A aparição de Deus a Moisés mostrou o cuidado amoroso do Senhor para com o povo sofredor: “Eu vi a aflição do meu povo que está no Egito e ouvi o seu clamor por causa da dureza de seus opressores… Desci para libertá-los das mãos dos egípcios e fazê-los sair daquele país para uma terra boa…” (Ex. 3, 7.8). Se o Criador cuida do seu povo, quem diz acreditar nele também deve ser-lhe obediente, ainda mais se recebeu o encargo do próprio povo para servi-lo com justiça, honestidade, qualidade administrativa e sem desvio do ideal de fazer o bem a quem é mais carente. Nem sempre isso acontece. Por isso, as pessoas devem estar atentas para exigirem de seus governantes o que lhe é de direito. O jogo de empurra-empurra, debitando aos outros níveis de poder os encargos ou obrigações não resolve o problema da população. Ser bom governante é ter compaixão do povo sofrido e ir ao encontro de suas necessidades, custe o que custar, priorizando o ser humano acima de quaisquer outros interesses.
A Campanha da Fraternidade nos coloca o desafio de utilizarmos a economia em vista do ser humano. Gastam-se milhões ou bilhões para o serviço aos já economicamente ricos e as prioridades sociais com frequência são deixadas de lado, como a educação, a saúde, a segurança… Faltam políticas públicas mais intensas aplicadas para as camadas mais sofridas. Antigamente se falava sobre governantes que davam pão e circo à população. Hoje se dá muito circo e pouco pão a parcelas que sofrem as injustiças de políticas favorecedoras de elites e desfavorecedoras de quem vive na pobreza e na miséria.
Mesmo tendo que passar pelo deserto, o povo hebreu não ficou sem alimento e água. Deus fez chover o maná e sair água do rochedo durante a trajetória para a conquista da terra prometida. No entanto, toda pessoa humana deve zelar para que os dons recebidos de Deus produzam frutos. A terra conquistada não significa tudo. É preciso ir mais além: a conquista do Reino definitivo. Servir a Deus é fundamental. Por causa d’Ele a caminhada existencial encontra sentido, com a prática da justiça e do amor fraterno. A Quaresma nos traz essa perspectiva. A conversão para a prática do amor a Deus e ao semelhante nos faz conviver numa sociedade em que reine a promoção da vida e da dignidade humana. A economia é um instrumento válido de desenvolvimento quando utilizada na perspectiva da promoção da pessoa humana e de toda a sociedade. A Providência Divina não deixa faltar recursos para a promoção de cada criatura. É preciso, no entanto, sabermos ser bons administradores dos dons de Deus, com todos os recursos da natureza, para a promoção do bem de todos. A concentração das riquezas nas mãos de minorias e o mau uso dos recursos da natureza provocam injustiças e o mal para todos. Na obediência ao Criador saberemos usar das riquezas e todos os recursos naturais para o benefício de todos. O lema da Campanha da Fraternidade “Não podeis servir a Deus e ao dinheiro” nos mostra a necessidade de revermos nossa ação nessa perspectiva.