João Justino de Medeiros Silva
Arcebispo Coadjutor de Montes Claros (MG)
A celebração do Dia de Finados é momento favorável que permite aos cristãos recordar os irmãos que nos precederam no caminho para a vida definitiva em Deus. Esse dia é propício para agradecermos ao Senhor o dom da vida e a história dos que faleceram, e todo bem que eles realizaram. Na oração e na saudade, nós cristãos reconhecemos que na morte “a vida não é tirada, mas transformada”. Vivemos da fé exposta nas palavras de Jesus Cristo à Marta: “Teu irmão ressuscitará” (João 11,23). E contemplamos o mistério de Jesus Cristo, que assumiu a condição humana até a morte, e morte de cruz. Mas, Ele ressuscitou e abriu para todos nós as portas da vida eterna.
O ser humano celebra ao longo do tempo os principais acontecimentos de sua existência. As datas de aniversários são especiais: dia do nascimento, do batismo, do casamento, da formatura… Também recordamos o dia da morte das pessoas queridas. Nesse caso, recordamos a vida daquela pessoa, o significado dela para nós, o quanto ela nos marcou e nos deixou de saudade.
É como se o calendário fosse um imenso corredor com 365 janelas. Através de cada janela podemos contemplar diversos acontecimentos. Naquela do dia 2 de novembro, contemplamos o mistério da morte e da esperança na ressurreição.
O cristão vive desta fé: nascemos não para morrer, mas para ressuscitar. A vida, que se inicia com a fecundação e é gestada no útero materno, passa pelo útero da terra e desabrocha na imensidão do colo de Deus, capaz de acolher filhos e filhas amados e perdoados. É sabido que alguns receiam olhar por esta janela. Julgam-na muito triste, têm superstição e medo. Queira Deus, todos alcancemos a maturidade espiritual e a completude interior de Francisco de Assis. Ele estabeleceu uma relação de paz com a própria morte, ao tratá-la de “irmã”, no seu Cântico das Criaturas: “Louvado sejas, meu Senhor, por nossa irmã a Morte corporal, da qual homem algum pode escapar”.
Amadurecidos na fé, nós, os cristãos, abrimos esta janela do Dia de Finados com o coração aquecido pela palavra de Jesus: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá. E quem vive e crê em mim jamais morrerá” (João 11,26). Com humildade, nesse dia, vamos ao cemitério onde foram “plantados” os irmãos e irmãs que passaram pela morte. Com reverência pela memória de cada um ali sepultado, fazemos nossas orações. Recolhamo-nos no silêncio diante do mistério da vida e deste passo doloroso que toca a todos os seres vivos: a morte.
Somos chamados a proclamar o imenso amor de Deus. Ele não deixa a semente da vida morrer em nós. Mas, na força do seu Espírito, ressuscita o “grão de trigo caído na terra” (João 12,24). Quando partirmos, nosso corpo mortal também será depositado na terra. Enquanto esse momento não chega, “não nos cansemos de fazer o bem” (Gálatas 6,9).
Celebremos, pois, o Dia de Finados. Não fujamos dessa ritualidade cheia de significados. Recordemos que a nossa fé se fundamenta n’Aquele que morreu e está Vivo, Jesus Cristo, o Senhor!