos, sobretudo, em momento celebrativos extraordinários, como celebrações da palavra, celebrações penitenciais, retiros etc.

 

Algumas pistas de ação

Muitas ações podem ser programadas em nível paroquial para a celebração do Ano Santo, tomando em consideração a diversidade de sujeitos, vocações, carismas, ministérios, situações existenciais e também o contexto sociocultural e geográfico das pessoas (na Amazônia há paróquias com centenas de quilômetros e, às vezes, com povos, línguas e culturas diferentes). Vejamos alguns exemplos de possíveis atividades:

  • Organizar uma agenda de atividades pastorais, em sintonia com aquela diocesana;
  • Preparar celebrações específicas para os agentes de pastorais, grupos e movimentos;
  • Organizar uma peregrinação à catedral diocesana para a renovação dos bons propósitos de comunhão eclesial com uma programação específica;
  • Preparar e convocar todos os coordenadores de pastorais, grupos, movimentos e serviços para a renovação de compromissos pastorais e missionários;
  • Promover, ao longo do ano, experiências de visitas missionárias no território paroquial, sobretudo, naquelas áreas menos atendidas ordinariamente;
  • Organizar na sede da paróquia (ou nas comunidades) uma agenda com horários específicos para o atendimento das confissões dos fiéis e, onde for possível, que se convoque outros sacerdotes para ajudar; os mutirões de confissões em geral são positivos;
  • Relançar a atenção para com os mais necessitados: idosos, pobres, sofredores, doentes, moradores de rua, encarcerados, viciados, deficientes, migrantes;
  • Dar atenção particular, a todas as categorias de pessoas: crianças, adolescentes, jovens, casais, idosos… organizando celebrações específicas;
  • Onde for possível, tentar a promoção de uma celebração ecumênica ou forma de reflexão sobre a fraternidade universal (Fratelli Tutti) ou alguma forma de ação filantrópica conjunta em benefício do bem comum;
  • Estimular na paróquia a leitura orante da Palavra de Deus, promovendo a experiência com grupos específicos;
  • Promover a experiências de retiros com grupos, refletindo sobre o sentido do ano Santo e o seu tema “Peregrinos da Esperança”;
  • Organizar pequenas celebrações e romarias no território paroquial estimulando a participação das famílias mais acomodadas;
  • Estimular voluntariado de profissionais como advogados, psicólogos, médicos, assistentes sociais etc. e de instituições para que possam acolher as demandas de quem precisa de ajuda; pode ser um ação conjunta, um mutirão de serviços gratuitos;
  • Refletir ao longo do ano sobre o tema do Jubileu “Peregrino da Esperança” na festividade dos padroeiros das Comunidades;
  • Adaptar uma proposta de celebração da Palavra com o tema do Jubileu para as escolas, universidades, instituições filantrópicas, empresas e onde for possível deixando uma mensagem de reconciliação e de esperança.

 

O jubileu na Política

O jubileu na Política

Na Bula de proclamação do Ano Santo, o Papa Francisco estimula a Igreja a ir além das estruturas eclesiais para a celebração do Ano Jubilar convidando a pensar na sua dimensão civil com possíveis propostas provocantes em nível político no número 10 da da Bula Spes non confundit.

“No Ano Jubilar, seremos chamados a ser sinais palpáveis de esperança para muitos irmãos e irmãs que vivem em condições de dificuldade. Penso nos presos que, privados de liberdade, além da dureza da reclusão, experimentam dia a dia o vazio afetivo, as restrições impostas e, em não poucos casos, a falta de respeito”. Isso significa um estímulo para o relançamento da Pastoral Carcerária.

“Proponho aos Governos que, no Ano Jubilar, tomem iniciativas que lhes restituam esperança: formas de amnistia ou de perdão da pena, que ajudem as pessoas a recuperar a confiança em si mesmas e na sociedade; percursos de reinserção na comunidade, aos quais corresponda um compromisso concreto de cumprir as leis”. Dessa preocupação uma possível atividade poderia ser a promoção de uma sessão especial solene nas Câmaras municipais, nas Assembleias legislativas estaduais, na Câmara dos deputados federais e Senado. Essa atividade poderia também se estender aos mais variados órgãos públicos. A Esperança cristã promove o espírito ético e a transparência.

Dom Antonio Carlos Rossi Keller
Bispo de Frederico Westphalen (RS)

Neste 5º Domingo do Tempo Comum, a liturgia nos convida a refletir sobre a vocação e a missão que Deus nos confere. A centralidade da mensagem deste Domingo é o convite a estarmos à disposição para ouvir e responder ao chamado de Deus, mesmo diante das nossas limitações e medos. Através das Leituras bíblicas, somos desafiados a reconhecer que, assim como os personagens bíblicos, também cada um de nós é chamado a servir e a testemunhar a fé, independentemente das nossas fraquezas e inseguranças.

Na 1a Leitura (Isaías 6,1-8), ouvimos como Isaías tem uma visão do Senhor em Sua glória. Tal visão leva a reconhecer sua própria situação de pecador. A simbólica purificação de Isaías com a brasa viva mostra a purificação necessária para a missão confiada por Deus. Isaías ouve a voz do Senhor perguntando: “Quem enviarei?” e prontamente responde: “Eis-me aqui, envia-me” (Isaías 6:8). Essa resposta destaca a prontidão e a disposição para servir, mesmo quando se sente indigno. A experiência de Isaías nos ensina que a verdadeira vocação começa com o reconhecimento de nossa fragilidade e a aceitação da graça divina que nos capacita a cumprir a missão que nos é confiada.

Na 2a Leitura (1 Coríntios 15,3-8.11), São Paulo recorda a ressurreição de Cristo e a importância do testemunho dos apóstolos. Ele enfatiza que a fé cristã se fundamenta na ressurreição, a qual é o cerne da mensagem que os apóstolos proclamam. São Paulo menciona que Cristo “morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia” (1 Coríntios 15:3-4). A inclusão de testemunhas da ressurreição reforça a credibilidade da mensagem e a continuidade da missão dos discípulos. Essa passagem nos lembra que a nossa fé não é apenas a crença em algumas ideias, mas fundamenta-se em um testemunho vivo da ação de Deus na história da salvação e na vida dos que acreditam.

No Evangelho (Lucas 5,1-11), Jesus chama os primeiros discípulos após um milagre de pesca. A obediência de São Pedro, mesmo em sua dúvida, resulta em uma abundância de peixes. Jesus diz a Pedro: “Não temas: de agora em diante serás pescador de homens” (Lucas 5:10). Este relato ilustra como a fé e a disposição para seguir a palavra de Jesus podem levar a resultados extraordinários. O chamado de Jesus para ser “pescador de homens” é um convite à missão que todos os cristãos são chamados a viver, por coerência à vocação batismal. Assim como Pedro, somos convidados a deixar nossas inseguranças e a confiar na providência divina, sabendo que Ele nos capacita para a missão que nos confia.

As Leituras deste Domingo nos convidam a refletir sobre como respondemos ao chamado de Deus em nossas vidas. Assim escutando o profeta Isaías, devemos estar abertos e querer sempre a purificação de nossos pecados e dispostos a servir. Com São Paulo, aprendemos a importância de reconhecer a centralidade da ressurreição do Senhor em nossa fé e, como São Pedro, devemos estar prontos para agir, mesmo quando a dúvida nos assalta. A disposição para ouvir e responder ao chamado de Deus é fundamental para nossa vida cristã. É essencial que cada um busque discernir sua própria vocação, confiando que Deus nos capacita e nos guia em nossa jornada de fé.

Em conclusão, que este domingo nos inspire a viver nossa vocação com coragem e fé, sabendo que somos chamados a ser instrumentos da graça de Deus no mundo. Nossa Senhora nos acompanhe e nos ajude a responder sempre “Eis-me aqui” ao chamado do Senhor.

Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba (MG)

Os olhos das pessoas fitam desejos saudáveis, que ajudam na realização da própria vida. Corrobora com isto quem se esforça para fazer um focado projeto pessoal de conduta, onde são pautadas as ferramentas necessárias para assegurar aquilo que se pretende no hoje e no futuro. Podemos citar como ferramentas uma carreira, a educação, os relacionamentos, a saúde, o crescimento pessoal etc.

Na dimensão da espiritualidade das pessoas não é diferente. Já está impresso no coração humano algo que ultrapassa seus limites terrenos, mesmo que a pessoa não se dê conta desta realidade. Existe uma projeção de eternidade, passível de percepção, que não tem como ser negada. Há um chamado divino, que se abre para a via da plenitude e da realização plena de futuro na face de Deus.

Projetar a vida no caminhar de uma cultura marcada pela duplicidade, de um lado o divino e, de outro, o profano. Então, seja um projeto de escolha, de maduro discernimento entre um e o outro. A realização da pessoa é fruto de determinação realizada no caminho da própria história de vida. Nunca descartar a generosidade de Deus na incapacidade humana de suportar os desafios diuturnos.

Para os cristãos conscientes, existe um projeto inspirador e crucial da fé, visualizado na Ressurreição de Jesus Cristo. Esse caminho significa fixar os olhos e a vida no futuro para motivar as ações do cotidiano. Ninguém é motivado à perfeição sem confiar nos resultados do empenho de hoje. A identidade e confiança no futuro conseguem provocar transformações no momento presente.

Na parábola bíblica dos pescadores experientes (Lc 5,1-11), identificamos um projeto profissional totalmente falido. Pescaram a noite toda e nada apanharam em suas redes. Aparece Jesus e os provoca a lançar as redes de novo e em momento impróprio para a pesca. Deixaram de lado a experiência que tinham e seguiram as palavras do Mestre. As redes voltaram superlotadas.

Todo projeto que organizamos na vida deve ser realizado de forma corajosa, espontânea, com empenho e confiança. O medo e a desconfiança dificultam e impedem a ação desejada. Não foi isto que aconteceu com os apóstolos diante da proposta de Jesus, porque tiveram fé e confiaram nos indicativos do Senhor, de lançar as redes novamente e aconteceu o milagre abundante da pesca.