Desde o lançamento da Campanha da Fraternidade (CF) deste ano, recebi diversas manifestações de apreço pelo fato de a Igreja ter escolhido a “segurança pública” como tema
da CF de 2009: “que bom, que a Igreja entrou nesta questão!” Sente-se de muitas formas a falta de segurança e muitas pessoas esperavam por esta iniciativa da Igreja “para fazer alguma coisa”… Está claro que a questão de fundo é a violência, que se alastra sempre mais, embora isso não apareça no enunciado do tema da CF.
Para que a CF tenha o efeito desejado, isto é, menos violência e mais paz na convivência social, a sociedade é chamada para uma reflexão ampla sobre os fatos de violência e, sobretudo, sobre suas causas, que podem ser tantas. Para isso, apela para o envolvimento e a participação de todos os seus filhos e filhas e de todas as suas organizações. Coloca à disposição materiais de apoio já conhecidos, como o Texto-Base e o Manual da CF, que apresentam a abordagem do tema e a propostas de reflexão e de ação; há ainda materiais para destinatários e grupos diversos, como escolas, a catequese, a juventude e as famílias.
Mas a reflexão não deve ficar apenas dentro do âmbito da Igreja: esta é missionária e quer falar a toda a sociedade. Para isso, é necessário que o tema chegue às páginas dos jornais e revistas, às telas das TVs, ao rádio e à Internet. Manifestações públicas podem ser organizadas para chamar mais a atenção sobre algum aspecto do problema. Iniciativas e criatividade estão liberadas amplamente e são muito desejadas. Leigos e suas organizações podem dar grande contribuição para esta tarefa, valendo-se de sua competência profissional e de suas responsabilidades e competências na vida e nas organizações da sociedade. Penso que toda iniciativa para propor uma reflexão sobre o tema da violência nos ambientes de trabalho e de convivência social seja bem-vinda; ações poderão ser promovidas de forma ecumênica, de mãos dadas com outros grupos religiosos ou organizações sociais e culturais. Os beneficiados serão as pessoas e a sociedade inteira.
Chamamos a atenção para as responsabilidades do Estado na solução do problema da violência: segurança pública é um direito dos cidadãos e um dever do Estado; denunciamos os esquemas de violência organizada e criminosa, as injustiças sociais não resolvidas e que são uma violência contínua, especialmente sobre as pessoas e as camadas sociais frágeis e indefesas; alertamos para certa cultura complacente com a violência, que aparece no apreço dado a espetáculos deprimentes de violência, ou na exploração, como mercadoria e recurso para captar lucros, da curiosidade mórbida sobre fatos de violência; vai-se formando assim a insensibilidade e a indiferença das consciências diante das situações concretas de violência, que se tornam corriqueiras e parte do dia-a-dia.
A CF levanta um forte grito de alerta contra a violência, antes que esta fique incontrolável; quem nada faz para combatê-la, acabará sendo vitimado por ela. É preciso haver uma verdadeira “conversão social”, para não dar lugar à cultura da violência, às estruturas e organizações que fazem da violência o seu modo de se impor e ter vantagens; é preciso que seja difundida a cultura da dignidade do ser humano e do respeito aos seus direitos; e que sejam criadas favorecidas as condições de uma verdadeira justiça social, pois sem justiça não haverá paz.
Na nossa proposta para a solução desse problema, porém, há um diferencial, que queremos afirmar claramente durante esta Quaresma: a superação da violência não depende apenas de condições externas, mas também da conversão do coração e da orientação da vida segundo a verdade e o bem. “O reino de Deus chegou! Convertei-vos e crede no Evangelho!” (cf Mc 1,15). Este anúncio de Jesus orienta toda a caminhada quaresmal e a vida cristã. Quem quer viver segundo Deus deve mudar de conduta, abandonar o que não convém diante de Deus e abraçar aquilo que é coerente com seu reinado.
Também a CF orienta-se por este princípio fundamental. Na medida em que o coração humano aceitar o reino de Deus e sua justiça, mudam também as relações sociais. Por isso a CF nos traz a sabedoria preciosa e já bem antiga do profeta Isaías: “A paz é fruto da justiça!” (37,17). E, no reino de Deus, o modo de viver e conviver é a fraternidade, onde o próximo é visto como um irmão, filho do mesmo Pai celeste e digno de todo o respeito e consideração. Viver segundo o reino de Deus é promover a verdadeira cultura da paz.