A sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) recebeu, na manhã desta quinta-feira, 3, a visita do diretor do Centro Unitario per la Formazione Missionaria, padre Marco Testa. Organismo vinculado à Conferência Episcopal italiana, o centro é o responsável pela formação de missionários locais e estrangeiros, estrutura institucional equivalente ao Centro Cultural Missionário (CCM) aqui no Brasil.
E foi justamente para trocar experiências sobre o funcionamento das casas de formação que o padre italiano esteve em Brasília. A principal visita na capital federal foi ao CCM, onde pôde fazer um “Intercâmbio de ideias e experiências” com o diretor da casa de formação, padre Djalma Antônio da Silva. Segundo Testa, os dois puderam perceber que “a situação é a mesma, as dificuldades e as alegrias se correspondem”.
Pandemia
Assim como aqui no Brasil, a pandemia da Covid-19 afetou o trabalho do centro de formação italiano, localizado em Verona. Anteriormente focado nas formações presenciais, o Centro Unitário per la Formazione Missionaria teve que se adaptar à realidade das formações on-line.
Mesmo assim, no verão do ano passado, foi possível realizar praticamente todos os cursos de forma presencial, o que não aconteceu aqui no Brasil.
Sobre a modalidade virtual, padre Marco Testa pontuou ser uma boa ferramenta, mas não tanto “quanto a possibilidade de convivência”.
“A gente acha que é fundamental a convivência dos cursistas para uma preparação boa: as amizades, a troca das motivações, das experiências de cada um. Nós temos sempre padres, leigas, leigos, religiosas, uma turma em situações diferentes e destinos missionários diferentes, o que faz a beleza também do curso”, partilhou.
Diminuição de missionários
Engajados na reflexão missionária, os diretores também partilharam sobre a conjuntura da missão. Padre Marco Testa aponta o desafio de “manter vivo o espírito missionário na Igreja como um todo e impedir que a Igreja se feche em si mesma, porque ser missionário é o que mantem a vitalidade da Igreja”. Na Itália, conta, tem diminuído o número de missionários que partem em missão, às vezes por resistências das próprias dioceses.
Também os padres fidei donum, aqueles do clero diocesano que exercem o ministério por um determinado tempo em dioceses mais necessitadas do mundo, tem seu número reduzido.
“Muitos voltam para a Itália, tendo uma idade avançada, tendo completado os anos do seu compromisso missionário. Então, fica difícil achar padres que possam partir, porque, de forma geral, as vocações estão diminuindo muito. Por outro lado, aumentou um pouco a partida de leigas e leigos, às vezes são famílias, até com crianças, que partem para experiência missionária, quase sempre junto aos missionários padres que já estão trabalhando num país do exterior”, conta.
Também permanece de forma mais viva o envio de religiosas missionárias, muitas delas são “irmãs não italianas, mas que pertencem a famílias religiosas italianas”.
Segundo padre Testa, não há um foco de envio para determinado continente. Tanto a África, a Ásia e a América Latina, têm “números baixos” de missionários enviados.
Formação missionária
Neste contexto de diminuição de missionários ad gentes, o centro italiano alterou o formato de funcionamento. Num primeiro momento focado na preparação para a missão na América Latina, depois para África, e a Ásia e outros destinos missionários.
Mais recentemente, nos últimos 20 anos, a “Casa de Verona” assumiu a tarefa específica de prover a formação dos missionários que partem e chegam à Itália. Assim, possuem uma formação parecida com o Curso de Iniciação à Missão no Brasil, o tradicional Centro de Formação Intercultural (Cenfi), oferecido pelo CCM.
“São quase mil padres não italianos engajados nas paróquias italianas, provindo, sobretudo, da África, mas também da Ásia, também de alguns países europeus, aí adaptamos também o nosso centro para recebê-los, ensinar o idioma italiano e introduzi-los quanto à realidade tanto social, quanto eclesial e pastoral da Itália”, conta padre Marco.
Migração e missão “inter gentes”
Outra realidade citada por padre Marco, e que influencia na diminuição do número de missionários, é o direcionamento da realidade local como objeto da missão.
“Dizem que não é época de enviar missionários para outros países, ‘a missão está aqui’. Isso vale para a Itália e vale para o Brasil. Ser missionários aqui, todos discípulos missionários em qualquer lugar, essa é a nova reflexão sobre a missão”.
Nesse sentido, a realidade da migração tem clamado atenção da Igreja. “Na Europa, de forma geral, vivemos uma situação com a chegada de muitos migrantes, e com isso de muitas religiões, então é aquela missão chamada inter gentes, uma missão que te leva a ver a presença de várias culturas, de várias origens de países, de várias religiões, é um desafio muito grande que obriga a refletir missionariamente também”, descreve.
Essa realidade, porém, “não pode impedir que a Igreja envie”. O padre recorda o ensinamento já cinquentenário, presente na reflexão eclesial da América Latina, de “doar desde a nossa pobreza”.
“Não enviamos porque somos uma Igreja rica, sobretudo rica em pessoas, em padres ou em meios financeiros, enviamos a partir de nossa realidade, que às vezes é uma realidade de pobreza. É uma Igreja que está se tornando mais humilde, a Igreja italiana. Mesmo por isso não podemos parar essa atitude missionária de envio, porque isso enriquece muito a Igreja, não permite a Igreja se fechar em si mesma. O envio de alguém transforma de maneira missionária a realidade”, acredita.
Padre Marco Testa foi padre fidei donum no Brasil por 15 anos, na diocese de Guarulhos (SP). No início da década de 1990 também foi aluno do CCM, tendo cursado a formação de aperfeiçoamento do Português. Na visita à CNBB, na manhã desta quinta-feira, foi acompanhado pelo secretário adjunto de Pastoral da Conferência, padre Marcus Barbosa Guimarães.
Fotos: Luiz Lopes Jr/Assessoria de Comunicação CNBB
CUM – Centro Unitario per la formazione Missionaria