Cardeal Sergio da Rocha 
Arcebispo de Salvador (BA) 

 

  

O tema da pluralidade cultural tem sido objeto de inúmeros estudos nos âmbitos do pensamento científico e filosófico, com diferentes posturas hermenêuticas. A temática da “cultura” e das “culturas” tem figurado, com crescente atenção, no campo da teologia e no Magistério da Igreja. A pluralidade cultural tem se revelado um desafio teológico-pastoral que interpela a teologia, notadamente nos âmbitos da eclesiologia, da liturgia, da moral e da pastoral. A postura crítico-profética frente ao tema não deve reduzi-lo às dificuldades constatadas. O reconhecimento da pluralidade cultural não implica na fragmentação ou dissolução da própria identidade; ao contrário, permite preservá-la, estabelecendo diálogo. 

Na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, o Papa Francisco explica o significado do termo cultura. “A noção de cultura é um instrumento precioso para compreender as diversas expressões da vida cristã que existem no povo de Deus. Trata-se do estilo de vida que uma determinada sociedade possui, da forma peculiar que têm os seus membros de se relacionar entre si, com as outras criaturas e com Deus. Assim entendida, a cultura abrange a totalidade da vida de um povo” (n. 115). Portanto, a noção de cultura não pode ser reduzida à chamada “cultura erudita”, mas deve incluir as suas várias expressões.    

“Um povo com muitos rostos’ é como Francisco define o Povo de Deus que “encarna-se nos povos da terra, cada um dos quais tema a sua cultura própria” (EG 115). Ao longo da história, a fé tem sido recebida e transmitida por inúmeros povos “segundo as próprias modalidades culturais”. Nos diferentes povos e culturas, “a Igreja exprime a sua genuína catolicidade e mostra a beleza do seu rosto pluriforme” (EG 116), afirma o Papa, citando S. João Paulo II. 

A relação entre Igreja e cultura, sempre muito importante ao longo da história, adquire especial importância hoje. Nas suas Diretrizes pastorais (2019-2023), a Igreja no Brasil tem procurado dar especial atenção à cultura urbana, considerada um dos desafios mais relevantes à missão, num mundo que vai se tornando cada vez mais urbano. A postura fundamental deve ser a do diálogo, procurando escutar e compreender a mentalidade urbana atual e situar-se nos diversos espaços da cidade. Entretanto, esta atitude não significa renúncia à missão profética frente à realidade. Como “sal da terra” e “luz do mundo”, ilumina com a luz da fé a vasta e complexa realidade sociocultural. 

“Se bem entendida, a diversidade cultural não ameaça a unidade da Igreja. (…) Não faria justiça à lógica da encarnação pensar num cristianismo monocultural e monocórdio” (EG 117), afirma o Papa Francisco, que tem proposto o caminho sinodal, marcado pela escuta ampla e atenta nos diversos contextos culturais. 

 

 

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