Para responder aos desafios da situação de injustiça, marginalização e discriminação em que se encontram os/as negros/as em nosso Pais, em especial dentro da Igreja, a linha 2 da CNBB de então, promoveu diversos encontros a partir de 1977, visando uma reflexão, que fosse levada à Conferência de Puebla. Nasceu, assim, o Grupo “Tarefa” para assessoria à CNBB.
Esses dados, foram levados pelos repensáveis da linha 2, nas reuniões de Buenos Aires e Roma, onde se elaborou o ”Panorama Missionário da Igreja na América Latina”, incorporado no documento de trabalho de Puebla. Este documento, na XVII Assembléia da CNBB (1979), chamou a atenção dos Bispos sobre o assunto.
Desde o dia primeiro de setembro de 1978, na sede da CNBB, em Brasília, onde aconteceu o encontro de estudiosos preocupados com a evangelização do povo negro, concretizou-se o desejo de muitos/as negros/as de descobrir o que poderia fazer. Podemos dizer, nasceu a Pastoral Afro-brasileira (PAB), na sede da CNBB.
Houve uma reunião de um grupo de agentes de pastoral negros que se realizou nos dias 13 a 15 de fevereiro de 1980, em Capão Redondo, SP, na Casa de Encontros e Retiros das Irmãs Missionárias de Jesus Crucificado.
Emerge uma nova consciência. a partir das palavras consideradas inspiradas e inspiradoras do então Presidente da Linha 2: “Se o problema é dos negros, deve ser resolvido pelos próprios negros”. Nesta reunião, de 19 de junho de 1980, esse Grupo Tarefa, compreende que é necessário deslanchar, abrir horizontes numa visão mais ampla, ir além do religioso-confessional, para refletir sobre sua situação enquanto negros/as, na vida eclesial.
No primeiro Encontro Nacional de agentes de pastoral negros/as realizado em Brasília de 5 a 7 de julho de 1981, foi criado o “Grupo de União e Consciência Negra”. Esse nome foi aprovado por esta Assembléia com 42 votos (entre 60 participantes) entre três nomes.
Em 1981, na XIX Assembléia da CNBB, as questões afro-brasileiras foram novamente apresentadas a Episcopado, que reiterou seu empenho de dar atenção particular à situação dos afro-brasileiros/as em sua atividade evangelizadora.
Com todo o empenho dos/as agentes para uma resposta adequada, por parte da Igreja, a situação afro-brasileira no País e na Igreja, não recebeu a devida atenção evangelizadora e libertadora, como também Puebla confessa (nos. 8 e 40).
Ampliada a coordenação, buscaram soluções adequadas para o estudo e aprofundamento das várias dimensões da história do povo africano, além de outras atividades, tais como as comemorações e celebrações do 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra, realizados nos lugares mais diversificados. A pessoa de Zumbi, como herói da raça negra e os Quilombos dos Palmares passam a ser alvos referenciais. Nasceram assim, vários grupos e foram se expandindo.
Antes da criação da Pastoral do Negro/a, consagradas de várias Congregações Religiosas já vinham se reunindo a fim de refletir sobre o racismo na Vida Religiosa, como também o COMINA/POM. Não podemos esquecer os momentos coletivos conscientizadores, a Missa dos Quilombos (22/11/l981), que questionou a posição de poderio e dominação da sociedade brasileira e da Igreja, com relação aos povos negros e a religião africana trazida pelos escravos para o Brasil. Foi marcante o poema-oração “Mariama”.
A CNBB, a partir da reunião de 30 e 31 de outubro de 1982, em São Paulo, assume para o quadriênio 1983-8987, diretrizes pastorais para a linha 2 – Ação Missionária: Diálogo e Cultura Afro-brasileira.
Entre os/as leigos/as, religiosos/as e presbíteros continua uma insatisfação por não ter uma pastoral. Em 1983, na Catedral da Sé, em São Paulo, durante uma ordenação, houve um grito profético para a criação da Pastoral do Negro. Houve uma grande repercussão.
Marco relevante conquistado pelos/as agentes de Pastoral negro, foi a Campanha da Fraternidade (CF) de 1988, cujo tema, por estes, foi: “Povo Negro, um clamor de justiça”. A CNBB indicou e ficou assim o tema: “Fraternidade e o Negro” e o lema: “Ouvi o clamor deste Povo”. Foi um tema polêmico. Provocou muitas discussões e, até mesmo, algumas dioceses não seguiram o lema.
Toda este descrição histórica é para mostrar que os/as leigos/as negros/as estiveram desde o início presente, atuantes e uma força viva. Portanto, na diversidade da experiência cristã católica a igreja vai sendo enriquecida pela contribuição dos afros brasileiros. Desde década de oitenta, vem acontecendo à caminhada dos apns – agentes de pastoral negros – são leigos e leigas que vivem o compromisso de batizados prestando serviço nas diferentes ações da Igreja.
Organizaram-se como agentes negros, em 1983, não a partir de uma perspectiva sectária, mas para aprofundar a sua pertença a Igreja como membros de uma tradição que é milenar. Ser negro e ser católico não é visto como contradição mais como enriquecimento e compromisso cristão. Outra característica dos apns é a sua atuação nos diversos setores da sociedade o que sugere o diálogo ecumênico e com outras entidades da sociedade civil que tem um compromisso com o povo negro em geral. Há 25 anos, buscam fortalecer a organização, conscientização e valorização das populações negras. No início eram leigos/as, religiosos/as, presbíteros juntos. A medida que os Apns, sentiram, como os outros grupos que faziam parte do Grupo União e Consciência Negra, sentiram a necessidade de momentos específicos, de reflexão, de encontro, de convivência, de projetos e de parcerias.
A relação doa Apns com a PAB, e vise-versa, é que esta, é uma instância de articulação e é um espírito que deve penetrar em todos os lugares onde têm afro-brasileiros, através da prática evangelizadora desse grupo. “A PAB surgiu depois de um longo processo de conscientização e atuação de gerações de negros/as que assumem viver sua fé na Igreja, mas levando em conta a realidade da população afro-brasileira” (Documento 85, CNBB, Brasília, 2003, nos. 1, 60, págs 11e 38).
Os Apns nasceram na Igreja e estão articulados a PAB, fazendo parte, desde o início, do Grupo de Reflexão Teológica, juntamente com outros grupos. Participam ativamente nos Encontros das Entidades Negras Católicas (CONENC), organizado pela PAB. Há uma relação positiva, fraterna e de parceria. Tem sido, há muitos anos, um parceiro fundamental na formulação de políticas que garantam o direito humano, inclusive o direito à alimentação adequada, além de atividades, com o objetivo de reduzir as desigualdades sociais e raciais.
Atualmente os Apns tem uma coordenação em nível nacional. Nos estados e regionais também existem organizações que buscam assumir a mesma perspectiva de ação evangelizadora através da experiência cultural africana. Respondem aos compromissos das dioceses e regionais. Aqui se inserem também aqueles negros e negros que fazem parte das Irmandades, confrarias, congados, formas específicas de viver a fé católica.
Além de augurarmos êxitos, crescimento e compromisso neste jubileu dos Apns, desejamos que continuem sendo, entre nós, um processo de aprendizado, de ações coordenadas e interativas, aprendermos a negociar nossas idéias e ações de uma maneira mais harmônica e conjunta, trabalhando a união e as diferenças numa mesma mesa; estarmos juntos nas grandes lutas do nosso povo para a implementação e fiscalização da Lei 10.639, o sistema de cotas, buscarmos com as juventudes negras o seu espaço de protagonismo, a aprovação do Estatuto da Igualdade racial, acompanhar a Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial e à Fundação Palmares. Se não houver cumplicidade entre as entidades negras, não vamos aprender a trabalhar coletivamente. Juntos podemos ter mais ousadia, além da indignação. Estamos num ano eleitoral: vamos trabalhar juntos para candidaturas e plataformas partidárias compromissadas. Como celebrar os 120 anos da chamada Abolição?
Parabéns! Vamos somar esforços na direção de objetivos comuns, mesmo se houver uma sadia tensão democrática, como expressão do pluralismo afro.