Os ouvintes de João Batista se perguntavam se João não seria o Messias prometido pelos profetas. João Batista fez questão de explicar que sua missão era de preparar o caminho para outro que vos batizará no Espírito Santo e no fogo. Eu não sou digno nem de desamarrar a correia de suas sandálias. ( = limpar os seus sapatos).
Lucas não menciona o espanto de João diante de Jesus que se apresentou para ser batizado por ele. Sou eu que devo ser batizado por ti, e tu vens a mim? (Mt 3,14).
Lucas diz apenas: Quando todo o povo estava sendo batizado, Jesus também recebeu o batismo. Depois se refere à aparição do Espírito Santo que desceu sobre Jesus em forma visível, como pomba. E lembra a voz que veio do céu: Tu és o meu Filho amado, tu és do meu agrado.
O batismo de João, a imersão nas águas do rio, marcava a purificação dos pecadores que se apresentavam dispostos à conversão e penitência.
O batismo cristão é algo mais, traz uma vida nova, a vida na graça divina. Mas a graça divina precisa de acolhida pessoal de cada batizado, na medida do seu entendimento. Deus respeita a liberdade das pessoas. Não impõe a sua presença. È algo parecido com a amizade. Se um não quer, dois não são amigos.
Então, será que grupos de cristãos que não aceitam o batismo de crianças têm razão? Dizem que só deve ser batizado quem estiver em condições fazer uma opção pessoal, de escolher em plena liberdade entre a diversidade cada vez maior de igrejas e religiões.
Acontece que o batismo de crianças não tira a liberdade delas de fazer uma opção consciente quando chegarem à idade do discernimento. Examinai tudo, guardai o que for bom, nos diz o apóstolo Paulo. Religião não é questão de herança. É coisa de livre escolha, de adotar a melhor que encontramos. O critério da escolha não pode ser questão de agrado, nem de caminho mais fácil. O que interessa é a verdade, a verdade filosófica da razão, e a verdade histórica da revelação. Não faz sentido construir a vida sobre mentiras, nem que sejam agradáveis. Seria insensato fugir da verdade, mesmo que seja exigente.
Se os católicos fazem questão de batizar os filhos desde pequenos, é por entender que o batismo não é apenas aderir a uma igreja. Não é algo parecido com a filiação num partido político.
No batismo recebemos uma vida nova, nos tornamos filhos de Deus num sentido muito mais forte que a expressão popular que diz: Afinal, também sou filho de Deus. Os católicos com fé na realidade maravilhosa da graça divina fazem questão de batizar seus filhos quanto antes. Isso não tira a liberdade deles.
Encaminhar os filhos para o bem não lhes tira a liberdade de andar por caminhos errados. Por outro lado, se um pai supersticioso ou de vida torta conduz seus filhos por maus caminhos, isso não tira a liberdade deles de escolher caminhos melhores. Os pais precisam tomar decisões importantes para a vida dos filhos.
Tais discussões me trazem à memória certas tolices de Sartre, famoso escritor francês, que se queixava dos seus pais que o puseram neste mundo ruim sem perguntá-lo se queria viver.
Por outro lado, trazer um filho pequeno para ser batizado, e depois deixar de cuidar da sua formação na fé por palavras e pelo exemplo, é algo como colocar um filho no mundo e depois deixá-lo morrer de fome. É por isso que a Igreja no Brasil passou a fazer algumas exigências para o batismo. No mínimo, que os pais e padrinhos façam um cursinho de preparação.
No entanto, devemos ter muito cuidado com imposições. Exigências são para motivar, não para desanimar e afastar pessoas fracas na fé. Por outro lado, não podemos deixar de apresentar a todos as exigências do Evangelho, mesmo que a cobrança integral dos mandamentos afaste alguns da Igreja.
O problema não é da Igreja que perde fregueses. O problema é de pessoas que perdem a Igreja. O problema é de famílias que desmoronam por falta de um amor apoiado em orientações seguras. O problema é de jovens que se perdem na confusão de valores. O problema é do futuro da humanidade.
Que futuro tem a família com jovens que se deixam levar pelos caminhos sem saída da promiscuidade, da bebida e de outras drogas? Como é que jovens sem ideais além dos pequenos prazeres da vida vão colaborar na construção de um mundo melhor para todos? Que futuro tem um mundo sem lideranças motivadas nos valores da fé?
Como é que o nosso século enfrentará o aquecimento global, as mudanças climáticas, a crescente escassez de água, energia e alimentos, se quase todos preferem viver a sua vidinha na mediocridade de interesses imediatos?
Um egoísmo do tipo farinha pouca, meu pirão primeiro, precisa ceder lugar ao amor. Os homens deverão aprender a amar os outros com a si mesmo.
