A Conferência abriu os olhos do mundo para a necessidade de medidas urgentes para reduzir os estragos do aquecimento global. No entanto, muitos países não querem assumir compromissos. Alguns governantes chegam a dizer que só vão fazer alguma coisa se os outros também fizerem. Ainda bem que o Brasil começou com a promessa de uma redução substancial das queimadas.
O Brasil pode mais: Eliminar qualquer queima predatória. Implantar moratória radical para preservar as florestas atuais, impedindo retiradas de madeira sem substituição das árvores velhas por novas. Tudo isso sem esperar por dinheiro de fora, sem pedir dinheiro só para não desmatar. Podemos mais, não só emitir menos CO2, mas tirar carbono do ar, pela plantação de florestas em terras ociosas.
A quantidade de absorção de carbono pelas plantas é proporcional à quantidade de carboidratos produzidos na fotossíntese. O pior que temos são as áreas improdutivas. O melhor que podemos fazer é aproveitar essas áreas para produzir o que for possível. De quebra teremos um bom retorno financeiro.
No último dia da Conferência do Clima, já num ambiente de pessimismo generalizado, o presidente Lula disse: … não sei se algum anjo ou sábio descerá neste plenário para colocar na nossa cabeça a inteligência que nos faltou até agora.
Não pretendo ser esse sábio. Sou apenas um observador de muita curiosidade. Mas tenho algumas ideias para abrir caminho. Tenho espírito crítico para perceber as falhas nas análises da situação e nas propostas apresentadas, venham de onde vierem. Tenho conhecimentos básicos suficientes para não engolir qualquer proposta que se apresente respaldada em títulos acadêmicos. Alguns especialistas cuidam tanto de uma árvore que não enxergam a floresta. Ou fabricam argumentos para defender interesses.
Diagnósticos errados provocam receitas erradas. Se não matam o doente, no mínimo retardam a cura. Falta um programa global de ações para melhorar a situação. Em vez de combater moinhos de vento com Dom Quixote, precisamos enfrentar os problemas reais. Propostas que erram o alvo dificultam o consenso mínimo necessário para construir um acordo mundial que possa deter a catastrófica mudança climática.
Falta clareza sobre as causas reais que fazem o clima piorar. Segundo alguns, a culpa seria do boi: Carnes e laticínios causam 51% do gás-estufa global, dizem. Ora, o gado só pode produzir CO2 na medida em que o mesmo foi retirado da atmosfera pelo capim que o gado comeu. O desmatamento para criação de pastos deve ser evitado, mas sem ignorar que capim também retira CO2, talvez até mais que florestas maduras. O gado ainda deixa um saldo positivo, pelo menos na bosta. Deixo aos especialistas os cálculos exatos. Querem fazer do boi o bode expiatório?
Outro vilão seria o eucalipto que estaria ressecando a terra. Se ele resseca o terreno, retira muita água do solo e carbono do ar para fabricar carboidratos e liberar oxigênio. Isso é questão de química e biologia elementar. Com a queima do papel, o CO2 sobe na fumaça, fechando o ciclo sem contribuir para o aquecimento global. Imagino que ainda fica um saldo positivo na cinza, mas deixo os cálculos para os donos da ciência. Querem proibir a produção de papel? Ou têm alternativa melhor?
Áreas reflorestadas poderão absorver quantidades de carbono comparáveis às florestas maduras, além de fornecer madeira e papel e resolver o impasse da falta de carvão para padarias, olarias e usinas siderúrgicas.
A solução que proponho é plantar florestas em regiões difíceis, em áreas ainda improdutivas. Deixar as terras melhores para produzir alimentos. Plantar eucalipto nas beiradas dos desertos. No começo terão a terra quase de graça. Lá também ocorrem chuvas que podem ser aproveitadas. Para mostrar como se pode plantar em regiões de clima seco, tenho um campo de demonstração com árvore NIM em Manoel Vitorino. Nosso método de colocar as águas escassas na profundidade adequada junto das raízes nos permite conviver melhor com secas prolongadas e chuvas fracas.
O terceiro vilão seria o carvão. Devemos distinguir entre o carvão mineral e o carvão de origem vegetal. Qual dos dois é pior? O carvão vegetal parece pior, porque vem de árvores derrubadas. Na realidade, o carvão mineral é pior. Jogando no ar o carbono retirado da atmosfera em tempos pré-históricos, agora só faz aumentar as emissões de CO2. O carvão vegetal pode vir de árvores plantadas. Sua queima só faz devolver o carbono antes tirado do ar pelas plantas. Podem conferir as contas.
Nossas imensas reservas de minério de ferro precisam de muito carvão para ter valor agregado na siderurgia. Razão suficiente para plantar e replantar muita floresta. A única alternativa seria continuar a desmatar. Ou querem fechar as siderúrgicas? Querem que o Brasil continue exportando sua riqueza mineral em estado bruto, em vez de agregar valor na produção de aço?
Mesmo que forças poderosas não queiram saber, o maior emissor de CO2 no ar é o petróleo. Aumentar a produção de petróleo é agravar o efeito estufa. O remédio amargo está na substituição do petróleo por biocombustíveis, onde o Brasil é pioneiro.
Nem todos percebem ainda as vantagens ecológicas do biodiesel e do álcool. Será que não conseguem mesmo enxergar? O pior cego é aquele que não quer ver. Quando o carbono retirado do ar pelas plantas é queimado nos motores, só pode ficar um saldo pequeno nas cinzas. Mas a substituição de cada tonelada de gás carbônico proveniente da queima de combustíveis fósseis por uma tonelada de CO2 proveniente da queima de biocombustíveis resulta numa tonelada a menos de gases poluentes na atmosfera. Podem fazer as contas.
Substituindo metade do petróleo por álcool e biodiesel, podemos reduzir para metade os estragos causados no clima pela queima de derivados do petróleo. Algum cientista quer desmentir tal afirmação? Só que aí já surge o dilema do uso da terra: Produzir alimentos ou produzir energia?
Resumindo: O Brasil tem a possibilidade e a responsabilidade de contribuir mais que qualquer outro país para colocar um freio no aquecimento global, aproveitando sua situação privilegiada para produzir mais poluindo menos, contanto que não ponha o peso do desmatamento predatório no outro lado da balança. Adotando tecnologias de uso racional das águas nas áreas ainda ociosas, podemos retirar do ar quantidades enormes de gases de efeito estufa. Serão investimentos de retorno demorado, mas seguro.
No plano mundial, a solução melhor está no aproveitamento direto da energia solar, onde o Brasil também é privilegiado pela natureza e atrasado pela política econômica tacanha de juros de freio. A energia solar é limpa e tem a produção maior por área. Mas exige grandes investimentos, com retorno tão demorado que não daria nem com metade dos juros mínimos vigentes no país. Para matar qualquer vontade de investir nesse setor, a “força” irreal do Real torna mais barato importar equipamentos prontos.