Pressionados pelo amor de Cristo 

Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO) 

 

Ressuscitados em Cristo nós não devemos nada mais a ninguém. Nem a lei, aos países, nem uns aos outros, todos somos devedores dEle. 

Ainda assim, nós, os católicos, continuamos nos importando com tudo. Não porque somos devedores, mas porque desejamos imitá-lo de maneira exata. 

Quando ainda éramos devedores, de uma dívida impagável para com Deus, Ele nos justificou e nos elevou da condição de escravos para a condição de filhos.  

Somos contorcidos por esta realidade. Cristo que sucumbiu as perversidades deste mundo não se deixou vencer no amor. 

Essa ideia é forte entre nós: deixamo-nos vencer em tudo, exceto no amor. 

O amor tem vários nomes, mas o mais belo de todos é serviço. Essa palavra não pode ser usada por aqueles que não estão dispostos a morrer de amor pelo próximo.  

Jesus, andando pelo mundo amou tudo que o mundo rejeitava. Amou os leprosos, os cobradores de impostos, as prostituas, os estrangeiros. Amou não somente o outro, mas o outro mais outro. 

O outro mais outro é aquele que nem aparece em nosso horizonte. Nem mesmo sabemos de sua existência. 

Assim, um judeu ama outro judeu, o conterrâneo ama o outro, e até os pecadores se amam entre si, mas entre nós é diferente, porque o próprio Mestre disse, se assim o fizerdes qual é a sua diferença com o mundo. 

Ele amou até a Saulo, aquele que nos perseguia. Apareceu a ele e ele se converteu. 

Por isso Saulo disse mais tarde: “O amor de Cristo nos pressiona” (2Cor 5,14). 

De fato, o amor de Cristo nos pressiona. Diante dele somos desafiados a buscar nem que seja a sua sombra. Tocá-lo de leve e propagarmos o seu calor pelo mundo frio e desolado. 

A vida deve ser contorcida e as palavras forjadas nesse calor que tudo liquefaz. O amor derrete até as profundezas da essência humana, esmagando-a com uma gravidade de mil sois, até fazê-lo transpassar tudo que é pesado e que nos impede chegar perto de Deus. 

A prensa do amor de Cristo nos transfigura em outra coisa. Uma coisa outra que não é deste mundo, embora neste munda viva. Essa coisa prensada brilha como farol nos dias de tempestade e, por mais de dois mil anos, encandece o céu e apruma olhares para o que é belo e bom. 

O amor é um peso divino nos ombros humanos. Colocada de propósito por Aquele que nos amou primeiro, para que pudéssemos experimentar Deus nesta vida. 

Assim, vivendo sob essa prensa, e suportando-a além das humanas forças, chega-se o dia em que o católico grita: “Eu vivo, mas não eu, é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). 

Vivendo deste outro modo, já não sabemos bem o que dizer, nem fazer. Já não se trata mais de fazer, mas de ser. Ser como Cristo é se importar apenas com a vinda do Reino e por esse Reino tudo arriscar. Não é uma aposta retórica, porque, Aquele que nos amou primeiro entregou tudo. Desvestiu-se de sua condição divina, habitou no meio de nós e, como se ainda fosse pouco, entregou a própria vida. Por essa razão, nós os católicos, seguidores dEle, somos imensamente pressionados pelo seu exemplo e amor, e, ainda assim, suportamos esse peso com uma felicidade sem fim. 

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