Cardeal Sergio da Rocha
Arcebispo de Salvador
A realidade da violência, com suas múltiplas faces, tem sido duramente sentida pela população e cotidianamente estampada pela mídia. A vida e a dignidade das pessoas e de grupos sociais mais vulneráveis têm sido violadas de muitos modos. A complexidade do problema não pode levar à passividade e ao desânimo, nem a soluções equivocadas de cunho emocional, que tendem a agravá-lo ainda mais. Análises simplistas e reações puramente emocionais não resolvem. É preciso pensar sobre o seu significado e as suas causas para encontrar saídas condizentes com a dignidade humana.
O anseio pela paz está no coração de cada pessoa. O clamor pela paz brota especialmente das periferias sofridas das grandes cidades e das zonas marcadas pela violência e criminalidade. Não se pode aceitar ou conviver passivamente com tantas formas de violência. A construção da paz é tarefa coletiva. Necessita da atenção e dos esforços de todos, de acordo com os diversos graus de competência e de responsabilidade. Os poderes públicos desempenham papel fundamental, promovendo a segurança pública, o combate à impunidade e a justiça social. Mas, há muito a ser feito por cada um, espontaneamente, nos diversos ambientes em que vive, superando a agressividade nas redes sociais, no no ambiente familiar ou nas ruas.
O ódio, a vingança e o fazer justiça pelas próprias mãos não são respostas; ao contrário, agravam ainda mais a realidade da violência. A busca da justiça que conduz à paz não se faz através da violência. É motivo de esperança a defesa apaixonada da vida, da dignidade e dos direitos de toda e qualquer pessoa humana, testemunhada por muitos que acreditam na fraternidade e na paz.
Entretanto, a paz não é simples ausência de conflitos. Trata-se de uma realidade de significado profundo e amplo, abarcando a paz consigo mesmo, a paz entre as pessoas, a paz na sociedade, a paz com a natureza, a paz com Deus. O conceito bíblico de “paz”, expresso pelo termo hebraico shalom, significa plenitude de vida, felicidade completa, o que inclui condições de vida digna para a pessoa, a família e o povo, assim como, a abertura a Deus, fonte da verdadeira paz.
Somos todos responsáveis pela paz. É preciso fazer acontecer um mutirão permanente pela construção da paz, que inclui desde os gestos pequenos no cotidiano até as grandes decisões políticas em favor da vida, da justiça social e da segurança pública. Os discípulos de Cristo devem fazer a sua parte, empenhando-se com renovado compromisso nesta tarefa permanente, contribuindo não apenas pessoalmente e espontaneamente, mas de modo comunitário e organizado para uma cultura de paz.