Dom Leomar Brustolin
Bispo auxiliar de Porto Alegre (RS)
Diante da pandemia do Covid 19 alguém pode se questionar: “Onde está Deus?”. Teólogos após a Segunda Guerra Mundial se perguntavam: “Como falar de Deus para quem contemplou Hiroshima, Nagasaki, Auschwitz e Birkenau?”
A complexa situação que a humanidade está vivendo implica na revisão das nossas relações econômicas, culturais, políticas e culturais. Também as religiões enfrentarão essa tarefa. Para a tradição judaico-cristã, trata-se de redescobrir o sentido do silêncio do Eterno diante do sofrimento, superando discursos que interpretam a pandemia como castigo. Isso não é bíblico, mas desejo humano projetado sobre o divino. Um Deus violento só pode ser pensado por quem não conhece o amor e a misericórdia. É necessário também rever a postura que insiste na “exigência” de curas milagres, quase tornando Deus um prestador de serviços à humanidade. Rezar para livrar a humanidade dos males e perigos é indispensável, mas pedir a proteção somente para determinados eleitos, é falta de sentimento de pertença à humanidade.
Deus criou este mundo e lhe concedeu total autonomia. A presença do mal no mundo e nas decisões humanas é um mistério. Isso exigiria aqui uma reflexão maior sobre a Teodiceia. Creio, porém, que a urgência deste flagelo precisa de uma palavra mais breve.
O silêncio de Deus não é apatia, pois o crente sente seu amor real que não o livra da cruz, como não poupou Jesus. Quem crê, sabe que a última palavra da história não será a doença e a morte. Não é o fim de tudo. Deus é empático com a humanidade, e por ser discreto, ele está agindo em cada médico, enfermeiro, colaborador de hospital, cientista e em todos que colaboram para superar esta crise. Está presente naqueles que arriscam a vida para salvar a vida dos outros. Ele está na solidariedade revigorada, naqueles que animam a esperança e rezam, porque são sabedores que ao final de toda essa provação, a humanidade vai precisar ver além do horizonte. A finitude e a impotência nos ensinam que ninguém nasceu para sofrer, mas a dor nos faz crescer. Deus está conosco, sempre!