Dom Aloísio A. Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul, RS
Caros diocesanos. Na mensagem anterior versávamos sobre as Assembleias Gerais dos Bispos do Brasil, como uma significativa experiência de comunhão eclesial. Neste encontro se coloca em clara evidência o sentido da colegialidade dos Bispos, que bebem da mesma fonte sacerdotal e tentam pastorear em espírito de fraternidade o Povo que Deus lhes confiou. O tema central da 55ª Assembleia Geral foi a Iniciação à Vida Cristã: Itinerário para formar discípulos missionários, temática que muito nos interessa, uma vez que optamos na 12ª Assembleia diocesana abraçar este caminho, na perspectiva de uma Igreja samaritana. Como prometemos anteriormente, começamos a apresentar um resumo do novo Documento da CNBB sobre a Iniciação à Vida Cristã.
A Igreja vive hoje o urgente desafio de rever seu processo de transmissão da fé. Durante longo período da sua história, ela se movia em espaços culturais moldados pelo cristianismo, em que se herdava a fé cristã a partir da família, da escola, da comunidade e até da sociedade. Este panorama se alterou profundamente, exigindo conversão para novo modelo (paradigma) pastoral, pois não basta preparar para sacramentos, se antes não houver um encontro com Jesus Cristo e a opção de viver como discípulo missionário numa comunidade. Os documentos dizem que não mais podemos pressupor a fé cristã, que acontece por atração e escolha pessoal e não mais por tradição herdada.
Neste novo contexto, a CNBB decidiu pelo aproveitamento dos aspectos mais importantes da chamada Iniciação à Vida Cristã no espírito catecumenal, conforme o Ritual de Iniciação Cristã de Adultos, recomendado pelo Vaticano II. Este ritual se inspira nos primeiros séculos do cristianismo, quando o mundo também não era cristão e exigia uma preparação bem intensiva para proporcionar o encontro com Jesus Cristo. A formação doutrinária e a celebração litúrgica eram unidas e inseriam os catecúmenos ou catequizandos gradativamente na comunidade de fé. Desde 2011, a Iniciação à Vida Cristã (IVC) está presente nas Diretrizes Gerais da CNBB, como uma das urgências pastorais. O processo da IVC exige novas disposições pastorais: perseverança, docilidade ao Espírito, sensibilidade aos sinais dos tempos, escolhas corajosas e paciência: como o fizeram S. Paulo, os primeiros cristãos e tantos missionários, em seu tempo.
O documento apresenta quatro capítulos, sendo que o primeiro apresenta o evangelho do encontro de Jesus com a mulher samaritana, no poço de Jacó (Jo 4, 4-42). Também hoje nos encontramos no poço, como a mulher, com balde vazio, no desejo de satisfazer o mais profundo do coração: o sentido pleno da existência. O texto mostra como um encontro com Jesus transforma a vida e atinge os outros. O evangelho fala que era desígnio de Deus que Jesus passasse pela Samaria (Jo 4, 4), onde viviam os considerados distantes do verdadeiro culto. O poço é lugar de encontros. Era incomum um homem pedir de beber a uma mulher, ainda mais samaritana. O texto mostra o desejo de Jesus em revelar-se como dom de Deus àquela mulher. A sede de Jesus é de nos ver seguindo seu caminho. Na próxima mensagem continuaremos a reflexão, dando-nos conta que hoje nós somos os que buscam a água viva, que só Jesus pode dar.