Dom Antonio de Assis Ribeiro
Bispo auxiliar de Belém do Pará

 

Áreas missionárias: Avançar para águas mais profundas (parte I)

Introdução

Deus quer que todos os homens sejam salvos, mas para que isso aconteça é necessário que cheguem ao conhecimento da Verdade (cf. 2Tm 2,4). Jesus Cristo é a Verdade. Ele é o Salvador da humanidade.

Foi o próprio Jesus quem afirmou isso a Tomé dizendo-lhe: «Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim” (Jo 14,6). Além disso, antes de despedir-se Jesus confiou aos seus discípulos a sua missão ordenando-lhes: «Vão pelo mundo inteiro e anunciem a Boa Notícia para toda a humanidade. Quem acreditar e for batizado, será salvo. Quem não acreditar, será condenado!” (Mc 16,15-16).

A Igreja conserva a consciência da responsabilidade de ser instrumento de salvação para a humanidade apresentando aos homens e mulheres, de todos os tempos, a pessoa de Jesus Cristo para que seja conhecido, amado, seguido e aprendam a viver como Ele viveu. Por isso a Igreja não deve se acomodar. Sempre há novos desafios missionários!

O que é uma área missionária?

No Código de Direito Canônico, no cânon Nº 516, se afirma: “quase-paróquia é uma certa comunidade de fiéis na Igreja particular, confiada a um sacerdote como a pastor próprio e que, em virtude de circunstâncias peculiares, ainda não foi erigida como paróquia” (CDC, Can 516).

O termo “quase-paróquia” nos estimula a pensar que é necessário um processo de amadurecimento de uma comunidade de fiéis para que seja instituída como paróquia;  as “circunstâncias peculiares” da mesma, se refere à realidade de suas estruturas insuficientes, organização ainda inadequada, maturidade pastoral adolescente, recursos humanos em formação, atividades pastorais carentes… Por isso, trata-se de uma comunidade a ser objeto de especial atenção pastoral para que se estruture melhor, se robusteça e cresça pastoralmente.

“Quase-paróquia”, na Arquidiocese de Belém, corresponde à “área missionária”, que é uma comunidade de fieis presente num determinado território, que por sua densidade demográfica, frágil presença católica e perspectivas de crescimento, é escolhida para receber uma especial atenção pastoral em vista de se tornar uma nova paróquia. Trata-se de uma paróquia “em gestação” e se organiza como uma rede de novas comunidades católicas.

O território das áreas missionárias são definidos a partir do desmembramento de partes geográficas de uma ou mais paróquias; a grandeza do território de uma paróquia muito limita a fundação de novas comunidades e dificulta também a presença mais constante do pároco. É preciso um redimensionamento e reordenamento da Igreja. O mais importante não é grandeza física do território paroquial, mas a sua densidade demográfica.

O que significa a criação de uma área missionária?

É a resposta concreta da Igreja em atenção à urgência da evangelização (dos pobres), com pouca assistência pastoral, presentes em certas áreas geográficas… As ocupações desordenadas, crescente indiferença religiosa, desordem moral, violências e drogadição, constituem um clamor que nos desafia a sair da comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho (cf. Papa Francisco. EG,20). Por isso é preciso, como Igreja em saída, estarmos continuamente numa atitude de perspicácia pastoral, identificando esses novos ambientes.

O papa Francisco nos pede cultivar ousadia pastoral no processo de redimensionamento das nossas estruturas, atividades e forma de nos organizarmos pastoralmente. Por isso avaliar as fronteiras das nossas paróquias é uma necessidade. Se por um lado os territórios continuam do mesmo tamanho, com o processo de verticalização habitacional a população cresce exponencialmente.

A fidelidade missionária da Igreja exige de todos os Católicos, um profundo senso de corresponsabilidade na ação evangelizadora. Um mutirão missionário deve ser incessante, pois cada vez mais, cresce a população das nossas cidades. Por isso, devemos avançar fundando novas comunidades e criando estruturas pastorais, como áreas missionárias e paróquias. Trata-se de propositividade pastoral.

Nenhuma paróquia deve estar presa ao geográfico e nenhum pároco é dono das comunidades; somos animadores do povo de Deus que nos foi confiado e, para melhor, servi-lo devemos discernir oportunamente o que é melhor para o povo. Se a sociedade se reorganiza, cresce e se redimensiona, não podemos ficar parados e, muito menos, continuar com a mesma dinâmica pastoral.

 A urgência de evangelizar

A Igreja tem a missão de evangelizar… Uma vez que é animada pelo Espírito Santo que a faz sensível, estando atenta aos novos desafios da sua missão, deve sempre avançar. Essa foi a ordem que Jesus deu a Pedro tentado pelo cansaço e desânimo: “avance para água mais profundas”! Em atenção à Palavra de Jesus Pedro obedece! (Lc 5,4).

A Igreja Não deve se acomodar, pois seu fundador disse: “tenho ainda outras ovelhas que não são deste curral. Também a elas eu devo conduzir” (Jo 10,16).

“A missão é um estímulo constante para não nos acomodarmos na mediocridade, mas continuarmos a crescer” (EG, 121). “Saiamos, saiamos para oferecer a todos a vida de Jesus Cristo! Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças” (Papa Francisco. EG, 49).

A presença da Igreja Católica é bem-vinda porque faz a diferença através dos mais variados serviços sociopastorais… A Igreja presente nos novos territórios leva uma extraordinária vida, repleta de fé e esperança para o povo; a realidade muda com a presença da Igreja por causa da sua sensibilidade comunitária, responsabilidade social e propostas pastorais, grupos, movimentos, serviços…

PARA REFLEXÃO PESSOAL:

  1. O que é uma área missionária?
  2. Por que é necessário reorganizar a presença da Igreja fundando novas comunidades?
  3. O que significam as palavras que Jesus disse a Pedro: “avance para água mais profundas”?

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