Dom Anuar Battisti
Ao ver uma revista de bordo de determinada companhia aérea, deparei-me com esta manchete: “O valor da comunidade”. Chamou-me atenção por ser um título com palavras conhecidas e usadas com frequência na nossa linguagem e, neste caso, em uma revista de circulação social sem vínculo religioso.
Para o meu campo de trabalho, falar em comunidade significa algo muito profundo. Independentemente do sentido que eu atribuí a isto, ali estava estampado um tema para chamar atenção sobre os “softwares livres”, dentro do universo da cultura digital.
Trata-se de uma forma de criar e produzir, baseada na colaboração e não na competição, criando um verdadeiro circuito econômico e comportamental. Um exemplo da necessidade de integração somando esforços para formar comunidades virtuais, não só em vista de ganhos econômicos, mas buscando reconhecimento das pessoas no mesmo grupo.
Esse aspecto da necessidade de formar grupos em vista de ganhos e reconhecimentos faz com que o ser humano, por mais capaz e competente que seja, não consiga sobreviver isolado, achando-se soberano e onipotente. Na dinâmica da vida social, econômica e religiosa, ninguém sobrevive fechando-se no seu gueto.
As parcerias, os ajuntamentos, a união de pequenos e grandes se tornou uma exigência irrenunciável no mundo globalizado. Quantos esforços, quantas lutas, quantas horas, dias e noites investindo em sistemas novos e criativos coagidos por um mundo aonde o reconhecimento vem pelo capital e não por aquilo que você é.
Infelizmente essa é uma regra imposta pelo capitalismo com todas as suas consequências, favoráveis e desfavoráveis. É a união formando comunidades em vista do econômico e do reconhecimento.
O mundo em que vivemos necessita de pessoas que se reconheçam e se valorizem não pelo ganho, pelo acúmulo de riquezas e nem mesmo pela técnica da informática neste vasto e fascinante mundo digital, e sim pela ética e pela moral.
O ser humano caminha para uma desumanização cada vez maior das relações, da convivência, do respeito e valorização da vida, de comportamentos e atitudes transparentes. A ética e a moral foram reduzidas ao intimismo do “eu decido”, “eu sei o que é bom pra mim”.
O campo das decisões passa para o campo da subjetividade, sem parâmetros de valores permanentes, objetivos. O indivíduo como centro de tudo acaba com as relações e os valores que levam à humanização do ser humano e a sua verdadeira identidade no mundo. Por isso a força da comunidade está nas pessoas que se amam e se querem bem.
Comunidade cuja força é a vida vivida com o Mestre que garante a sua “presença onde dois ou mais estiverem unidos em seu nome” (Mt 18,20).
Por isso, ao falar em comunidade, significa falar em pessoas, cujas relações se caracterizam pelo conhecimento e o amor recíproco. Relações humanas que fortalecem o sentido de viver e existir como pessoas com dignidade.
O mundo virtual é fascinante, mas não deixa de ter o seu lado traidor. Como faz bem saber que a comunidade, ou seja, a Igreja, é reconhecida publicamente como a segunda instituição de maior credibilidade no Brasil, de acordo com pesquisa realizada pela Escola de Direto de São Paulo, Fundação Getúlio Vargas, publicada no último dia 17 de novembro.
Essa é a força da comunidade que se une em defesa da vida de todos, principalmente dos que estão para nascer. Essa é a força da comunidade que luta, crê e caminha na presença do Senhor da vida. Essa é a força da comunidade onde todos se sentem filhos e filhas no caminho do bem, da verdade e da paz.