Eleições 2018: vice-presidente da CNBB observa “busca do poder pelo poder”

No dia 7 de outubro de 2018, o Brasil volta às urnas para escolha de deputados, senadores, governadores e presidente da República. A realidade de crise ética, instabilidade política e econômica faz com que já sejam percebidas movimentações de pessoas e partidos na busca pelos cargos mais importantes da República. “A impressão que tenho é de que se trata da busca do poder pelo poder”, analisa o arcebispo de Salvador e vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Murilo Krieger.

Mirando o Palácio do Planalto, uns e outros apresentam “saídas para a crise” e “soluções para o Brasil”, a imprensa começa a escutar os postulantes e traçar cenários. Para dom Murilo, os brasileiros, de modo geral, estão mais preocupados com o desemprego, os problemas de saúde, o custo de vida, entre outras realidades. De outro lado, os que se desencantaram com a política, dadas as contínuas notícias negativas envolvendo os políticos.

Foto: CNBB/Luiz Lopes Jr.

“Como seriam importantes e mesmo necessários políticos que, no passado, foram capazes de, em momentos de crise, apontar novos horizontes, motivando o povo a ir atrás de bandeiras verdadeiramente significativas”, idealiza.

O que é visto hoje, segundo o primaz do Brasil, são candidatos procurando siglas, com projetos pessoais ou de grupos, demonstrando pouca preocupação com o povo e a realidade do país. “Seria mais importante que os possíveis candidatos utilizassem suas energias para apontar soluções para nossos desafios. E os que estão no poder, que pensassem não tanto em se manter nele, mas em buscar soluções para os problemas que enfrentamos”, afirma.

No Congresso Nacional, é possível verificar tal apontamento de dom Murilo com o debate e aprovação de uma reforma política voltada para interesses próprios dos parlamentares que visam a reeleição.

Fazer nascer a esperança
Dom Murilo espera que surjam candidatos que sejam capazes de fazer nascer a esperança no povo brasileiro: “Esperança, claro, de dias melhores, marcados por mais justiça, transparência e retidão. Se eles não surgirem, ficará aberta a porta para os messias ou os demagogos”. Tal reflexão deve-se ao fato de que em vários países há um problema considerado cruel pelo bispo: “Nas eleições, diante das opções que tem diante de si, o eleitor se sente obrigado a escolher o que lhe parece menos ruim. Isso é triste e lamentável”.

Tal situação não permite analisar se para o próximo ano o eleitor brasileiro deve estar mais preparado para boas escolhas ou se os atuais resultados das pesquisas recentemente divulgadas já demonstram pouca transformação das consciências em relação à política. Mas a atuação da Igreja pode estar voltada para este contexto.

“Nossa missão é motivar o povo a pensar, a refletir, a discutir, a dialogar, a tomar consciência da situação do país. Além de preparar textos ou cartilhas que ajudem o povo a alcançar tais objetivos, cabe-nos incentivar os leigos e as leigas a usarem as redes sociais, que hoje têm uma força e influência enormes, para difundirem valores a partir dos quais deve-se fazer a escolha de alguém para este ou aquele cargo” – Dom Murilo S. R. Krieger.

Responsabilidade da imprensa
Dom Murilo Krieger recorda uma frase dita entre jornalistas para falar sobre o perigo das notícias falsas, no ambiente virtual chamadas de ‘fake news’: “’Numa guerra, a primeira vítima é a verdade’. Diria que numa campanha política acontece o mesmo. É preciso cuidar para que notícias mentirosas ou difamatórias, envolvendo candidatos, não sejam repassadas adiante sem critério. Afinal, a paixão cega; a ideologia, além de cegar deixa a pessoa surda”.

Esta também é uma preocupação do papa Francisco, que escolheu para o próximo Dia Mundial das Comunicações o tema: “A verdade vos tornará livres” (Jo 8, 32). Notícias falsas e jornalismo de paz.

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