Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo

 

Os próximos dias serão de carnaval, sendo que o carnaval brasileiro é a maior festa popular do mundo. Uma multidão participa das mais diversas formas da festa, ou folia. Outros vivem estes dias em outras ocupações, como lazer, retiros espirituais, Romaria da Terra, em casa, e muitos trabalhando. Sem dúvida é um tempo marcante do ano que quebra a rotina da semana.

As festas, das mais diferentes motivações que tenham, também as religiosas, atraem e centralizam finalidades e mentalidades divergentes renovando uma fascinação festiva. A vida cotidiana com seus problemas e conflitos cede espaço para outras manifestações vitais e de buscar novas razões para viver. O cunho positivo da festa emerge diante do seu oposto, isto é, quando alguém foge, se fecha diante de qualquer atividade festiva causa preocupação. A festa faz parte da dimensão do homem total. É um período de intensificação da vida coletiva durante o qual se renuncia à sua atividade normal, produtiva e útil.

O carnaval, como todas as festas, pode ter muitas interpretações. Pode ser feita uma leitura sociológica, fenomenológica, funcionalista, historicista, entre outras. Pode-se dizer que todas as análises têm em comum que o tempo da festa se caracteriza por um componente ritual e por um componente lúdico, de festividade, de prazer. Como é ressaltado, toda festa, mesmo a de rua onde uma massa segue um trio elétrico segue um certo ritual.

Se o carnaval de rua envolve multidões, seja mais espontâneo e onde os foliões de manifestem de forma individual, mais marcantes são desfiles das Escolas de Samba. O conjunto das regras a serem seguidas são as que permitem a ritualidade, mas não impedem a criatividade e a originalidade. Impressiona como o tema escolhido se transforma em poesia musical, melodia, coreografia, fantasias. Estas múltiplas formas de desenvolver o tema revelam a grande capacidade das pessoas envolvidas.

Ressalto o trabalho coletivo de um Escola de Samba. A vida social somente é possível com a colaboração de cada indivíduo. Vivemos numa sociedade marcada pelo individualismo onde os interesses privados atropelam o bem comum. Para chegar o dia do desfile a Escola vivenciou um imenso esforço coletivo que é educativo para todos os seus membros. Num desfile praticamente não existe um personagem solo, sendo quase tudo coletivo. A harmonização da bateria, das coreografias exige de cada indivíduo sair de si e agir de maneira coletiva. Faz a experiência que a alegria, a vitória individual depende da harmonia com os outros.

O período do carnaval também desperta preocupações, especialmente na área da saúde e do transporte. O modo de festejar que resulta em graves consequências para a saúde, ou até a morte, propriamente não é festa. Alguém pode argumentar que este é um problema individual e sou livre para fazer o que quero.  Deve-se dizer que é uma premissa não é toda verdadeira, pois as consequências e o custo dos problemas serão coletivos, serão da família e da sociedade.

Como brasileiros que nos amamos e devemos aprender a nos amar mais, um dos espaços mais agressivos que temos é o trânsito. As estatísticas indicam esta verdade. Acontecem acidentes, mas temos que admitir que grande percentagem não é acidente. É falta de respeito às leis do trânsito e acima de tudo, é falta de amor à própria vida e falta de amor ao próximo.

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