Dom João Justino de Medeiros Silva
Arcebispo Metropolitano de Montes Claros

A Igreja proclama na missa da noite de Natal, conhecida como Missa do Galo, a leitura dos primeiros versículos do capítulo 9 do livro do profeta Isaías. O quinto versículo diz: “Porque nasceu para nós um menino, foi-nos dado um filho; ele traz aos ombros a marca da realeza; o nome que lhe foi dado é: Conselheiro admirável, Deus forte, Pai dos tempos futuros, Príncipe da paz”. Eis um dos mais belos títulos atribuídos ao filho de Maria e de José: Príncipe da paz. Também o evangelho de Lucas, proclamado na mesma celebração, traz o canto da corte celeste, registrado em muitos presépios: “Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens por ele amados” (Lc 2,13-14). Vê-se que a chegada do menino Deus é um fato que aponta para a paz entre os homens.

Sim, Jesus é o Príncipe da paz. Ele não hesitará em proclamar: “Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9). Enviado pelo Pai, a missão de Jesus, na força do Espírito Santo, é fazer-nos reconhecer que “somos todos irmãos” (Mt 23,8). Eis porque o Natal do Senhor tem um tom de paz e de reconciliação. Aquela criança, que nasce em Belém, é capaz de despertar nos corações de um número incontável de pessoas o desejo de paz e de fraternidade. Para aqueles que andavam nas trevas, surge uma luz que vence a escuridão e traz vida. É o Emanuel, Deus conosco.

Em nossas comunidades, famílias e amigos se reúnem para celebrar o Natal do Senhor. Ritualizam suas alegrias com ofertas de presentes e votos de boas festas. Confraternizam-se e se abraçam, ceiam e partilham da mesa comum. Esses encontros são, também, a oportunidade para cada pessoa oferecer o perdão e pedir o perdão e, assim, libertar-se pela reconciliação. O Natal provoca sentimentos de recomeço. O escritor mineiro João Guimarães Rosa colocou na expressão de Riobaldo essa convicção: “Minha Senhora Dona, um menino nasceu. O mundo tornou a começar”. E o recomeço do mundo, do tempo, da história pede a coragem de fazer as pazes, de perdoar, de se reconciliar.

Um recém-nascido traz vida para toda a família. Sua chegada pode trazer lágrimas aos olhos dos mais endurecidos pelas labutas diárias. Seu choro indica fome e incômodos, e mobiliza todos de uma casa. Seu sono, dirão, é como o dos anjos. Todos se tornam como crianças ao contemplar seus primeiros sorrisos. Jesus é Deus que se fez menino e quis atrair nosso olhar, nossa atenção, nosso coração. Ele encontrou o caminho mais humano de se aproximar de nós. É quase impossível não se sensibilizar diante de um recém-nascido. E a mensagem do Natal não é outra, senão esta: o menino que nasceu de Maria e está na manjedoura é o Salvador, é o Cristo, é o Senhor. Ele é a boa notícia que a humanidade espera.

Ninguém celebre o Natal com o coração fechado para outra pessoa. Aproveite o embalo das canções natalinas para fixar os olhos no Príncipe da paz e buscar refazer laços desfeitos pelo rancor, pela ofensa, pela palavra desmedida… O tempo da vida é breve e não compensa não perdoar, não pedir perdão. Abrir os braços, olhar nos olhos e dizer “Feliz Natal” é, seguramente, sinal de muitos recomeços.

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